É urgente educar: dentro ou fora da escola?

“A Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania, bem como o Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória são claros. Precisamos de desenvolver nos alunos competências como o pensamento crítico e criativo e valores como a curiosidade, reflexão e inovação”. É esta a ideia que marca a abertura do Seminário Nacional Eco-Escolas 2023, a decorrer em Soure, proferida por Rui Lourenço, técnico da Direção de Serviços de Projetos Educativos da Direção-Geral da Educação.

O Seminário, que decorreu entre os passados dias 21 e 23 de janeiro, coincidente com um período marcado por greves e manifestações de professores por todo o país. José Archer, presidente da Associação Bandeira Azul Europa (ABAE), entidade organizadora do evento, acredita que este é, por isso, um momento chave para focar neste trabalho: “Os professores estão na ordem do dia, não pelas razões que deveriam estar. Esta é a altura para percebermos o papel central que um professor tem em qualquer projeto. É da cooperação entre todos os membros da comunidade que a escola evolui e se torna mais atrativa, mais capaz de propiciar um maior bem estar para os seus alunos”.

Foram distribuídos, durante o Seminário, certificados de qualidade e excelência, que distinguiram as boas práticas ambientais das escolas premiadas.

Exemplo deste ideal é a mais recente iniciativa do programa Eco-Escolas, os “Recreios com Vida”. O projeto consiste “na realização de atividades, jogos e dinâmicas no espaço exterior do recinto escolar”, descreve Margarida Gomes, coordenadora dos programas educativos da ONG ambiental. Com “Espaços Exteriores e Biodiversidade: Preservar e Regenerar” como tema do programa de educação ambiental pelo segundo ano consecutivo, a preocupação com a conexão das crianças com a natureza é cada vez mais notória. Carlos Neto, professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa e embaixador da Associação Vitamina Natureza, que pretende “devolver as crianças à natureza”, afirma que “o estilo de vida atual acaba por retirar às crianças tempo e espaço para si, para brincarem ou mesmo para se confrontarem”.

Foram, portanto, vários os momentos ao longo do Seminário no qual foi dado ênfase à necessidade urgente de adaptar a educação formal, dentro da sala de aula, e torná-la dinâmica, propiciando aos alunos a possibilidade de aprender, experimentando. “As crianças, crescendo afastadas da natureza, não têm como aprender a protegê-la, por exemplo.”, deixa claro João Morgado, Presidente da Associação Vitamina Natureza e membro da International Play Association (IPA). “Não podemos falar de educação ambiental sem deixar as crianças ir para o meio natural, ver a biodiversidade existente e a poluição que a coloca em risco.”.

João Morgado apresenta alguns dos benefícios do contacto com a natureza, através de brincadeiras, como parte do desenvolvimento das crianças.

Victor Martins, professor da Escola Básica 2,3 André Soares e vencedor do Biodiversity Lesson Plan Competition: Gaia 2030, concorda com a necessidade de atividades de campo, por exemplo, que desenvolvem “características importantíssimas”. “É através destas que atingimos o verdadeiro conhecimento metacognitivo, segundo o qual o aluno tem um conhecimento mais pleno sobre a sua aprendizagem e consegue conectar aquilo que aprende nas diferentes áreas: do método científico à utilização das artes como ferramenta de trabalho, passando pelos conteúdos matemáticos entre outros”. 

Esta partilha de ideias e experiências, vivência marcante do Seminário que, anualmente, reúne centenas de professores de todo o país, esclarece as necessidades atuais: equipar os alunos, independentemente dos seus contextos de origem, para lidar com os desafios (muitos ainda desconhecidos) do século XXI, através da mudança do paradigma da educação como a conhecemos no presente.

Catarina Semedo de Oliveira, Diogo Martins