Led´s: as nossas queridas inimigas

Com a massificação da utilização da tecnologia LED, começaram a surgir interrogações e algumas certezas quanto ao seu lado negro. Esta foi-nos apresentada de forma tão excecional, que nos esquecemos da tendência consumista do ser humano, mesmo que a sua utilização não esteja totalmente a seu favor.

Lâmpada led iluminando o escuro… distraído o olhar

A tecnologia LED prometeu aliviar o consumo de eletricidade e a respetiva produção de CO2 no ambiente, como também reduzir a cota de CO2 permitida aos países. Esta foi a face clara deste grande avanço tecnológico, pois permitiu gerar a mesma quantidade de luz reduzindo de uma forma brutal o consumo de eletricidade. Uma só lâmpada de led pode iluminar uma única sala gerando uma economia até 90% na fatura da luz.
O aparecimento das Lâmpadas led estimulou a substituição de sistemas menos eficientes em termos energéticos, bem como aumentou as áreas iluminadas, criando luz onde havia escuridão.

De acordo com estudos, a Agência Internacional para o Estudo do Cancro considerou, pela primeira vez em 2010, que os Led´s estão a alterar os relógios biológicos dos seres vivos que vivem junto delas, seres humanos e animais. Emitiu um alerta em que revela que a parte azul da luz dos led, ondas curtas, pode estar relacionada com o aumento do risco de cancro de mama e próstata. Refere ainda que a produção de melatonina, que é travada pela luz branca à noite, provoca desequilíbrio no sono e no ciclo de descanso (ciclo circadiano) que permite uma saudável qualidade de vida, tal como foi referido pelo ecologista alemão Franz Holker do Instituto Leibniz (IGB) à agência de notícia da Reuters.
Os animais também são influenciáveis pela modificação luminosa nos seus habitats. O uso destas lâmpadas altera os ciclos biológicos provocando stress e podendo alterar as migrações nas espécies que se orientam pela Lua ou estrelas, levando-as a desorientarem-se e aproximarem-se destas fontes luminosas que as conduzem muitas vezes à morte. Temos, por exemplo, o caso das tartarugas, que muitas vezes confundidas pelas luzes das lâmpadas junto a zonas de eclosão, desorientam-se e dirigirem-se para o sentido oposto ao que a Mãe Natureza as programara, ficando expostas à morte quase certa.
Os animais noctívagos, que abrigados pelo esplendor do céu escuro e pela penumbra da noite, caçavam e davam vida às dinâmicas milenares que este planeta impôs a todos os que vivem nela e dela, deixam de o poder fazer, chegando a ser eles as presas. Com o desaparecimento do céu da noite, seres caçados passaram a conseguir escapar aos seus predadores, pragas que aproveitavam a noite para se alimentar e servir de alimento, deixaram de estar controladas.
A luz artificial provoca não só desequilíbrios nos ecossistemas, como também beneficia provisoriamente algumas espécies. A proliferação de ratos e outras pragas, nas zonas em que não há grande distinção entre dia e noite, traz um desequilíbrio, pondo em risco a biodiversidade e a sobrevivência de algumas espécies e a proliferação de doenças. Os animais, como o pirilampo, que usam a bioluminescência para comunicar veem esta capacidade severamente posta em causa, pois estas fontes artificiais sobrepõem-se à ténue luz por eles emitida.
Segundo Christopher Kyba, do Centro Alemão de Pesquisa para Geociências e ex-membro do conselho de diretores da International Dark Sky Association, cerca de um terço da humanidade não consegue mais observar a Via Láctea. Alerta ainda que as luzes de LED mais populares são as brancas /ambar e que a atmosfera dispersa mais facilmente a luz azul do que outros comprimentos de onda visíveis, como tal deve haver um esforço redobrado para que a iluminação pública não seja com luz branca.
O excesso de luz à noite também forçou a deslocação de observatórios construídos próximos de cidades para regiões remotas ou à tomada de medidas de proteção do céu nas regiões próximas. Em alguns casos, a poluição luminosa era tão intensa que os observatórios perderam as funções para às quais foram construídos e a investigação científica nestes locais tornou-se inviável.
Entre 2012 e 2016, a luminosidade artificial terá aumentado 2% de área em toda a Terra. Este crescimento tem um ritmo mais acelerado nos países em desenvolvimento do que nos países mais ricos. Muitos países investem em LED’S em quantidades desnecessárias o que provoca um grande aumento da poluição e do aquecimento global, por parte do gasto de electricidade. O grande objetivo destas lâmpadas é iluminar as ruas de forma mais económica e com os mesmos resultados que as lâmpadas normais.
A poluição luminosa é, assim, uma forma de contribuição para as alterações climáticas. É certo que a iluminação pública traz segurança para todos nós, é certo que a luz acompanhou a nossa evolução, trazendo uma qualidade de vida inimaginável para todos, no entanto, devemos procurar usar níveis mais baixos quanto possível na iluminação e sempre que a luz for efetivamente necessária, usar sistemas de regulação para a noite, ajustados ao movimento humano.
Acima de tudo, devemos refletir sobre o que deixamos de ter e ver por causa disto. Numa noite estrelada sem iluminação elétrica… parem e olhem para o céu e vejam o que de tão grandioso estamos a perder.

Céu sem estrelas de uma cidade de 4,5 milhões de habitantes, Izmir, Turquia

Céu sem estrelas de uma cidade de 4,5 milhões de habitantes, Izmir, Turquia

Izmir em plena Luz do dia

Leonor Cardoso, Mariana Costa