“Locais da História e com histórias para contar: Penha Garcia e Monsanto”

O 3º dia da Academia da Energia teve direito a passeio por locais que têm já lugar cativo na História e que têm também muitas histórias para contar. Penha Garcia e Monsanto, aldeias históricas, recebem diariamente visitantes dos quatro cantos do mundo. Hoje foi a vez dos Embaixadores da Energia.

Sítios únicos, gentes com história, paisagens de cortar a respiração. Estes são alguns dos ingredientes que fazem a Academia da Energia. Ao 3º dia, os Embaixadores da Energia deram cordas aos sapatos e “Caminhar, caminhar!” foi mesmo a frase de ordem. Penha Garcia foi o primeiro ponto de paragem. Ricardo Borga, técnico de turismo, foi o guia que nos deu a conhecer este que é considerado por muitos um “verdadeiro paraíso às portas de Espanha”. Por lá, a casa do Padre João Pires virou museu e hoje é também ela a casa de muitas pinturas de gentes que fizeram a história de Portugal, de que é exemplo o eterno desaparecido D. Sebastião ou ainda D. Carlota Joaquina.

Ricardo Borga foi o guia de serviço na visita a Penha Garcia. Conhece como ninguém os cantos da povoação e também algumas histórias que marcam a vida das gentes da terra

Reza a história que o início de Penha Garcia remonta ao reinado de D.Sancho I. O grande objetivo era só um: proteger a fronteira portuguesa das tentativas de tomada de posse do território nacional por parte de Leão. O imponente pelourinho, da autoria de Simão Esteves e Domingos Fernandes, marca a paisagem e também é sinónimo de um marco importante: Justiça, ou não fosse este o local onde todos aqueles que por alguma razão ousavam por em causa a ordem social estabelecida eram torturados e, em última instância, executados. Mas não só o passado do homem tem presença marcada em Penha Garcia: as rochas quartzíticas, com mais de 400 milhões de anos de história, guardam um dos segredos mais bem guardados da povoação. Icnofósseis, assim são conhecidos no mundo científico, são o resultado de tempos que já lá vão bem longe, numa época em que todos os continentes estavam unidos em torno do Pólo Sul.

Local predileto para muitos amantes de desportos radicais, como a escalada ou o rappel, adrenalina e história confundem-se e dão origem a experiências únicas a todos aqueles que diariamente visitam a povoação. Mas para que seja possível a vivência de todos estes momentos, é necessário o zelo de uma figura: o Senhor Domingos. Faz a manutenção, rega as plantas, tudo o que é preciso fazer o Senhor Domingos faz. É o que Ricardo diz: “ Sem dúvida alguma que o Senhor Domingos é o grande cuidador do Parque Icnológico da Penha Garcia”. Orgulhoso do seu trabalho e ciente da responsabilidade que tem em mãos, o passado do Senhor Domingos não se fez entre árvores e montanhas, mas sim entre tachos e panelas:“ Grande parte da minha vida fui chefe de cozinha. Apesar de ser uma grande paixão, sempre foi uma vida muito difícil e acabei por vir aqui parar. Hoje, faço as visitas a todos aqueles que querem ver as casas aqui da povoação… e recebemos pessoas de todos os cantos do mundo!”. O que é certo é que também esta aldeia sentiu na pele a morte e saída de parte dos seus habitantes para as grandes cidades.

O cenário não é muito diferente por Monsanto. Assumindo-se como uma das principais aldeias da Rede de Aldeias Históricas, Monsanto tem há muito um título próprio que atrai anualmente 200.000 visitantes, ou não estivéssemos a falar da “Aldeia mais Portuguesa de Portugal”. Decorria o ano de 1938, em pleno Estado Novo, quando foi atribuído à aldeia um Galo de Prata, com o intuito de manter vivas as tradições e a cultura tão típica da região Centro.  Mais uma vez, desta feita em Monsanto, também o tempo deixou as suas marcas: se, por um lado, muitos foram os que abandonaram a aldeia em detrimento das grandes cidades, em busca de trabalho e mais condições de vida, por outro, esse êxodo para as regiões do litoral permitiu a manutenção das características estruturantes na paisagem.

A 758 metros de altitude, a paisagem fala por si. Ao longe, o olhar lá alcança terras espanholas. Mas por terras de Monsanto, o povo é ainda bem português.

Um pouco por todo o caminho é já visível o espírito engenhoca do povo luso. No que às escadas diz respeito, a título de exemplo, há medida que se vai subindo em altitude, estas vão se tornando cada vez mais estreitas para dificultar a subida do inimigo. O mesmo se pode dizer das muralhas. De facto, as muralhas não são muito altas, e a explicação é simples: o relevo é de tal forma acidentado que as tropas rivais quando chegavam ao topo do castelo já vinham tão cansadas que a defesa das tropas nacionais não precisava de ser tão rigorosa.

Pelo caminho, a Capela de Santa Maria também saltou à vista. Esta é uma capela muito fechada, com poucas aberturas para o exterior, até porque era no seu interior que se encontravam grande parte das crianças e mulheres, em segurança. Eram mesmo as mulheres, que, através das orações podiam fazer a diferença. Tudo era válido na defesa dos entes queridos. Volvido mais de uma hora de caminhada, todo o elenco que compõe esta primeira edição da Academia da Energia, chegou ao topo de Monsanto: 758 metros da altitude. O topo da caminhada, e para todos aqueles que se deliciaram com a paisagem de perder de vista, também o momento alto do dia.

 

Rúben de Matos