No “penico do céu”, onde muito mal se construiu

A depressão Elsa trouxe muita água para Braga e com isto surgiram os problemas habituais: vias inundadas, túneis fechados e caos na cidade. Rapidamente se apontou para o suspeito do costume, a falta de limpeza das sarjetas.

Braga, popularmente conhecida como o penico do céu, ou seja, como o local onde o céu vai despejar as suas águas, sempre sofreu com inundações periódicas. 

Ruas começam a inundar, e parte dos carros estão submersos em água

A água invade as estradas, parte dos carros ficaram submersos.

A vinda da depressão Elsa e consequentes chuvas intensas relembraram, mais uma vez, os problemas cíclicos e as deficiências no escoamento de águas existentes na cidade, lançando o caos na vida dos bracarenses. Em comunicado, a AGERE, empresa municipal responsável pelo ambiente em Braga, apelou  para “maior sensibilização na deposição de resíduos nos locais apropriados, dadas as consequências nefastas quer para o ambiente, quer para as infraestruturas das águas pluviais, uma vez que originam entupimentos, impedindo a sua descarga e consequente inundação”. Um discurso, que também aponta culpas à vegetação de folha caduca da cidade que, fruto da ação natural, as folhas conjuntamente com beatas de cigarro, papéis e plásticos, se vão acumulando junto às sarjetas, originando entupimentos, impedindo a sua descarga e consequentes inundações. 

Em Braga é comum ler e ouvir comentários que apontam erros urbanísticos, iniciados nos anos 80, uma consequência do lóbi da construção civil, na busca da valorização dos terrenos, com consequências diretas nos efeitos das inundações, causando a impermeabilização dos solos e encanação de partes do rio Este. É neste sentido, que a engenheira ambiental Rosa Novais afirma, que “As inundações são provocadas principalmente por uma drenagem ineficiente das águas pluviais associada a uma enorme pressão urbana”.

 

Túneis encerrados pela proteção civil

Túneis encerrados pela proteção civil // Luís Martins

 

As construções de prédios em  terrenos húmidos é frequente em Braga. Os  edifícios estão munidos de bombas de bombeamento de água para evitar que as garagens desses  edifícios fiquem submersas. Estas construções, edificadas sobre as linhas de água,  com muitas garagens e túneis, estão a uma cota inferior à do rio Este, existindo também outras estruturas e prédios,  situadas junto ao leito de cheia do curso principal de água desta cidade, que são vítimas destas inundações.  Rosa Novais aponta que “É o mau planeamento urbanístico que não considera os leitos de cheia e drenagens eficientes o que contribui para as inundações”. É comum  os Túneis do Hotel Meliã, de S.Victor-O-Velho, junto ao Braga Parque, e o  da avenida da liberdade ficarem inundados quando há índices de pluviosidade mais elevados. “No caso de Braga existem algumas construções de viadutos e estradas sobre ribeiras o que provoca enchentes e inundações quando chove torrencialmente uma vez que os canais,  que foram artificializados, não permitem uma boa drenagem nos casos de chuva intensa.” remata Rosa Novais.

 

As inundações em Braga não são mais frequentes do que há 50 anos atrás. As suas consequências e visibilidade é que se tornaram maiores. A preocupação dos bracarense é evitar e reverter os erros do passado, nesse sentido, a engenheira ambiental referiu “A fase crucial para evitar tais situações é a fase de planeamento urbano de modo a garantir respeitar os cursos de água naturais e os seus leitos de cheia, respeitar a morfologia da paisagem” sendo para ela muito importante “diminuir a pressão urbana criando espaços verdes que funcionem como absorvedores naturais para drenar e absorver a precipitação”.

As águas acumulam-se sem chegar ao rio.

As águas acumulam-se sem conseguir chegar ao rio // Luís Martins

Cartazes com a força do vento começam a desprender-se

Cartazes com a força da depressão Elsa ficaram desfeitos // Luís Martins

Túneis encerrados pela proteção civil // Foto: Luís Martins

Túneis encerrados pela proteção civil // Foto: Luís Martins

Luís Martins