Horst de Cantanhede, zona geológica e paleontológica destruída a um ritmo incessante

O Horst (elevação) de Cantanhede é a designação dada a uma elevação localizada desde o Zambujal até ao fim de Lemede, no concelho de Cantanhede.

Esta é uma zona histórica do ponto de vista geológico e paleontológico, devido ao facto de aí existirem fósseis provenientes do Jurássico Médio, como as amonites, e também porque constitui uma prova de que a placa Euro-Asiática chocou com a placa Africana, pois existe um local de desfasamento entre os estratos das rochas. Em termos de estratigrafia geológica, esta zona é constituída essencialmente por margas, ou seja, calcário com muita argila.

Até há cerca de uma década, este era um ecossistema muito peculiar, tanto para a fauna como para a flora. Em termos de animais, destacavam-se os répteis, especialmente a cobra rateira e o lagarto ibérico, e as aves, com predominância para o cartaxo, a cotovia e a petina. Na flora, existia uma grande quantidade de alecrim do monte, rosmaninho e orquídeas. Também aqui são visíveis grandes quantidades de fósseis de amonites, o que evidencia que o Horst já existe desde o Jurássico Médio.

Este Horst faz a divisão de duas bacias hidrográficas: a Nascente a do Rio Mondego, que alimenta o aquífero de Ançã, e a Poente a do Rio Vouga, que alimenta o aquífero Cársico da Bairrada. Também por esta razão esta região é considerada muito importante, pois alimenta o Rio Vouga, no lado Oeste, e o Rio Mondego e os Olhos da Fervença, no lado Este, que por sua vez fornece água a todo o concelho de Cantanhede e também aos concelhos de Mira e Montemor-o-Velho.

Todos os habitantes desta região tinham orgulho em poderem usufruir de um espaço como este e divertiam-se a procurar fósseis e outros objectos históricos, além de aprenderem algo sobre paleontologia.

A importância deste local é atestada e confirmada pela própria Universidade de Coimbra, através do Departamento das Ciências da Terra, que todos os anos traz os seus alunos para efectuar “estudos de campo”.

No entanto, nos últimos 8 anos, o Horst de Cantanhede sofreu enormes mudanças. Como estes terrenos não tinham dono, ou seja, eram baldios, a Câmara Municipal de Cantanhede começou a utilizá-los na tentativa de os recuperar para a agricultura e assim produzir maiores quantidades de produtos agrícolas. Passado alguns meses, esta tentativa revelou-se completamente desastrosa, pois não produziu os efeitos que se esperava, já que o solo é constituído por margas, logo não é propício ao desenvolvimento agrícola. Esta intervenção também provocou enormes consequências, pois a transformação de alguns terrenos destruiu a flora e o habitat da fauna referida.

A situação piorou quando começaram a depositar aí enormes quantidades de lixo diverso. Materiais como alcatrão, produtos tóxicos (hidrocarbonetos), latas, entulho e grandes porções de pedras foram aí colocados, e provocaram alterações profundas na fauna e na flora.

A principal consequência da deposição de lixo será a longo prazo a contaminação das águas que correm para os aquíferos, pois os produtos tóxicos em contacto com a água fazem com que esta se degrade e que a sua qualidade diminua. Assim sendo, a água que corre nas torneiras de todo o concelho de Cantanhede e limítrofes poderá tornar-se, um dia, imprópria para consumo, até porque a recuperação dos aquíferos pode demorar milhares de anos.

Alguns populares têm-se insurgido com esta situação e protestam contra a destruição desta zona geológica e paleontológica histórica. É verdade que a Câmara Municipal já recolheu parte do lixo que aí colocou e que está a pensar considerar esta zona como património de interesse municipal, no entanto, grande parte do mal já está feito.

As imagens que se seguem foram obtidas no próprio local e ilustr

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ção atrás descrita:

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Os danos podem ser irreparáveis, e só o futuro dirá se a Natureza irá conseguir recuperar o Horst de Cantanhede deste pequeno desastre ecológico.