E@D veste-se de luz artificial e ameaça saúde em Portugal

O Ensino à Distância (E@D) e o excesso de luz artificial presentes nas habitações, poderão ser causadores de danos, na saúde, tendo em conta o confinamento obrigatório a que todos os alunos de Portugal estão sujeitos. Este fenómeno de poluição luminosa é dos menos conhecidos, contudo representa graves danos para os seres vivos.

O E@D é, neste momento, a solução encontrada para responder às aprendizagens dos alunos de todos os níveis de ensino e combater a pandemia que assola o nosso quotidiano. Esta solução tem como consequência o excesso de ecrã com luz branca artificial ao longo do dia e a ausência de luz natural. Temos uma Geração digitalizada que sofre e sofrerá profundamente, representando um problema de saúde pública.

Os receptores e emissores do E@D ficam muitas horas sem apanhar sol, fechados e dependentes quase única e exclusivamente da iluminação artificial. O excesso de luz artificial, ou poluição luminosa, causa danos irreversíveis  à saúde de todos nós, tendo também consequências para a vida selvagem e para a vida do planeta. Para os humanos, pode provocar problemas de pele ou visão, perturbar e influenciar o nosso sono (ritmo circadiano). Consequentemente, e segundo a Agência francesa de Segurança Sanitária, Alimentação, Meio-Ambiente e Trabalho,  deparamo-nos  com problemas de obesidade, mudanças de humor e depressão, bem como o  aumento do risco de cancro. A exposição, a curto prazo, às lâmpadas LED podem ter um efeito tóxico para os olhos. Mas, a longo prazo traz consigo um aumento de risco de Degeneração Macular. Segundo  Alícia Torriglia, que estuda os efeitos da toxicidade da luz artificial na visão, na Faculdade de Medicina de Paris, a Degeneração Macular é uma doença grave que provoca uma perda gradual da visão, provocada pela deterioração da porção central da retina. O estudo aponta para um risco mais elevado, quando envolve o uso excessivo de telemóveis, tablets e computadores.

Para esta investigadora,“O grande problema da luz azul e da luz em geral, é o tempo de exposição. Essa é a grande questão, que conhecemos e estudamos há bastante tempo”. Há necessidade de tomar precauções, neste momento, para evitar que daqui a  20 ou 30 anos não tenhamos casos de Degeneração Macular, aos 50 anos. A degeneração macular através da luz azul não causa cegueira total, mas compromete de forma irreparável a visão central.Os seus principais sintomas centram-se na redução da nitidez das cores, vista não nítida e com manchas, presença de distorção das linhas retas e perda progressiva da visão central.

A prevenção passa por uma medida preventiva mais eficaz, que é evitar o excesso de exposição. Para isso, deve diminuir-se o tempo diante de televisores e, principalmente, dos ecrãs de telemóveis e computadores, que estão quase sempre  mais próximos do campo de visão. Quanto mais distante dos olhos, menor é a incidência da luz azul na retina. Segundo o Professor  Doutor Salgado Borges: “A regra dos 20-20-20 também se aplica. Ao fim de 20 minutos em frente a um ecrã, deve parar 20 segundos, focar um objeto a 20 metros e pestanejar.”Para a médica oftalmologista Isabel Rito, o computador deverá ficar perpendicular à janela e com uma distância de 1,5 metros. Não devem existir reflexos provenientes da iluminação artificial ou das janelas. As fontes de luz artificial devem estar dispostas, de modo a que não ocorram reflexos que possam causar encadeamento. Utilização de uma distância de 35-40 cm, entre os olhos do utilizador e o ecrã. O equilíbrio entre a luz do ecrã e a luz do ambiente é um fator fundamental, uma vez que quando a luz é distribuída de forma errada, pode originar brilho e consequentemente fadiga, segundo o oftalmologista José Nolasco.

 Impacto da poluição luminosa na vida selvagem

Sob a perspectiva de Steven Lockley, da Divisão de Medicina do Sono da Escola de Medicina de Harvard, a poluição luminosa produz alterações no padrão sazonal das árvores e na reprodução dos anfíbios. Atraídos pelas luzes artificiais, muitos pássaros saem do seu percurso migratório, colidem com construções humanas e morrem. Como é o caso também dos painéis publicitários de grandes dimensões, que matam milhares de insectos. O excesso de luz artificial afeta de forma significativa os ciclos migratórios, alimentares e reprodutivos de diversas espécies de animais e plantas, pondo em risco a sustentabilidade dos ecossistemas.

Fotografia: Sofia Vale

 

Fontes:

https://www.universia.net/pt/actualidad/orientacao-academica/quais-os-efeitos-da-luz-artificial-na-saude-1159932.html

https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/06/04/uso-prolongado-de-lampadas-led-pode-danificar-retina-aponta-relatorio.ghtml

https://olharcerto.com.br/guia-do-olhar/post/degeneracao-macular-por-luz-azul-o-que-e-e-como-se-proteger

Sofia Vale, Alícia Vale