O impacto dos alimentos na saúde e no ambiente

Todos sabemos o quão importante uma alimentação saudável e equilibrada é para cada um de nós. Contudo, este cuidado pode também ser benéfico para o meio ambiente. Ao utilizarmos produtos biológicos e produzidos a nível local, como forma de estruturar uma melhor alimentação, estamos não só a contribuir para o nosso bem estar, como também para o das populações, tanto na atualidade como no futuro.

O que é, então, um produto biológico?

Os produtos biológicos são obtidos através de uma agricultura que não recorre à utilização de químicos, por exemplo, os comuns fertilizantes, herbicidas e pesticidas, evitando a degradação do ambiente e respeitando o equilíbrio da natureza, recorrendo apenas a métodos tradicionais.

Consumidores asseguram que é possível encontrar o sabor genuíno dos alimentos nos produtos biológicos. Investigadores defendem que a qualidade dos produtos biológicos é superior à dos convencionais pois são ricos em antioxidantes, indispensáveis na prevenção de algumas doenças.

Um estudo realizado ao longo de 50 anos em mulheres norte americanas, publicado na revista científica “Journal of Clinical” comprovou que mulheres expostas a níveis elevados do pesticida DDT tiveram até quatro vezes mais probabilidade de desenvolver cancro da mama, sendo que, já se confirmou, também, a relação entre doenças como o cancro, a asma e alergias e a exposição a químicos utilizados na agricultura.

Daniela Ferreira, uma nutricionista que, recentemente, abriu o restaurante “Best Food”, em Lousada não podia estar mais de acordo. Tendo em conta que trabalha diariamente com alimentos, decidimos questioná-la acerca das diferenças entre produtos biológicos e não biológicos:

Existem bastantes diferenças entre alimentos biológicos e não biológicos!
Os produtos biológicos têm maior teor de vitaminas por terem tido um desenvolvimento natural, são cultivados em solos férteis, sem aditivos como os adubos artificiais, aliando os conhecimentos tradicionais e, preservando o solo para gerações vindouras..
Por não recorrer a produtos químicos de síntese, respeita o bem-estar animal, a sanidade vegetal e animal e a implementação da diversidade na exploração, sendo assim, mais vantajoso para o meio ambiente.

Já os produtos não biológicos sofrem alterações, crescem mais rápido, são menos concentrados, têm menos sabor e, para durarem mais tempo, o agricultor utiliza produtos químicos.”

Sem dúvida que os alimentos biológicos são muito mais benéficos para a saúde do consumidor. Componentes como o ómega 3, cálcio, magnésio, ferro, entre outros minerais, são preservados, o que traz inúmeras vantagens para quem opta por esta escolha.

À conversa com José Ribeiro, um apicultor de 29 anos, descobrimos que o mel, um produto biológico, traz imensas vantagens para a saúde.

“Os benefícios diretos passam, desde logo, pelo açúcar em si. O mel é essencialmente constituído por frutose – açúcar natural presente nas frutas. Sabe-se que no mel estão presentes mais de 12 bactérias distintas de ácido lático, resultando num maior poder antibiótico. Este tem, ainda, comprovado ser um ótimo aliado na cura de ferimentos, muitos deles persistentes, e no combate a problemas gastrointestinais.”

Quando questionado acerca dos benefícios que a este tipo de produtos traz para o consumidor e o ambiente, José Ribeiro afirmou que:

“O facto de o consumidor saber que o produto é produzido localmente tem algumas vantagens.

A primeira é o transporte. Um produto que é produzido e vendido localmente, dificilmente será exposto a picos de temperatura até chegar ao consumidor.

A segunda vantagem prende-se com a confiança no produto. Um produto vendido localmente têm menor probabilidade de ser adulterado.

A nível ambiental, ocorre a polinização das culturas da região e a menor poluição ambiental. Estando as áreas de produção e de consumo relativamente próximas, são reduzidos o impacto ambiental e os custos monetários de todo o processo de comercialização.”

Daniela Ferreira também têm uma opinião positiva em relação aos produtos locais:

“Utilizo alimentos de produtores locais devido ao seu valor nutricional e qualidade do seu sabor, permitindo também aos produtores uma melhor valorização das suas produções. “

Já no que diz respeito à relação qualidade/preço, José garante que os consumidores preferem o seu mel ao do supermercado, uma vez que o mel comercializado nas grandes superfícies é, muitas vezes, uma mistura de méis de várias regiões ou continentes, aos quais são acrescentados  xaropes de açúcar como forma de reduzir o preço do mel para níveis mais competitivos.

Todas estas vantagens estão cada vez mais na mente do consumidor, levando-o a fazer escolhas mais responsáveis na compra dos produtos para a sua alimentação, bem como na escolha dos restaurantes que visita.

Daniela informou-nos que cada vez mais pessoas optam por uma alimentação mais saudável constituída por alimentos de maior qualidade, mas tinham alguma dificuldade em fazê-lo por não existir um espaço como o “Best Food”.

No entanto, o crescimento na procura deste mercado não é acompanhado por investimento do estado.

Apesar de toda a vantagem que traz para o ambiente, por exemplo, a redução de emissão de gases de efeito de estufa no transporte, para a saúde pública e a economia, o governo demonstra falta de apoio neste setor.

José Ribeiro concorda:

“Infelizmente, existe ainda uma grande displicência do governo relativamente a esta necessidade. A apicultura não tem praticamente apoios e os poucos que tem reservam-se aos fundos Europeus.”

De modo a existirem mais projetos benéficos para o ambiente e a incentivar o consumidor a fazer escolhas mais responsáveis, seria importante a tomada de algumas medidas.

Através de publicidade institucional, uma maior parcela da população poderia entender estes fatores, mudando a sua mentalidade acerca da alimentação e dos efeitos que esta tem na saúde e ambiente.
Seria, também, importante apostar em produtos locais através da taxação de produtos não locais. Além desta medida, seria ainda importante um maior apoio do estado para com os produtores e empreendedores, através de, por exemplo, subsídios.

Em suma, o meio ambiente é influenciado por todas as escolhas que fazemos, e a alimentação não é uma exceção. Deve existir um maior cuidado com esta, para que, assim, não sejamos só nós os beneficiadores mas também o ambiente e a saúde pública.

Esta mudança é simples, basta que optemos por alimentos locais e biológicos. Se o fizermos, facilmente poderemos evoluir, tornando o planeta mais sustentável e todos nós que o habitamos mais saudáveis.

 

João Bento, José Silva, Rúben Teixeira, Hugo Pinto