Um Perigo Verde

Com o crescente desenvolvimento tecnológico e industrial, as últimas décadas trouxeram um crescimento das estruturas nas cidades europeias. Conjugar o urbanismo nos espaços citadinos com a natureza é um desafio crescente que exige cada vez mais intervenção e inovação nos tempos atuais. A substituição de espaços verdes por infraestruturas é um erro muito frequente que traz consequências a curto e longo prazo, uma vez que a vegetação nas cidades é essencial para a sustentabilidade das mesmas.

Avenida 25 de abril, Vila Nova de Famalicão

Apesar da grande presença da indústria no concelho famalicense, o centro da cidade conserva uma presença bastante significativa de espaços verdes e de vegetação nas suas ruas. Esta forte presença da natureza na vida dos famalicenses leva a um investimento pelo município de 6,8% das despesas totais para o ambiente, o que representa um bom investimento na qualidade do ar e de vida no centro da cidade.

Árvores de grande Porte: um inimigo das cidades?

A presença de árvores de grande porte nos espaços citadinos contribui não só para a diminuição do dióxido de carbono atmosférico, mas também para o abrigo de espécies essenciais para a manutenção da biodiversidade. Apesar dos seus múltiplos benefícios para a natureza, estes seres vivos (pelas suas grandes dimensões) cobrem alguns candeeiros, sinais de trânsito e passadeiras.

Este aspeto retira alguma visibilidade à via. Questões como a reduzida iluminação, falta de visibilidade da via e de sinais de trânsito aumentam o risco de acidentes de viação e, mais importante, aumentam o perigo de atropelamento- algo muito frequente nos centros agitados das cidades.Desde há vários anos que o número de atropelamentos tendo vindo a subir nas cidades portuguesas. A maior afluência de turistas, de trabalhadores e comerciantes nestes locais torna o tráfego de peões e automóveis cada vez maior, o que pode justificar um aumento ligeiro/ moderado da ocorrência anual destes acidentes. Contudo, em território famalicense estes números têm vindo a subir a um ritmo acelerado: o número de peões atropelados por ano subiu cerca de 55% desde 2016 até aos dados mais atuais.

Candeeiro coberto por folhagem nas ruas de Vila Nova de Famalicão

Noutros concelhos do país com densidades populacionais idênticas, estes números demonstraram-se significativamente inferiores ao da cidade minhota. Antes que sejam tomadas quaisquer medidas que atenuem a ocorrência destes incidentes, é necessária uma cuidada análise das razões que produzem este fenómeno. Posteriormente a este estudo, algumas ações a aplicar pelos organismos famalicenses podem ser, por exemplo, a colocação de sinais de trânsito luminosos (especialmente perto de passadeiras), podas mais regulares e, apenas em última instância, o corte pontual de árvores.

Como tal, é evidente que esta questão necessita de um particular cuidado, não só por parte das autoridades competentes para tal efeito, mas também pela parte dos condutores. É importante referir que estas ações devem ter como objetivo melhorar a visibilidade rodoviária citadina de forma a maximizar o perigo de atropelamento, sendo sempre fulcral a manutenção de espaços verdes e da biodiversidade. Desta forma, os famalicenses poderão usufruir de uma melhor qualidade de vida, vivendo em maior harmonia com a natureza.