SARS-CoV-2: Desinfetar as ruas, infetar o ambiente?

Atualmente muitos municípios estão a optar pela desinfeção das ruas para a prevenção da doença “SARS-CoV-2”, medida que não é obrigatória e que causa muito debate e polémica. Segundo a Diretora Geral de Saúde (DGS), “Não há nenhuma evidência científica que sejam eficazes” e que, portanto “não é uma medida que se recomende”. Mas quais podem ser os impactos ambientais?

Atuação da JF de Gualtar na desinfeção das ruas.

Pelas vias principais de Gualtar circula um trator que transporta um desinfetante que é pulverizado, para combater o novo inimigo global. Por contacto telefónico, o presidente da junta de freguesia de Gualtar, João Vieira,  informa que o método de desinfeção foi aplicado “nos sítios onde as pessoas têm mais contactos, como nas zonas pedonais, paragens de autocarros, contentores de lixo e superfícies comerciais”. Esta desinfeção foi  realizada a  partir de veículo  com pulverizadores que contém solução à base de hipoclorito de sódio, uma substância presente da lixívia, e água, com 2% de diluição.

Algo que pode não estar a ser tomado em consideração, é que desinfetar ruas com este produto pode ter um custo ambiental, pois este, por exemplo, a partir  do escoamento das águas pluviais chega a rios, aquíferos, lagos e oceanos. Nos locais onde é aplicado, pode entrar em contacto com minerais, podendo desenvolver toxinas perigosas designadas por poluentes orgânicos  persistentes, tendo em conta a sua difícil degradação. Estas substâncias tóxicas são ameaça acrescida para animais aquáticos, podendo comprometer a vida dos organismos e as suas cadeias alimentares.

Hipoclorito de sódio a ser usado

Utilização de hipoclorito de sódio na desinfeção das ruas.

Graça Freitas, diretora da DGS afirma que a utilização deste produto não é eficaz, mas é uma iniciativa recomendada e validada pelas autoridades locais de saúde por isso continua a ser opção de muitas autarquias locais.

João Vieira ainda informa que na freguesia de Gualtar mais de 600 litros desta solução saiu dos pulverizadores, acrescentando que “Tranquiliza as pessoas e dá-lhes a certeza de que estão ser acompanhadas e estamos a fazer de tudo para evitar a contaminação das pessoas”. Neste combate à SARS-CoV-2 é relevante que o poder local está a usar todas as formas para proteger as suas populações, mas há custos ambientais que advém deste esforço.

 

Fontes:

DN/Lusa (25/03/2020). DGS diz que desinfeção das ruas não tem efeitos na contenção do contágio. [Consultado em 28/03/2020]. Disponível em: https://www.dn.pt/pais/dgs-diz-que-desinfecao-das-ruas-nao-tem-efeitos-na-contencao-do-contagio-11984476.html

Sociedade Portuense de Drogas, S.A. (19/10/2015). Ficha de dados de segurança (reach).  [Acedido em 28/03/2020]. Disponível em: http://www.grupohidromar.com.br/wp-content/themes/hidromar/download/FISPQ-Hipoclorito-de-sodio.pdf

Solvay Indupa. (11/02/2020). Ficha de Informações de Segurança de Produto Químico – FISPQ. [Acedido em 28/03/2020]. https://www.solvayindupa.com/en/binaries/Technical_Bulletin_FISPQ_Hipoclorito_de_Sodio_PT-232548.pdf

SIC Notícias,  (23/03/2020). Municípios usam água com cloro para desinfetar as ruas. [Acedido em 29/03/2020]. Disponível em:

https://sicnoticias.pt/especiais/coronavirus/2020-03-23-Municipios-usam-agua-com-cloro-para-desinfetar-as-ruas

Luís Martins