Guimarães cria tijolos a partir de beatas de cigarros

O que fazer às 7.000 pontas cigarros que se produzem em cada minuto em Portugal? Guimarães apresentou uma proposta inovadora de usar este resíduo na produção de tijolos.

Atualmente há uma pergunta na cabeça de muitos cidadãos: o que fazer às 7000 pontas cigarros que se produzem em cada minuto em Portugal? Colocá-las no lixo? Em aterros? O Laboratório da Paisagem, o Centro para a Valorização de Resíduos (CVR), o Instituto da Soldadura e Qualidade (ISQ) e a Câmara Municipal de Guimarães apresentaram os primeiros protótipos de tijolos feitos com beatas de cigarro.

O projeto E-Tijolo venceu o concurso de ideias do MAIS Tec do Laboratório de Ideias, programa de aceleração de ideias de negócio que apoia o seu desenvolvimento e o seu potencial de mercado, numa perspetiva socioeconómica. Este concurso destinou-se a todos os alunos, diplomados, docentes e investigadores do ensino superior.

“O tijolo ainda não foi aplicado em sítio nenhum,  nós neste momento estamos na fase inicial de tentar perceber qual é a percentagem ótima de incorporação de pontas de cigarro no tijolo para que ele não perca as suas propriedades mecânicas” explica André Mota, evidenciando o estudo e investigação que ainda é preciso realizar-se para se confirmar que o produto é viável. Portanto é necessário realizar mais testes a nível industrial, para garantir que uma produção em larga escala não traga problemas ambientais, como por exemplo, as emissões gasosas na cozedura dos tijolos. Para além disso, também é preciso testar a toxicidade nos tijolos, já que a sua matéria prima é muito poluente devido aos seus composto tóxicos. Estes testes fazem parte do processo de investigação, para se poder provar se realmente os E-tijolos são ou não nocivos para o ambiente. Procura-se criar um tijolo “sem o dano ambiental maior do que já existe”, reforça Margarida Soares.

O Centro para a Valorização de Resíduos (CVR) desenvolveu  os primeiros protótipos de E-tijolos, nos quais pretende incorporar pontas de cigarros na sua constituição, resultando  num produto mais leve, com melhores propriedades de isolamento térmico e que pode reduzir o consumo de energia necessária para a sua produção. Foi neste sentido, que André Mota e Margarida Soares, engenheiros biológicos do departamento de  investigação e desenvolvimento tecnológico (I&DT), promovido pelo ISQ, apresentaram o e-tijolo, um projeto que venceu o concurso de ideias do MAIS Tec do Laboratório de Ideias, propondo integrar as pontas de cigarros recolhidas pelos Eco-Pontas em elementos cerâmicos, nomeadamente tijolos cerâmicos. Esta proposta está sustentada por diversos investigadores que  comprovam que a composição das beatas de cigarro apresenta diferentes vantagens na incorporação nos tijolos.

Margarida Soares e André Mota, engenheiros biológicos do departamento I&DT, a segurar respetivamente o E-tijolo e o vaso feito de pontas de cigarro e chicletes//DIOGO MARTINS

“O projeto nasceu antes do E-tijolo, primeiro como iniciativa do Laboratório de Paisagem, que foi  retirar do centro histórico de Guimarães as pontas de cigarros e chicletes do chão” referiu André Mota, engenheiro biológico do departamento de investigação e desenvolvimento tecnológico do CVR.

O E-Tijolo chegou ao centro de valorização de resíduos via Laboratório da Paisagem, pois o mesmo já tinha desenvolvido o projeto Eco-Pontas, que funcionam como fonte de obtenção  das pontas de cigarro. Estas duas estruturas estão espalhadas pelo centro histórico de Guimarães e por outros pontos do país e têm como objetivo recolher pontas de cigarros e também chicletes, evitando que estes resíduos continuem nos espaços públicos.   

A incorporação de pontas de cigarro no fabrico de tijolos e também em cerâmicas foi uma ideia pioneira. O protótipo do E-tijolo apresentado, um tijolo produzido com 350 beatas, que corresponde à incorporação de um total de 5% deste resíduo na totalidade do material do tijolo, um número pequeno em relação à média de 2220 toneladas de beatas produzidas por ano. Esta enorme quantidade de pontas de cigarros vai parar a aterros sanitários ou são deitadas para o chão, libertando cerca de 4700 substâncias e acabam por se transformar em microplásticos que rapidamente chegam à cadeia alimentar. Observando então toda esta problemática surgiu uma pergunta na cabeça de muitos cidadãos: o que fazer às 7000 pontas de cigarros que se produzem em cada hora em Portugal?…Colocá-las no lixo?…Em aterros? É neste sentido, como  resposta a esta pergunta, que foi projetado o E-tijolo. “O papel deste projeto é importante para a sustentabilidade no sentido em que nós conseguimos aproveitar um resíduo e incorporá-lo num material que pode ter uma utilidade e uma segunda vida.”, afirmou André Mota, engenheiro biológico e investigador no departamento de I&DT no CVR.

O E-tijolo, estrutura feita com pontas de cigarro, respetivamente 5% da sua constituição//DIOGO MARTINS

“O tijolo ainda não foi aplicado em sítio nenhum,  nós neste momento estamos na fase inicial de tentar perceber qual é a percentagem ótima de incorporação de pontas de cigarro no tijolo para que ele não perca as suas propriedades mecânicas” explica André Mota, evidenciando o estudo e investigação que ainda é preciso realizar-se para se confirmar que o produto é viável. Portanto é necessário realizar mais testes a nível industrial, para garantir que uma produção em larga escala não traga problemas ambientais, como por exemplo, as emissões gasosas na cozedura dos tijolos. Para além disso, também é preciso testar a toxicidade nos tijolos, já que a sua matéria prima é muito poluente devido aos seus composto tóxicos. Estes testes fazem parte do processo de investigação, para se poder provar se realmente os E-tijolos são ou não nocivos para o ambiente. Procura-se criar um tijolo “sem o dano ambiental maior do que já existe”, reforça Margarida Soares.

Máquina que se encontra no CVR, para realizar o teste de resistência do tijolo//DIOGO MARTINS

Os investigadores apresentam a convicção de que a introdução das beatas na composição dos tijolos pode permitir reduzir o consumo de energia necessário para a sua cozedura, bem como ser uma solução para valorização deste resíduo. A composição de material, que é utilizado na produção dos filtros de cigarro, tem características que permite reduzir os gastos energéticos para a produção dos tijolos, o que desperta a curiosidade da indústria da cerâmica.

Máquina que serviu para a cozedura dos protótipos, com aquecimento progressivo até aos 1000º //DIOGO MARTINS

André Mota reforça que “ainda estamos a dar os primeiros passos”, a possibilidade do seu uso está a ser estudada em todas as dimensões, à espera de ser comprovada cientificamente, com uma especial atenção para manter as propriedades mecânicas esperadas para a construção civil e que seja seguro ambientalmente.

André Mota refere “o nosso objetivo é que a pontas de cigarro sejam como uma matéria prima normal, tal como a argila” e o passo seguinte é  “criar uma metodologia” de construção dos tijolos, com “1%, 2%, 3% ou 5% de pontas de cigarros, mas que possa ser padronizada para a indústria” remata Margarida Soares.

Em Portugal, todos os anos, uma enorme quantidade de beatas de cigarros vai parar a aterros sanitários ou é deitada para o chão, libertando cerca de 4700 substâncias nocivas, e outra parte acaba por se transformar em microplásticos que rapidamente chegam à cadeia alimentar. Este resíduo urbano, como refere o artigo de 2011 da “Tobacco Control, Toxicity of cigarette butts, and their chemical components, to marine and freshwater fish”, tem uma elevada toxicidade, que afeta os peixes de água doce e salgada e consequentemente  todos os seres vivos destes habitats acabando por ter impacto nas cadeias alimentares.