Os carros elétricos são amigos do ambiente?

As pessoas procuram fontes alternativas de energia, produtos ecológicos e amigos do ambiente que geram menos poluição e resíduos. Em diversas regiões de Portugal, a exploração de Lítio, mineral essencial para o fabrico das baterias dos carros elétricos, está a causar uma forte discussão pois, segundo os moradores, a extração deste minério vai trazer poluição e destruição. Ao invés, governo e empresas exploradoras e alguns autarcas defendem o investimento, a criação de riqueza, os postos de trabalho e a fixação de pessoas. Mas serão os carros elétricos, realmente, uma boa opção para a sustentabilidade ambiental?

Os carros elétricos utilizam motores elétricos e fazem parte do grupo dos veículos com zero emissões, porque é um meio de locomoção não poluente, não emitem quaisquer gases nocivos para o ambiente e não emitem ruído considerável. As baterias destes carros são feitas de Lítio, mineral que existe em grande quantidade em Portugal, segundo vários estudos efetuados.

De acordo com os dados da Direção-Geral de Energia e Geologia, só no ano de 2019, foram solicitados 22 pedidos de atribuição de direitos de prospeção e pesquisa de depósitos minerais, de norte a sul do País: Guarda e Figueira de Castelo Rodrigo, Vila Nova de Foz Côa, Pinhel, Mêda, Ponte de Lima, Boticas e Montalegre. É nestes dois últimos concelhos que se localiza a região de Covas do Barroso, onde debaixo do solo, numa zona considerada Património Agrícola Mundial, estatuto atribuído pela FAO, agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, pode estar, um dos maiores depósitos de lítio da Europa, com cerca de 30 milhões de toneladas deste precioso metal que também é usado no fabrico de smartphones, computadores eletrodomésticos, na medicina, etc.

No entanto, os moradores desta região não querem que “lhe arranquem o lítio das entranhas” e, decididos a proteger as suas terras, fundaram uma associação de defesa ambiental em que a palavra de ordem é “Não à Mina, Sim à Vida”. Segundo esta associação, para extrair lítio será necessário abrir minas, com diâmetro de 800 metros e 350 de profundidade. Na forma de extração de lítio, é preciso esmagar uma tonelada de pedra para conseguir um quilo do chamado “petróleo branco”. A rocha escavada produzirá uma grande quantidade de escória, sujeitas a processos de lavagem, que produzirão muitos poluentes, causando impactos ambientais que originam alterações no ambiente, em várias áreas, nomeadamente no ar, no solo e na água. Entre elas destacam-se:

Poluição do ar: Libertação de poeiras e líquidos que contaminam o ambiente; antes, durante e após a exploração é inevitável a produção de ruídos de elevada intensidade, com fortes impactos na população, que também terá impactos na biodiversidade, nomeadamente ao nível das aves. O ar ficará contaminado pelas poeiras e partículas de pequena dimensão resultantes da exploração. Estes poluentes terão efeitos na saúde humana pois poderão “infiltrar-se” através das vias respiratórias, provocando doenças respiratórias graves.

Poluição da água: a exploração pode levar à contaminação das águas, infiltrando-se nos lençóis subterrâneos, podendo chegar às populações; influencia também os aquíferos e linhas de água superficiais, que muitas populações utilizam para realizar as suas atividades como a agricultura e pecuária. Esta poluição deve-se à enorme quantidade de produtos químicos necessários para a extração do lítio, bem como o seu tratamento e ainda a manutenção de todos os materiais necessários para a atividade. Só na fase de prospeção secaram três nascentes e a população teme que a albufeira do Rabaçal fique irreversivelmente poluída.

Poluição do solo: a destruição das paisagens reduz a biodiversidade; os solos desprotegidos ficam mais suscetíveis à erosão e o facto das populações terem de conviver com uma mina a céu aberto, enormes áreas desflorestadas e haver uma grande destruição da paisagem natural, causando mudanças irreparáveis nos ecossistemas e no modo de vida das populações locais.

Sabe-se que, “a produção de um carro tradicional envolve a emissão de 5,6 toneladas de CO2. Em comparação, um carro elétrico aumenta este número para as 8,8 toneladas. Dessas, mais ou menos metade (50%) deve-se à produção da bateria. De facto, ao longo do seu ciclo de vida, o carro elétrico vai ser responsável por apenas 80% das emissões em comparação a um carro ‘normal’. No entanto, a produção de baterias de lítio corresponde a emissões de 150 a 200 kg de dióxido de carbono por cada kWh de energia gerada pela bateria. Por exemplo, um Tesla novo com 0KM feitos, equipado com uma bateria de 100 kWh (a bateria com maior capacidade de armazenamento no mercado), já enviou 15 a 20 toneladas de CO2 para a atmosfera! Um automóvel a gasolina com emissões de 120 g/km necessita de percorrer 125 mil quilómetros para emitir a mesma quantidade de dióxido de carbono.”

A Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza afirma que há uma “corrida ao lítio em Portugal e que 10,1% do território nacional está ameaçado e recomenda precaução ao Governo e atenção para os interesses ambientais e para as populações atingidas. O lítio pode ser a energia do futuro – e há abundância em Portugal.

Serão, então, os carros elétricos a futura energia verde ou energia negra?

Turma do 5ºF, Agrupamento de Escolas António Alves Amorim