Globalização: o nascimento uma aldeia global

Na Idade Média, uma carta demorava, por vezes, semanas a chegar ao seu destinatário. Hoje em dia, obtemos informação (e desinformação) de lugares remotos em apenas segundos e podemos até “ver” digitalmente alguém que esteja a centenas de quilómetros de distância. Ao estudarmos os aspetos da Globalização, observamos a ampliação das relações entre o local e o global por meio do grande fluxo de informações. O Fundo Monetário Internacional definiu em 2000 quatro aspetos básicos da globalização: comércio e transações financeiras; movimentos de capital e de investimento; migração e movimento de pessoas; disseminação de conhecimento.

Algumas dúvidas podem surgir aos leitores mais curiosos será: “Qual o momento em que a informação regional e nacional se converteu numa rede que permite a troca global de informação, cultura, bens, pessoas e serviços? Será que foi uma mudança gradual ou poderemos dizer que se situou num momento isolado na história de grande revolução para o modo de vida das populações inicialmente globalmente isoladas?”

Embora alguns historiadores defendam que este movimento terá sido impulsionado pela redução de custos dos meios de transporte e comunicação dos países no final do século XX e início do século XXI, este terá tido início vários séculos antes.

Portugal, um pequeno país situado na periferia da Europa, pobre e com uma população de apenas um milhão de habitantes, decidiu enviar navegações até ao Norte de África no século XV. No dia 21 de agosto de 1415, conquistou a estratégica cidade portuária de Ceuta, situada no reino de Fez, no Magrebe. O sucesso desta viagem desencadeou um processo de expansão territorial, marítima, económica, política e religiosa que levou este “país à beira mar plantado” a afirmar-se como potência mundial e a controlar o comércio global durante mais de 100 anos. O seu império marítimo estendeu-se aos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico e a quatro continentes.

As trocas económicas, religiosas, políticas e sociais realizadas entre os territórios deste império intercontinental possibilitaram o contacto com costumes importados por diferentes povos coloniais. Começaram a formar-se mais rotas que transportavam pessoas e mercadorias, e, em cada continente, cada vez mais se notavam marcas de outros lugares do mundo.

Com a revolução industrial, os transportes de pessoas e bens passaram a ser mais rápidos e acessíveis, bem como a invenção dos telefones, telégrafos e da indústria cinematográfica proporcionou uma maior movimentação global. Outro fator que impulsionou a criação desta “aldeia global” foi a chegada da World Wide Web, que tornou as comunicações internacionais quase instantâneas e que tornou mais fácil a aquisição de produtos.

Basta-nos pensar na forma como a indústria cinematográfica mudou a perspetiva de vida de muitos jovens ou em como a nossa alimentação se tornou “internacional” para vermos a grande influência da globalização na sociedade atual.

Globalização, como um destino histórico

Um exemplo bastante ilustrativo da crescente ligação internacional é a União Europeia. O projeto une 27 países do velho continente que têm livre circulação de bens, serviços e pessoas (Espaço Schengen) e que têm políticas e economias comuns. Apesar disso, a união não só partilha estes aspetos políticos e financeiros como permite, também, uma intensa troca social e cultural. Esta troca é possibilitada através de projetos como Erasmus, Banco Europeu de Voluntariado, ETwinning, etc., que permitem um intenso intercâmbio de ideias e costumes.

É importante realçar que, apesar de este fenómeno ser um fator enriquecedor para os habitantes desta “aldeia global”, estão-lhe também associadas diversas repercussões negativas.

Um dos mais urgentes problemas da Humanidade- as alterações climáticas- foi em grande parte consequência do capitalismo gerado pela globalização, bem como a poluição e a pesca excessiva. Outra situação problemática que a globalização facilitou é a atual pandemia do covid-19 (nome atribuído pela OMS à doença provocada pelo novo coronavírus SARS-COV-2). De facto, um problema local tornou-se mundial devido à facilidade de movimentação dos cidadãos através do planeta.  Assim, como é notório, a globalização encerra em si um potencial que se concretiza de forma positiva e negativa na vida dos seres humanos e dos seres vivos em geral.

A globalização, sendo um fenómeno que teve origem há alguns séculos, é uma realidade dos nossos dias com que temos de conviver. Desta forma, resta-nos aproveitar os seus benefícios e criar estratégias que minimizem as repercussões negativas que este fenómeno possa provocar no nosso planeta.

Fontes:

“INTRODUÇÃO À GLOBALIZAÇÃO” Luís Campos e Sara Canavezes https://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/2468/1/Introdu%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20Globaliza%C3%A7%C3%A3o.pdf

Luis Brites Pereira, 2007. “Portugal e a globalização: um destino histórico?, “FEUNL Working Paper Series wp514, Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Economia https://nationalgeographic.sapo.pt/historia/grandes-reportagens/1094-descobrimentos-edespecial