Recifes artificiais, um oceano de oportunidades

A start-up The Reef Company vai zarpar na zona marítima portuguesa com o projeto de eco-recife, denominado Basic Wave. O objetivo do projeto é regenerar os ecossistemas marinhos, recolher dados e absorver carbono. Martim Clara, co-fundador da The Reef Company, afirma que a missão da empresa é "combater as alterações climáticas e, o que muita gente não sabe é o potencial que os oceanos têm para o fazer."

É mergulhando no potencial dos oceanos que a startup criada por Jeroen Van de Wall se desenvolve e expõe uma problemática que, embora silenciosa, é preocupante. O jovem empreendedor e co-fundador, Martim Clara, explica que “neste momento, 50% dos recifes já foram destruídos e prevê-se que em 2050, 90% dos mesmos terão desaparecido”. Com o olhar centrado nesta problemática, Martim menciona que “a oferta que a The Reef Company faz é o desenvolvimento de uma infraestrutura tecnológica à volta de ativos físicos e dados subaquáticos”. Este sistema de recifes inteligentes desenvolvido pela startup promove a regeneração dos ecossistemas marinhos e o aumento da biodiversidade na área. Para além disso, o projeto também visa recolher dados sobre o funcionamento dos ecossistemas marinhos. Explica ainda que chamam à plataforma onde os dados são armazenados de “Bluoxx”, que, no fundo, são um conjunto de sensores ligados por IoT (Internet of Things – Internet das coisas) que “estão a comunicar com a cloud, enviando, recolhendo e analisando dados”.

A startup, lançada na conferência das Nações Unidas para os oceanos, em junho de 2022, pretende que esta infraestrutura “multifacetada” possa representar um investimento em prol de uma redução e compensação da pegada carbónica, por exemplo, de empresas. Segundo Martim, “a solução da Reef Company  pode ser uma solução de investimento circular”. Num dos projetos pilotos, que está a ser levado a cabo na freguesia da Comporta, em Alcácer do Sal, a empresa terá acesso a 10 mil m² e, segundo Martim, já há objetivos para essa área, pois pretende “monitorizar estes 10 mil m², a única área onde poderemos colocar aparelhos para a recolha de dados, mas é certo que estes recifes vão ter um impacto para além dessa área, porque a flora e a fauna vão se desenvolver e disseminar.”

Modelo do recife inteligente criado pela The Reef Company.

O  projeto também ambiciona absorver carbono da atmosfera e contribuir para a redução das emissões de gases com efeito de estufa. Quanto a isso, Martim afirma que ainda “não vemos o potencial que existe nos oceanos para a regeneração destes ecossistemas e absorver carbono para o fundo do oceano”.  Assim, pretende-se que os recifes artificiais, desenvolvidos pela The Reef Company, “regenerem o ecossistema e tragam de volta a biodiversidade, a flora e a fauna marinha que precisamos para viver”.

Do ponto de vista da produção dos módulos recifais, ainda se pretende “testar vários métodos de produção e vários materiais para perceber qual deles atrai melhor a flora e a fauna e que efeitos é que têm para o ambiente” tendo em conta as “características destes em cada ecossistema”. A The Reef Company quer apostar em matérias-primas locais e com menor pegada carbónica. Alerta que o uso do betão “é super poluente em termos de carbono, portanto não o queremos usar.”

Martim Clara partilha que para além de procurar um impacto direto nos ecossistemas, há outro objetivo, a recolha de dados. Martim Clara começa por contar, “Não existe um conhecimento a nível global de informações dos ecossistemas marinhos. Existem vários institutos dispersos ao longo do mundo, em que cada um recolhe dados locais, mas não há uma integração global.” Assim, nasce um segundo componente do recife artificial, a Bluoxx. Este será um conjunto de várias tecnologias, como, por exemplo, câmaras ou uma série de sensores, conectados por IoT, tecnologias interligadas entre si pela internet, permitindo um controlo remoto destas tecnologias e na transmissão de dados recolhidos.  Estes dados pretendem servir diversos fins, tal como para a agricultura, turismo, governos, meteorologia e até mesmo para o lazer. Para além disso irão evidenciar os efeitos criados no ecossistema, e para o co-fundador “mostrar à sociedade o impacto que estes recifes têm e a impacto dos mesmos no nosso quotidiano”

Com esta ideia em mãos pretendem iniciar alguns projetos pilotos em território lusitano e daqui crescer, vendo Portugal “como as portas para o mundo, tal como nos descobrimentos”, remata Martim. Segundo ele, “Portugal tem um território marinho enorme e o governo, entidades locais e os centros de investigação, estão predispostos a investir, existindo incentivos fiscais para a economia azul.” No entanto, apesar da startup já ter mergulhado pelo “mar adentro”, encontram algumas dificuldades, como Martim explica, “neste momento, existe dificuldade de financiamento para a economia azul e para os oceanos”,  alertando que para objetivo 14, “life below water”,  dos objetivos para o desenvolvimento sustentável, só estão alocados 0,01% do financiamento previsto para a  totalidade dos objetivos”.

Apesar das dificuldades desta recente empresa, Martim partilha a ambiciosa projeção “de tentar colocar 2500 recifes na água a nível mundial” de forma a  ter um  “impacto significativo no combate às alterações climáticas e preservação dos ecossistemas marítimos”. Com a colocação de recifes numa área de 50 km² acreditam “que pode realmente impactar as alterações climáticas em termos de [captura] de carbono e em termos do capital natural, regenerando flora e fauna marinha”.  Martim Clara aponta os oceanos como uma esperança e fascinante oportunidade submersa.

Diogo Martins