Será que, daqui a uns anos, em Trás-os-Montes onde temos castanheiros poderemos ter oliveiras?

A cultura da castanha está a sofrer alterações graves de que o castanheiro é um testemunho natural, devido ao aquecimento global e às alterações climáticas das últimas décadas.

A região nordeste transmontana, terra entre Chaves e Vinhais, terra da minha mãe e dos meus avós maternos, considerada a zona da Terra Fria de Trás-os-Montes é responsável pela maior cultura de castanhas do país.
Para além da produção da castanha que movimenta milhões de euros na zona Transmontana, o castanheiro também é uma referência paisagística da região com vastos soutos atrativos para novos investidores. Mas esta cultura que já foi chamada de “o ouro” de Trás-os-Montes, dado que a castanha é o produto agrícola mais rentável, está a sofrer alterações graves de que o castanheiro é testemunho natural, devido ao aquecimento global e às alterações climáticas das últimas décadas.
De facto, para o Sr. Abel Pereira, presidente da associação de produtores florestais ARBOREA, que se dedica ao estudo desta cultura, “o castanheiro é um grande indicador de que as coisas estão a mudar, com as temperaturas a subir e a precipitação média anual a descer.”
Segundo o presidente: “os dados estatísticos indicam que há 20 anos Trás-os-Montes tinha 900 milímetros de precipitação anual, enquanto hoje tem 700.” Ainda segundo Abel Pereira estes fatores originam, aquilo que “toda a gente, se calhar teme”, ou seja “onde temos castanheiro, provavelmente daqui a 40 anos teremos oliveiras”, exemplificou comparando a cultura do castanheiro, associada à Terra Fria Transmontana, com a cultura da oliveira típica da chamada Terra Quente, mais a sul do
distrito de Bragança.

No entanto, para além do clima, a produção da castanha enfrenta outras ameaças como as doenças da tinta, cancro e a vespa das galhas do castanheiro.
O Sr. João Gil, com 72 anos, natural de Fiães, concelho de Valpaços que, depois de vários anos a viver em Lisboa, regressou à terra para cuidar dos seus castanheiros que herdou dos seus sogros, que por sua vez herdaram de seus
pais e avós, confessou-nos este infortúnio das doenças que estão a atacar os castanheiros da sua aldeia.

Castanheiro em Fiães do Sr. João Gil, com mais de 200 anos
Fig1: Castanheiro em Fiães do Sr. João Gil, com mais de 200 anos

O Sr, João Gil explora castanheiros com mais de 200 anos que ainda produzem saborosas castanhas. Contudo, queixa-se que tem plantado muitos e muitos castanheiros para ir substituindo os antigos, mas não tem tido sorte, principalmente pelo “bicho”, como ele diz, que destrói todos os castanheiros.
O Sr. João confessou-nos igualmente e com alguma tristeza que: “se não fossem os castanheiros que herdei já não apanharia castanhas. E também vos digo que já não tenho
todos os castanheiros que herdei, pois a esses também já lhe caiu o “mal.””

A Câmara de Vinhais e a associação ARBOREA realizaram pesquisas às plantações para perceber as consequências destas pragas e como travá-las. Mas segundo o presidente da
ARBOREA “são necessários mais estudos sobre o setor e troca de conhecimento entre investigadores e produtores” para se tirarem conclusões. O presidente Abel Pereira alertou que “não há alternativa agronómica ao castanheiro”
nesta zona de Trás-os-Montes. E afirmou que “se deixarmos de ter castanheiro passaremos a ter áreas desertas”.