Entrevista a Galopim de Carvalho

António Marcos Galopim de Carvalho, nasceu a 11 de agosto de 1931 em Évora. É professor jubilado, consultor cientifico e especialmente conhecido por ser divulgador da Ciência. Durante o Seminário Nacional Eco Escolas os Jovens Repórteres para o Ambiente (JRA) tiveram a oportunidade de entrevistar uma das figuras principais deste projeto.

Na sua perspetiva, a seu entender como é que acha que tem evoluído a educação ambiental nas escolas? Acha

Galopim de Carvalho acompanhado da sua tradicional gravata de dinossauros.

que tem tido um bom progresso ou não?

– Eu acho que tem tido um progresso imenso, mas eu tenho muitas reticencias quanto ao nosso ensino básico e secundário. E porque? Porque os programas estão de tal maneira extensos e comprometedores de uma certa obrigatoriedade, que o professor ou a professora, para cumprir aquele programa, não pode divulgar. Tem que amestrar as criancinhas a responderem certo nos exames, porque eles precisam de passar e de ter sucesso. Portanto os professores não têm liberdade para fazer aquilo que eu gosto de fazer que é começar a falar, divulgar cultura, ensinar ciência, ensinar os pormenores e deixar as particularidades para depois quem tiver curiosidade de as entender, mas abrir os espíritos ao gosto de aprender. Isso a nossa escola não faz. Os rapazes e as raparigas saem da escola vão para direito, medicina… e depois dizem que “não acendem o aquecedor no quarto, porque aquele elétrico queima o oxigénio, e esquecem-se que o oxigénio é um comburente e logo não queima”, não adquiriram cultura suficiente cientifica, básica, fundamental para a vida. E a prova que há uma grande incultura cientifica da humanidade, da literatura, da cultura, da arte etc… é ver os estádios de futebol cheios, as televisões com horas seguidas a falar de futebol, uma abstenção imensa nas atas eleitorais. Eu acho que desde o 25 de abril perdemos 40 e tal anos para educar o nosso povo e não educamos. Portanto esta é a minha critica ao sistema de ensino, e é importante, pois se nós reparar-mos, as matérias que constam nos programas, não digo o programa tal e qual como ele é escrito, mas digo as matérias que obrigatoriamente se deviam aprender davam uma cultura de base fundamental. A minha geração adquiriu essa cultura porque os professores tinham programas que não eram tão especificamente obrigatórios. Agora eu tenho a certeza, porque vi os naos 30 e 40, que hoje os progressos de proteção da natureza e do ambiente se deve exclusivamente ao trabalho das escolas.

Acha que os jovens deviam de estar mais envolvidos nas questões ambientais?

Eu acredito que estão e reafirmo, os progressos na educação ambiental existem e foi fruto das escolas, temos de fazer um agradecimento às nossas escolas por isso, mesmo com todos os defeitos que o programa de educação tem.

Temas como o ambiente, como a geologia, que o professor conhece tão bem, acha que estão a ser bem difundidos nos programas? Ou seja, nos programas de hoje no sistema de educação nós temos muito sobres esses temas ou há uma escassez ainda?

Há muito pouco sobre geologia, a geologia é maltratada no nosso sistema de ensino enquanto que a biologia está maltratada. Todas as pessoas sabem alguma coisa de biologia, mas agora de mineralogia e geologia a ignorância nacional é caótica, agora nos outros países como a França, a Inglaterra, na Alemanha, nos EUA, não é assim.

Em relação aos dinossauros, acha que estamos a necessitar de um mundo que os tenha para ajudar a repor o ritmo das alterações climáticas? Acha que o mundo hoje precisa dos dinossauros ou nem por isso?

Não, não… os dinossauros ainda cá estão. A biologia considera as aves uma evolução deles, ou seja, diz que os dinossauros não se terão extinguido, mas sim continuaram a evoluir, tanto que as algumas aves estão no grupo “dinosauria” chamando-se dinossauros avianos.

Jéssica Coutinho