Rock in Rio: o percurso dos resíduos

Na nona edição do Rock in Rio, foram implementadas novas medidas de redução e reutilização de resíduos, desde a montagem dos palcos e stands até à distribuição de brindes. A aposta em estruturas e materiais mais sustentáveis é grande, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

Nesta edição, foram diversas as medidas implementadas para fazer cumprir o Plano de Sustentabilidade do RiR, que prevê em todas as suas edições, a implementação de medidas de redução, reutilização e reciclagem de resíduos, bem como a realização de um inventário das emissões de dióxido de carbono. A proibição da utilização de sacos de plástico, de embalagens primárias, de materiais descartáveis e a distribuição de folhetos, são algumas das principais medidas implementadas, e que visam contribuir para atingir as metas estabelecidas no Plano, ou seja, uma redução em 10% na geração de resíduos dentro da Cidade do Rock. Desde a reutilização à separação e reciclagem, são dezenas as medidas este ano adotadas, contudo, ainda há muito trabalho a fazer no sentido de reduzir os resíduos produzidos. 

A política de uso de copos reutilizáveis

A organização do festival adota desde 2018 a política de utilização de copo único, ou seja, mediante a compra de uma bebida, os festivaleiros têm a possibilidade de comprar um copo por um euro, que é utilizado para o consumo de qualquer bebida comprada dentro do recinto. Ainda que não possa ser utilizado um copo adquirido noutro festival de música, o que acaba por subverter a política de uso de copos reutilizáveis, a organização permite que os festivaleiros utilizem o copo da edição anterior no ano seguinte. 

Mas os copos reutilizáveis são mesmo mais ecológicos do que os descartáveis?

Por um lado, são mais pesados e durante a sua produção e transporte podem consumir mais recursos do que os de uso único, mas por outro, são produzidos através de plástico 100% reciclado e são mais resistentes e duráveis, podendo ser utilizados repetidas vezes. Desde que a organização começou a promover a utilização de copos reutilizáveis, os resíduos encontrados no chão diminuíram substancialmente face às edições anteriores.

A oferta de brindes

Nesta edição, a organização do festival tem tido o cuidado de evitar a distribuição de brindes descartáveis e com pouca utilidade, privilegiando os que são feitos com materiais reciclados e/ou recicláveis, como é o exemplo dos funis da marca fula para reciclagem de óleos alimentares. Contudo, o seu transporte e acondicionamento nem sempre é feito da melhor forma.

Exemplo de Brinde distribuído pela Fula

Enquanto que algumas instituições presentes no festival transportam os brindes para a Cidade do Rock em caixas de papelão e numa embalagem única, como é o caso da Herbal Essences, outras como a Fula, distribuem sacos e o empacotamento é feito em embalagens plásticas de utilização individual. 

O mesmo acontece com a Telepizza. Este ano a empresa desenvolveu uma folha anti-gordurante com o objetivo de evitar que a gordura do alimento passe para a caixa, para que esta possa ser reciclada. A medida, aplicada apenas a pizzas inteiras, não foi concretizada com sucesso, visto que a folha disponibilizada é demasiado pequena para a dimensão da pizza, o que acaba por inviabilizar a colocação do cartão utilizado no ecoponto azul.

A separação dos resíduos

A organização do festival promove, há várias edições, a separação de resíduos através da disponibilização de ecopontos por todo o recinto, sobretudo na proximidade das áreas de restauração. Segundo Roberta Medina, vice-presidente executiva do festival “A partir de 2008, iniciou-se o projeto de reutilização de resíduos, através da utilização de contentores para a sua repartição”.

“Mochileiros SPV” equipados com ecopontos móveis

Nesta nona edição, são centenas os ecopontos espalhados por todo o recinto, sobretudo recipientes para lixo indiferenciado e embalagens. Os ecopontos azuis, para deposição de embalagens de papel e cartão, estão presentes em muito menos quantidade, ainda que sejam um dos ecopontos disponibilizados pela Sociedade Ponto Verde (SPV).

Tal como em edições anteriores, também este ano estão presentes no recinto “mochileiros SPV”, equipados com ecopontos móveis com o objetivo de facilitar a recolha de embalagens e esclarecer as dúvidas sobre as regras da correta separação de resíduos. Por forma a manter o recinto o mais limpo possível, a organização do festival recolhe o lixo regularmente recorrendo a carros elétricos com o apoio da Hyundai, um dos patrocinadores do festival.

A reutilização e reaproveitamento

O palco mundo do Rock in Rio e sua estrutura reciclável

Roberta Medina, responsável pela organização do Rock in Rio Lisboa, reforça que são adotadas medidas que visam não só a redução da geração de resíduos na construção dos espaços existentes no recinto, mas também a reutilização de estruturas e materiais. Este ano, o palco mundo é feito em aço com uma estrutura reutilizada e 100% reciclável.

Também as estruturas e elementos decorativos dos stands, assim como o material usado no nivelamento dos pisos em palcos é aproveitado das edições anteriores do festival. Para além das estruturas, existe ainda a preocupação em reutilizar relva sintética. A partir deste ano, a relva utilizada é lavada e reutilizada em outros eventos.

De acordo com Roberta, “o boom festival é uma das primeiras entidades a entrar no recinto e a reutilizar material usados no RiR “. Caso não seja possível a reutilização, os materiais são doados a entidades ou organizações sem fins lucrativos, evitando assim o seu abandono. “ (…) Nos primeiros dias de desmontagem do festival, são as várias entidades que vêm aqui ver os materiais úteis”, refere.

Ana Correia, Francisca Ribeiro, Filipe Correia, Mariana Garanhão, Luís Martins