Uma ameaça invisível, o impacte sonoro nos animais

Um estudo da revista Biology letters alerta para a sensibilidade de diferentes espécies ao ruído resultante da atividade humana.

Um estudo publicado na Biology Letters, intitulado “The effects of anthropogenic noise on animals: a meta-analysis”, lançou o alerta que os animais são gravemente afetados pela poluição sonora e, para os autores, poderá mesmo pôr em causa a continuidade de algumas espécies tendo, consequentemente, graves impactes nos ecossistemas.

A poluição sonora aparenta ter inúmeras consequências e este estudo académico vem trazer conclusões alarmantes . Nos animais marinhos, os sons provocados pelo tráfego marítimo, pela exploração de petróleo, pelos sonares militares, entre outros, afetam a caça de animais que dependem dos sons e das vibrações para seguir a sua presa, afetam a comunicação e envolvem problemas de alimentação. Assim como nos animais terrestres, afeta também no acasalamento, comprometendo a continuidade das espécies. Um exemplo são as rãs, que usam o sentido auditivo e vocal para o acasalamento. 

Outro caso são as tartarugas marinhas, que podem sofrer de perda de audição temporária, devido à poluição sonora nos oceanos. Estes seres usam a audição como meio de navegação e de localização dos seus predadores, segundo descobertas que fizeram parte de um estudo liderado pela Woods Hole Oceanographic Institution, intitulado de  Study finds that turtles are among animals vulnerable to hearing loss”.

Quando as aves são expostas a ambientes ruidosos, fora do seu habitat natural, têm tendência a mudar o seu comportamento natural. Segundo Alice Veiros, educadora ambiental do jardim Zoológico de Lisboa, “algumas aves são também obrigadas a alterar a sua frequência de canto para serem ouvidas por outros animais e também a mudar a frequência em que cantam, adaptando-se aos momentos com menos ruído”. Tendo isto em conta,  as instituições encarregues do tratamento destes seres tomam medidas com o objetivo de mitigar as consequências do excesso de ruído provocado pela atividade humana. A Educadora Ambiental explicou que “os animais estão estrategicamente colocados e separados” e que “há inclusive casos de primatas que são colocados no meio das aves com o objetivo de amenizar os efeitos desta poluição”. Outra medida tomada por estas entidades é a construção de cascatas também estrategicamente colocadas, de maneira que o som seja, em parte, abafado.

O estudo alerta que este é um problema crescente a nível global por estar conjugado com os efeitos do aquecimento global, que estão a ampliar a pressão nas espécies aquáticas. Aponta para a mitigação dos efeitos desta poluição usando a vegetação como barreira natural, mas no caso dos seres aquáticos, há mais dificuldades em encontrar soluções.  A preocupação das Nações Unidas levou a pedir aos governos para reservarem 30% das áreas terrestres e marítimas do mundo para a preservação da biodiversidade. A criação destas áreas protegidas, pretende salvaguardar os seres vivos dos efeitos da atividade humana e, desta forma, criar áreas em que as consequências do ruído e de outros tipos de problemas sejam significativamente anulados.

Francisca Teixeira e Melo De Vicente Ribeiro