Entrevista a Jorge Loureiro

Jorge Manuel Ceia Campos Loureiro, 44 anos, Licenciado em Educação Ambiental pelo Instituto Politécnico de Viseu, Mestre em Dinâmicas Sociais, Riscos Naturais e Tecnológicos pela Universidade de Coimbra e Mestre em Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia pela Universidade de Salamanca, Espanha.

 

JRA: Começo por perguntar quais são as melhores recordações que guarda da escola, enquanto estudante?

Jorge Loureiro:São tantas e tão boas que não sei se as consigo enumerar todas, no entanto é, também, uma
história e tanto que eu espero venha a servir de exemplo e motivação para todas as pessoas que acham que a escola e estudar não é importante na nossa vida. Para mim, a escola são três fases completamente diferentes no tempo, a primeira ocorreu até desde a pré-escola até ao 9º ano, altura em que troquei os estudos pela vida ativa de trabalho. Depois uma segunda fase que durou algum tempo dividida entre trabalho e estudos para conclusão do 12º ano e uma terceira fase que foi a do ensino superior e que começou, verdadeiramente, aos 35 anos. Hoje, depois de ter concluído dois mestrados digo sempre que aprender e estudar é o melhor que podemos fazer toda vida. O futuro depende do caminho que queremos construir e mesmo que seja difícil construí-lo o sucesso só depende da nossa força e vontade. Da escola recordo os professores e colegas, da escola guardo o gostinho por aprender. De entre muitas recordações guardo orgulhosamente todos os momentos vividos enquanto dirigente associativo académico, principalmente enquanto presidente da Associação de Estudantes da Escola Superior de Educação de Viseu.

JRA: Sabemos que é licenciado em EDUCAÇÃO AMBIENTAL. O que a levou a enveredar por essa área?

J.L: Sim, sou licenciado em Educação Ambiental e Mestre em Ciências do Risco e em Estudos
Sociais da Ciência e da Tecnologia. A minha vida profissional está ligada à proteção civil onde
sou bombeiro há 22 anos, 12 dos quais como profissional dedicado ao combate aos
incêndios florestais. Juntar a profissão, com o gosto pela natureza e a vontade em proteger o
que é de todos nós, foi o que me levou a escolher esta área de estudos. É um misto de
vertente académica com experiencia profissional que permite em diversos e diferentes
níveis, por um lado ser melhor profissional e por outro ajudar a construir caminho e
ferramentas para proteção da biodiversidade. O planeta não precisa de nós, mas nós
precisamos do planeta porque esta é a nossa casa global e eu quero ajudar para que todos
percebam isso e a importância de cuidarmos bem do planeta.

JRA: Sabemos que as questões ambientais são a sua paixão. Quando e porquê se começou a interessar pela defesa do ambiente?

J.L: Desde cedo que me interesso pelas questões ambientais, mas efetivamente elas começaram
a ganhar mais importância quando entrei para bombeiros. Ver o nosso país a arder e ver o comportamento errado de muitas pessoas, fez com que sentisse necessidade de fazer mais pela prevenção e pela defesa do ambiente.
JRA: Sabemos que esteve na direção da ASPEA – Associação Portuguesa de Educação Ambiental, na delegação de Viseu. O que o motivou a aceitar esse cargo?

Não foi nenhum convite, fui Coordenador da Delegação de Viseu da ASPEA porque quando terminei a minha licenciatura fiz o estágio curricular na ASPEA e dado que Viseu não tinha nenhuma associação de defesa do ambiente, propus juntamente com outras pessoas, a criação da delegação. Estive 4 anos à frente da ASPEA em Viseu e saí por necessidade de criar um novo projeto para a nossa região. Havia a promessa de continuar a defender o ambiente e as pessoas, a educação e a participação social e é por isso que agora está a nascer a TREVO – Associação para a Cidadania Ambiental e a Participação Social da qual serei Presidente.

JRA: Das atividades que dinamiza, por iniciativa própria e ou em parceria com outras entidades de âmbito regional, nacional ou internacional, concursos e campanhas, tendo como objetivos a promoção da educação ambiental e da educação para o desenvolvimento sustentável. O balanço é positivo, a adesão tem correspondido às suas expetativas?

Sim, o balanço é positivo, mas gostava que fosse melhor, gostava que as pessoas se envolvessem mais com as questões ambientais e sociais. No distrito de Viseu posso afirmar com segurança que o trabalho desenvolvido tem reconhecimento e tem servido para desenvolver a consciencialização para a temática da proteção do ambiente, do
desenvolvimento sustentável da participação social. Existe um projeto que organizo desde 2015 na região de Viseu que é o Plantabosques e que tem sido um excelente modo de divulgação e alerta para as questões ambientais. O trabalho efetuado na região de Viseu levou a que a entidade detentora do projeto, a associação Espanhola ADENEX, atribuísse o prémio de boas práticas ambientais.

JRA: Certamente, que já ouviu falar do Programa Jovens Repórteres para o Ambiente (JRA), promovido pela Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE). Que importância vê nele?

Sim já ouvi falar no programa e acho que é muito importante a existência deste tipo de programas. A participação dos jovens é importante em toda a linha e a comunicação é a forma como fazemos chegar as nossas mensagens.

JRA: Até que ponto as ONGA (organizações não-governamentais de ambiente) podem contribuir para a mudança de mentalidades?

Não são só as ONGA que podem contribuir para uma mudança de mentalidades, todos podem contribuir para essa mudança porque a mudança começa em cada um de nós. Por muito que as ONGA ou qualquer outro tipo de associação façam bem o seu trabalho, ele só será eficaz se as pessoas quiserem fazer a sua parte.

JRA: Portugal é um País que se projeta como exemplo à escala mundial nas energias renováveis. Concorda com esta afirmação?

De facto Portugal tem apostado imenso nas energias renováveis mas essa aposta também deve ter em conta o impacto que causa. É inequívoco que o caminho a seguir é o da utilização das energias renováveis mas devemos ter atenção à forma como a implementamos para que realmente possam ser uma alternativa amiga do ambiente.

JRA: Atualmente são as alterações climáticas que concentram as preocupações. É este, para si, o maior desafio ambiental de sempre?

As alterações climáticas são, sem dúvida, um enorme desafio na atualidade. No meu ponto de vista o grande problema e talvez o maior desafio que temos é o fazer perceber a toda a gente que as alterações climáticas são um problema de cada um de nós que se tornou um problema global. Diz-se que a indústria é a grande culpada mas então e nós? O que fazemos nós enquanto pessoas para travar as alterações climáticas? Por exemplo, as pessoas
continuam a ir ao supermercado comprar melão e uvas nesta altura do ano mas será que têm consciência de onde vêm estas frutas? Qual o impacto no ambiente para estas frutas chegarem à nossa mesa? Estou certo que muita gente não tem sequer a noção que o nosso modo de vida também influencia e muito o problema das alterações climáticas que são um grande desafio que todos temos pela frente.

JRA: Vê o futuro de Portugal, em relação à preservação do ambiente, com preocupação ou otimismo?

Vejo com preocupação e reservas porque podemos e devemos fazer muito mais do que é feito. De facto já se faz muito trabalho, mas o estado deve olhar mais para esta questão e sobretudo apoiar mais na preservação do ambiente. Todos os anos continuamos a ver o nosso País a arder, todos os anos vemos interesses económicos vencer sobre a preservação do ambiente. Não é tudo mau, mas podíamos estar e fazer bem melhor.

JRA: As novas tecnologias vieram para ficar. É adepto das redes sociais? Vê nelas um bom meio para sensibilizar para as temáticas ambientais e sociais?

Sim, sem dúvida que as novas tecnologias quando bem aplicadas são uma mais-valia para a divulgação e sensibilização das pessoas. Sou adepto das redes sociais para divulgação e sensibilização, mas nunca poderemos esquecer que não há nada como um convívio, uma ação, uma divulgação ou sensibilização presencial. As redes sociais são uma excelente ferramenta de trabalho, mas não substituem a emoção e paixão com que fazemos o nosso trabalho de sensibilização e divulgação presencial.

JRA: Qual a sua opinião sobre o estado do ambiente em Viseu?
Somos considerados como a cidade Jardim e isso é um bom indicador para todos os viseenses. Como dinamizador de ações e projetos em educação ambiental, eu considero sempre que o trabalho para melhorar as condições ambientais nunca termina e que temos sempre algo a melhorar. Em Viseu podemos seguramente fazer mais e melhor mas também é preciso reconhecer que temos bons indicadores e muito bons espaços verdes.

JRA: Se fosse eleito presidente da Câmara o que fazia de imediato em prol do ambiente?

Com um simpático sorriso digo que esta questão pode e deve ser colocada a quem realmente tem a pretensão de ser candidato a Presidente da Câmara. O que eu espero é que todos os municípios do nosso País tenham uma especial atenção para as questões ambientais uma vez que um ambiente saudável é dos principais indicadores para uma boa qualidade de vida.

JRA: Qual a sua palavra/expressão favorita?

“Impossível só o é até que o consigamos alcançar” Utilizei esta frase na minha dissertação do primeiro mestrado porque levei anos a achar que nunca conseguiria sequer voltar a estudar e hoje já penso em fazer um doutoramento que é impossível até que o consiga alcançar.
JRA: Quer deixar uma mensagem aos jovens?

Nunca deixem de acreditar em vocês próprios. Lutem pelo que é correto, lutem pela igualdade e respeito pelo próximo. Se bom não é ser popular, ser bom é ter consciências dos atos que praticamos em benefício de todos. O futuro começa hoje no caminho e escolhas de cada um. Escolham ser felizes, educados, honestos e divertidos e serão sempre melhores

 

Sara Lemos e Madalena Amaral