Muda-se a aldeia, mas as memórias permanecem…

A barragem do Alqueva, o maior lago artificial da Europa, começou a ser construída em fevereiro de 1998 e foi inaugurada em janeiro de 2002. O efeito mais devastador da construção desta barragem, prendeu-se com a submersão da antiga aldeia da Luz. Este processo obrigou à construção de uma nova aldeia e realojamento da população que outrora caíra em descrença, devido às inúmeras e constantes promessas de construção da barragem, durante anos por parte das entidades competentes.

Aldeia da Luz_Presidente da JF

Sara Correia, Presidente da Junta de Freguesia da Luz.

Sara Correia Presidente da Junta de Freguesia da Luz, revela “A população da aldeia da Luz vive de memórias”, quando abordada acerca das consequências da construção da barragem do Alqueva.

Apesar da longa lista de benefícios que a barragem, financiada pela União Europeia, parecia trazer para as populações dos concelhos abrangidos pela mesma, destacam-se a produção de energia elétrica e a irrigação do Alentejo para desenvolver a agricultura na zona e, assim, combater a desertificação e desenvolver a região, as consequências acabaram por se tornar imprevisíveis e os benefícios nulos, como refere Catarina Marques, representante do Museu da Luz, na aldeia da Luz.

Por outro lado, todas estas questões criaram ambiguidade na população da aldeia, pois, como revelou António Augusto Silva, um habitante desta, “Fizeram muitas aldrabices, mas estamos contentes”. Esta fonte afirma igualmente que com a criação da nova aldeia, “algumas casas são melhores do que as anteriores”.Esta situação provocou descontentamento na população, que se viu forçada a deixar tudo para trás e recomeçar a sua vida em casas que não sentem como suas. “Perdeu-se tudo!”, reforça Sara Correia. Além disso, de acordo com a Presidente da Junta, surgiram problemas na aldeia da Luz, outrora inexistentes, como dificuldades no abastecimento de água, que obrigaram à abertura de furos para que a população tivesse acesso à mesma.

Perante toda esta sucessão de acontecimentos, Sara Correia, confidencia, “Não sei até que ponto houve culpa nossa…”, uma vez que a população poderia ter lutado mais pelos seus direitos, de modo a não ser tão prejudicada pela construção da barragem. Acrescenta ainda, que o total investido nesta obra, permanecerá para sempre como uma incógnita.

Aldeia da Luz

Antiga Aldeia da Luz, submersa com a construção da barragem de Alqueva

Não obstante as inúmeras dinâmicas da Junta de Freguesia da Luz para transpor a realidade da “aldeia velha” nesta “nova aldeia”, a Presidente da junta de freguesia, afirma, com alguma mágoa, “fazemos coisas para as pessoas virem e as pessoas não aderem, mas o sentido de comunidade perdeu-se totalmente”. Afinal, a população nunca se sentirá tão em casa como na antiga da aldeia da Luz: as noitadas na rua e as conversas matinais no largo são, nos dias que correm, uma recordação bem guardada por todos os luzenses. Todavia, é notório o sorriso nostálgico da população ao ver os “bancos vermelhos” típicos da aldeia antiga, que foram reconstruídos na nova aldeia. O objetivo da construção do Alqueva visava o benefício da população envolvente, na qual foi depositada a esperança de uma vida melhor. Atualmente, diz Sara Correia, “A dor dos habitantes é muito grande, porque está na antiga aldeia, todo o seu passado”. Resta à população, as memórias de uma aldeia noutros tempos repleta de tradições alentejanas.

 

 

 

 

Grupo 1 – Inês Matos, Manuel Farias, Maria Carreira e Pedro Charrua.

Inês Matos, Manuel Farias, Maria Carreira, Pedro Charrua