Geração sem estrelas… Animais sem rumo

Foi sonegado um direito a uma geração que nunca teve o privilégio de observar um céu estrelado. Mas esta é uma parte desta problemática; todas as espécies estão a sofrer. Existe uma dimensão colossal dos problemas ambientais que põe pressão nos ecossistemas que sofrem com o excesso de iluminação.

Fotografia: Miguel Duarte e Gustavo Santos- 03/06/2020 vídeoconferência com o Dr. Raul Cerveira Lima

A poluição luminosa negou a toda uma geração o direito de observar as estrelas, mas este fenómeno também afeta todos os outros seres vivos que coabitam com espaços iluminados. O excesso de iluminação provoca muitas consequências a nível ambiental, que colocam problemas aos ecossistemas. A morte de várias espécies, como as aves migratórias, e a saída de espécies, como os pirilampos, da cidade, são também problemas sérios. A poluição luminosa é responsável pela eventual extinção de várias espécies. Ainda assim, e mesmo sendo uma consequência grave, este tipo de poluição é pouco conhecido do grande público, sendo esta uma poluição silenciosa. Raul Cerveira Lima, especialista em Poluição luminosa e com um doutoramento em Engenharia Física, afirma que «Braga, é uma cidade com muita poluição luminosa» tal como “o Porto e outros grandes centros urbanos de Portugal”. 

As aves migratórias que se orientam pela luz natural são perturbadas pela existência de focos de luz artificial, desorientando-se e acabando por aterrar em locais onde não têm acesso a alimento em abundância ou que fazem parte da sua dieta. Em Portugal, existem insetos como os pirilampos, que já quase não se avistam. Estes necessitam da escuridão para se conseguirem localizar e comunicar através da emissão de luz corporal. Estas espécies deixaram de existir nos centros urbanos, por incapacidade de adaptação à iluminação pública e viram a sua existência ameaçada.

No entanto, o excesso de luz não é só um problema dos animais. A poluição luminosa causa problemas de saúde aos humanos, como a falta de sono, depressão e cancro. Os insetos causadores de malária e outras doenças são atraídos pela luz e podem estar mais próximos dos humanos. O facto de não se conseguirem ver as estrelas à noite é preocupante, pois representa uma perda da nossa herança cultural, visto que cerca de um terço da população mundial já não consegue ver a Via Láctea.

Fotografia: Miguel Duarte – 08/06/2020
Candeeiro que emite luz para baixo e para os lados em S. Mamede D’Este

De acordo com o investigador, «existe assim tanta poluição luminosa porque as pessoas sentem-se mais seguras à noite quando há mais luz, o que é errado, visto que estudos científicos demonstram que em cidades com mais luz não há menos criminalidade e acidentes, logo, este problema não é necessário». As pessoas sentem receio de assaltos e de que possam ter acidentes, por isso utilizam mais luz e algumas passadeiras são iluminadas para que os peões estejam seguros. À noite há também cartazes de publicidade luminosa, isto é, com luzes, para manter a prosperidade do negócio.

«Todas as luzes nocturnas mal dirigidas são uma causa da poluição luminosa» e «apesar de haver muitas formas de mitigar este problema, principalmente devemos utilizar menos luz ou luz menos forte. Apontar as luzes dos candeeiros para baixo em vez de estarem dispersas ou apontadas para cima é também uma medida importante, mas a luz forte pode incidir nos passeios, logo, primeiro que tudo, devemos utilizar menos luz.»

Segundo este especialista, «utilizamos demasiada energia que poderia ser utilizada para outros fins mais úteis, por exemplo para quem não tem tanto acesso à energia, podíamos encaminhá-la para as suas casas»

Raul Cerveira Lima, afirma que a solução para mitigar o problema passará por utilizar menos luz, direcioná-la para baixo e utilizar as lâmpadas LED Âmbar. As luzes LED são muito utilizadas por gastarem pouca energia e por serem bastante mais baratas. No entanto, também emitem bastante luz branca, que é muito prejudicial e provoca maior impacto na poluição luminosa. As lâmpadas LED Âmbar também gastam pouca energia e têm uma luz menos problemática, com o inconveniente financeiro para a aquisição e adaptação a esta tecnologia, no entanto «é um pequeno preço a pagar pelo ambiente.», remata Raul Cerqueira.

Segundo o especialista em poluição luminosa, os melhores candeeiros de iluminação pública são «os que apontam apenas para baixo e com uma luz não muito forte e os piores exemplos são as esferas que apontam para todas as direções, menos para baixo. Logo, é um tipo de candeeiro que causa maior impacto no ambiente e com menor utilidade visto que praticamente não ilumina para baixo.

Fotografia: Gustavo Santos- 12/06/2020
Candeeiro com uma forma de esfera, que emite luz para todos os lados menos para baixo em S.Vítor

A poluição luminosa é um grande problema. Para diminuir os efeitos deste tipo de poluição os municípios devem mudar os candeeiros e lâmpadas. Os candeeiros ideais são os que apontam para baixo. LED Âmbar têm uma cor não muito forte e gastam pouca energia, logo são o melhor tipo de luz para a iluminação pública. Todos nós podemos ter um papel importante nesta missão. À noite as luzes de jardim e outras luzes exteriores devem ser desligadas, se possível. A sensibilização para este problema é importante, tal como nos outros casos.

Miguel Truta, Gustavo Santos