O percurso para um planeta mais diverso

Cada vez mais o Jardim Zoológico de Lisboa procura integrar mais projetos de conservação e reintrodução dos animais na natureza. No final espera-se que instalações para os animais, como os Zoos, deixem de existir.

Uma das missões do Jardim Zoológico consiste na conservação. Tem o objetivo de proteger biodiversidade do planeta. Dentro deste tema existe a “conservação ex-situ” que consiste em medidas adotadas pelo homem para oferecer uma melhor qualidade de vida aos animais fora do seu habitat natural, existindo ainda a “conservação in-situ”. Esta consiste na conservação que atua diretamente no habitat natural dos animais, como forma de sensibilização das populações locais sobre a importância de determinada espécie.

A comunicação e a criação de laços com os animais são as ferramentas mais importantes para ajudar as pessoas a mudarem os seus comportamentos e ganhar consciência sobre a importância da conservação, sendo o objetivo final dos “bons” Jardins Zoológicos, trabalharem para não existirem.

A reintrodução de uma espécie na natureza é um momento muito importante e esperado por todos os Jardins Zoológicos, mas nem sempre é viável, visto que são feitos muitos estudos para avaliar o sucesso da missão. Por norma, os Zoos certificados estão inscritos na EAZA (Associação Europeia de Zoos e Aquários) que lida com diversos projetos de conservação “in-situ” e, desde 2005, que o Jardim Zoológico tem a oportunidade de trabalhar e participar em diversos programas ligados à conservação no mundo graças ao apoio financeiro do fundo de conservação.

O último projeto lançado pela EAZA é o: “Quebra o Silêncio pelas aves de canto”, que tem como foco as aves do canto e o objetivo de não silenciar as florestas pelo trafico ilegal, bem como angariar fundos para futuros projetos de conservação. Na Indonésia, mais de 1,3 milhões de aves são capturadas anualmente por caçadores ilegais. Existem as missões de conservação, que podem começar com os próprios caçadores, pois conhecem bem as florestas e sabem os hábitos dos animais, dando formações a essas pessoas para os transformar em guardas ambientais. Esta tem sido uma boa iniciativa de educação ambiental e, além disso, o projeto também resgata as aves do comércio ilegal, estando sempre alinhada com a política para promover a aplicação de leis regionais e internacionais de proteção.

O ádax é um ótimo exemplo de reintrodução, vivendo em manadas com um macho dominante. Já esteve extinto na natureza pela caça, seca e conversão do habitat, mas atualmente está no processo de reintrodução. Apesar de contar com apenas 300 animais incluídos na CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção) a reintrodução só é considerada um sucesso quando o animal vive e consegue ter duas descendências, sendo um processo delicado, onde inicialmente é encaminhado para uma reserva onde só os descendentes vão para a natureza.

Outro exemplo é o leopardo-da-pérsia que foi reintroduzido na natureza pela primeira vez em 2016, em que o Zoo da Rússia fez o primeiro contacto com o Jardim Zoológico de Lisboa para propor a parceria. Isto aconteceu, porque, na Rússia, o casal de leopardos dava menos crias (era menos fértil) que o de Lisboa, aceitando de imediato e dando início a este projeto para também contribuir com uma maior variabilidade genética.

O órix-de-cimitarra está atualmente extinto na natureza, em que a caça, a perda do habitat e a competição com o gado doméstico foram as principais causas para a sua extinção. Estes existem apenas sob cuidados humanos, e em áreas protegidas, sendo que a sua reintrodução é difícil, pois vivem em manadas grandes, tornando o processo mais lento e complicado, porque existem poucos reprodutores.

Nem todos os animais são viáveis à reintrodução, por diversos motivos, mas, por vezes, como é o caso do órix ou o macaco-aranha, que são um animais vulneráveis por perder o seu habitat pela desflorestação. No entanto, no Jardim Zoológico todos os exemplares de macaco-aranha nasceram e cresceram em cativeiro, como a pequena Valentina, nascida no início do ano, que não irá aprender a ir atrás da sua comida, mas sim esperar que a comida vá até ela.

Como dizia Baba Dioum, “é necessário amar para conservar e só amamos o que compreendemos e compreendemos o que nos foi ensinado”. Ou seja, a conservação é essencial para compreender a realidade animal, proporcionando-lhe o seu bem-estar.

Beatriz Batista, Flávia Romão, Gustavo Santos, Simão Marques