Os Impactos dos Nossos Carris

Para transportar 1300 pessoas é necessário um comboio, 26 autocarros ou 812 automóveis. Para transportar 50 000 pessoas, por hora e direção, são necessários 175 metros de largura de estrada para os automóveis, 35 metros de largura de estrada para os autocarros, ou uma via ferroviária, com 9 metros de largura. Que impactos ambientais têm estes números?
Linha de Sintra, Comboios de Portugal

Linha de Sintra, Comboios de Portugal

Muitos são os Portugueses que se deslocam, diariamente, da periferia, para o centro das cidades. Muitas vezes estas viagens, curtas e recorrentes, podiam ser feitas de maneira mais eficiente. Para além do automóvel privado, os transportes públicos são uma opção. Além de mais económica, na maioria dos casos, confere liberdade de escolha e oportunidades a nível individual, gera empregos e permite reduzir os impactes ambientais.

Estima-se que os transportes públicos produzem menos 95% de monóxido de carbono (CO), menos 90% de compostos orgânicos voláteis (COVs), e cerca de metade de dióxido de carbono (CO2) e nitrogénio (NOx) (por passageiro transportado ao longo de 1,6km), do que os veículos privados.1

No centro de Lisboa são várias as opções de transporte, sendo as suas maiores exploradoras a Carris e a Comboios de Portugal (CP). É possível avaliar os consumos e rendimentos dos meios de transporte, que estas empresas exploram, tendo acesso a Relatórios de Sustentabilidade destas mesmas empresas.

O principal consumo de energia na CP prende-se com a produção de comboios, a qual é maioritariamente elétrica, sendo que os comboios com tração diesel, representam cerca de 17% da produção. A maioria do material circulante de tração elétrica permite regenerar energia, dado que a devolve à catenária, o sistema de distribuição e alimentação elétrica aérea, sempre que é executada uma frenagem, isto é a travagem.

Cerca de 49% da energia elétrica utilizada pela CP, provém de fontes de energia renováveis, maioritariamente de origem hídrica. As energias nuclear, e as provenientes da combustão do carvão e do gás natural representam 39% da energia elétrica consumida. Os restantes 12% provém da cogeração fóssil, processo que consiste no aproveitamento local do calor residual, originado nos processos de geração de energia elétrica.2

A Carris como grande consumidora de energia e combustíveis tem vindo a apostar na inovação e na procura de novas e mais sustentáveis, soluções de mobilidade. Acompanha o desenvolvimento de diversas alternativas futuras, tais como: uso de autocarros a célula de combustível (tração elétrica), autocarros elétricos a baterias, autocarros híbridos de nova geração e autocarros movidos a gás natural comprimido. Sendo que já possui veículos dos dois últimos tipos enunciados.

Em 2014 somaram um consumo total de 15 640 057 litros de gasóleo, o que representou uma redução média de 2%, face ao ano anterior. O consumo de energia elétrica, na tração e nas perdas, foi de 3 816 886 kWh, valor que também decresceu 4,1%, em comparação com 2013.3

Confrontando os consumos de papel, de 2013, das duas empresas de transportes, a CP consumiu mais 20 toneladas de papel do que a Carris. Tal pode dever-se ao facto da impressão de bilhetes, ou cartões de curta validade ser mais frequente na Comboios de Portugal. Este consumo envolve muito mais do que apenas um recurso, já que a produção de uma tonelada de papel requer o corte de 20 árvores, a utilização de 5000 kWh de energia e de 100 000 litros de água.

O consumo direto de água, da Carris é significativamente maior, perante o consumo do mesmo recurso na CP, sendo que a CP utiliza apenas água da rede pública e a Carris recorre, também, a captações subterrâneas.

A emissão de gases com efeito de estufa, em 2013, provenientes unicamente da atividade de transporte, são mais elevadas na CP, sendo que as emissões de Compostos Orgânicos Voláteis da Carris aproximaram-se das 13 toneladas, em 2014.

Apesar de poderem apresentar-se como uma boa alternativa ao automóvel privado, em termos ambientais, os consumos anteriormente referidos podem ainda ser drasticamente reduzidos. Assim, surgem programas como “Portugal 2020”, que, entre outras aspetos, visa implementar medidas que possam aumentar a eficiência e diversificação energética nos transportes públicos coletivos e promoção da utilização de transportes ecológicos e da mobilidade sustentável. A promoção de sistemas de transportes públicos coletivos de passageiros, com baixas emissões de carbono é crucial para a sustentabilidade na utilização de recursos, para o desenvolvimento económico e para a melhoria da qualidade de vida das populações.

Com um investimento inicial de 757 milhões de euros, tendo como prioridades o apoio à eficiência energética, gestão inteligente da energia, uso de energias renováveis e o fomento da produção e distribuição de energia proveniente de fontes renováveis, com o programa “Portugal 2020” pretende-se diminuir o consumo de energia primária, de transportes públicos, em 1,4%, até 2023.

Apesar das propostas de desenvolvimento a este nível, Portugal encontra-se ainda aquém da meta europeia de 10% de incorporação de energias renováveis, no setor dos transportes. Para a incorporação de energia renovável nos transportes contribuem hoje a utilização dos biocombustíveis e o uso de veículos elétricos. Além disso, a produção de resíduos é também preocupante. A Carris e a CP produziram, em 2013, mais de 2700 toneladas de resíduos tais como: óleos, embalagens, plásticos, veículos  em fim de vida e metais.

A rede de transportes públicos nacionais pode estar longe de diminuir definitivamente os seus impactes ambientais, mas apresenta-se como uma opção de deslocação diária a ter em conta, e dispõe de diversos tipos de transporte entre os quais podemos optar.

 

 

1American Public Transportation Association, 2007

2 Comboios de Portugal, Relatório de Sustentabilidade de 2013

3 Carris, Relatório de Sustentabilidade de 2014

 

Joana Pedro