Desenvolvimento e sustentabilidade… qual o segredo?

No mundo actual, tecnologicamente cada vez mais evoluído, já ninguém, contudo, questiona que as alterações climáticas são uma realidade, que a biodiversidade é cada vez mais posta em risco, empobrecendo o património genético do planeta ou que recursos essenciais como a água se encontram fortemente ameaçados. Poderá esta situação ser invertida? Estará Portugal à altura deste desafio?

No mundo actual, tecnologicamente cada vez mais evoluído, já ninguém, contudo, questiona que as alterações climáticas são uma realidade, que a biodiversidade é cada vez mais posta em risco, empobrecendo o património genético do planeta ou que recursos essenciais como a água se encontram fortemente ameaçados. Poderá esta situação ser invertida? Estará Portugal à altura deste desafio?

A Universidade de Évora e concretamente o Departamento de Engenharia Rural desta universidade portuguesa respondem-nos de modo muito afirmativo a esta questão.

De facto, tem vindo a ser desenvolvido um trabalho sustentado de investigação e de inovação tecnológica com ligação ao mundo rural, nomeadamente á utilização sustentável de água na agricultura.

Mas comecemos pelo princípio…

Cada vez mais, devido a vários fatores, o consumo de água na agricultura atinge valores preocupantes, e, globalmente, o setor agrícola consome cerca de 70% da água doce acessível no planeta. Na Europa, um terço do consumo de água é, de facto, gasto neste sector.

Foi neste contexto que a Universidade de Évora criou um controlador de água – O Ecorega TX – que pode estimar as perdas diárias de água das plantas, ou a evapotranspiração. Uma vez a evapotranspiração calculada, o sistema irriga automaticamente no tempo e frequência definidos, restaurando a água perdida pelo solo (com um rigor de 95%).

Como o professor Shakib Shahidian, que lidera esta pesquisa, nos disse “Na verdade, o Ecorega pode irrigar seis setores de irrigação diferentes, cada um com sua própria cultura específica. O sistema também tem a capacidade para realizar a fertilização, quando necessário, melhorando a produção agrícola.”

Esta tecnologia pretende substituir o programador tradicional de sistemas de rega, que, apesar da evolução deste sistema, ainda está associado a grandes perdas de água, e, consequentemente, ajustar a quantidade de água necessária para a irrigação com base na temperatura, radiação solar, características do lugar e do tipo de flora.

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O Ecorega (imagem amavelmente cedida por Shakib Shahidian)

O Professor Shahidian, que trabalha este conceito desde 1995, explicou-nos, ainda, que a montagem de um sistema deste tipo é mais barata do que a montagem de um sistema de irrigação convencional, e que “existe um acordo com uma empresa nacional, ProTerra, que irá produzir um novo modelo completamente fabricado em Portugal. Está, actualmente, a finalizar o equipamento, a fim de ser apresentado a algumas autoridades locais.”

Esta tecnologia – forma muito simples e eficiente de aplicação de um sistema de irrigação inteligente –  já foi utilizada nos espaços verdes circundantes do Castelo de Silves e na Herdade da Mitra. Agora o seu criador  assume que está pronta para ser usado em espaços agrícolas maiores , em grandes áreas de jardins, bem como em campos de golfe.

Embora não utilizando o Ecorega, o Belas Clube de Campo é também um bom exemplo como a criatividade e a tecnologia podem superar as expectativas e ter boas práticas ambientais.

De facto, com base em méritos ambientais e nas soluções assumidas para reduzir o consumo de água. Em 2011 – O campo de Golfe do Belas Clube de Campo obteve a Certificação GEO (Golf Environment Organization), uma norma internacional, concedida, pela primeira vez em Portugal e na Península Ibérica. No mesmo ano, A revista National Geographic notifica-o entre os 10 campos de golfe do Mundo, certificados pela GEO, com a melhor prática de gestão ambiental, em particular do recurso Água.

O empreendimento apresenta preocupações de enquadramento paisagístico, uma baixa densidade habitacional, e proteção dos habitats naturais, promovendo uma flora diversificada e autótone.

“A fauna e flora foram alvo de um levantamento exaustivo e são, hoje, parte integrante do ecossistema do empreendimento; o controlo da utilização de químicos e fertilizantes, a optimização dos consumos e o controlo da qualidade da água, a gestão dos resíduos produzidos, o controlo dos consumos energéticos e combustíveis, o controlo das emissões de ruído são a chave para uma correcta gestão ambiental “, refere-nos Lourenço Vaz Pinto, o Greenkeeper do campo.

Ao longo da entrevista, que este colaborador do Belas Clube de Campo nos concedeu, ficou bem vincada a preocupação em minimizar o impacto negativo que o Golfe pode ter na paisagem, na biodiversidade e no consumo de água. O campo tem uma área muito extensa de abrigos de animais. Com facilidade se encontram casas de madeira para que os pássaros nidifiquem ao longo dos cursos.

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Fotos cedidas pelo Greenkeeper do Belas Clube de Campo

“Certas áreas cobertas de vegetação ao longo do campo são mantidas intactas, precisamente para interferir o menos possível com a natureza. Os lagos existentes são como um lar para muitas aves que passam ou nidificam aqui. Como “clientes” permanentes, temos patos e galeirões. Coelhos e perdizes são vistos diariamente .” acrescentou.

A boa gestão da água neste empreendimento tem recebido o reconhecimento nacional e internacional.   A rega está computorizada – um medidor de fluxo controla a água para irrigação – e a água eventualmente em excesso, rola para os  lagos existentes ao longo do campo.

Por outro lado, usam um conjunto de espécies de gramíneas selecionadas cuidadosamente para reduzir o consumo de água.

A gestão de resíduos também é feita de uma forma muito organizada, uma vez que o clube conta com vários contentores para permitir uma correta seleção de ferro, madeira, papel, óleos, plásticos, etc. Duas vezes por ano, uma empresa certificada recolhe estes recipientes de materiais recicláveis.

Este projeto conta com painéis fotovoltaicos que são geradores de energia que permitem a venda de energia à rede (EDP), com benefício financeiro  considerável.

Reconhecido pelo seu trabalho em termos de sustentabilidade e  desempenho ambiental, é uma referência e um projeto criativo único.

Na verdade, a criatividade não é apenas um artifício supérfluo. Parafraseando Steve Jobs,  “Criatividade é apenas conectar as coisas!”.

Criatividade, inovação tecnológica e gestão responsável – características patentes nos dois exemplos acima citados – aumentam a esperança de um futuro sustentável e provam que Portugal está, também,  capaz de responder  com criatividade e gestão responsável aos mais difíceis  desafios!