Descartar o futuro – A nova ameaça ao ambiente / Flushing the future The new threat to the environment: the wet wipes

Com a expansão baseada na economia do consumismo, na cultura de usar e deitar fora e os grandes avanços técnicos registados em todos os âmbitos, as pessoas ávidas de “coisas” deram asas à velha máxima “longe dos olhos... longe do coração”. Esta forma de consumir e descartar começa a ter proporções dantescas e a gerar um gravíssimo impacto no ambiente. Não questionando o impacto de pequenos gestos, o uso fácil e generalizado tornou as toalhitas um dos produtos modernos mais utilizados. Existe no mercado uma variedade enorme deste produto: para bebé, desmaquilhantes, de limpeza doméstica, para animais... São efetivamente úteis, práticas e de fácil utilização. O problema é que as pessoas desconhecem a forma correta de as deitar fora.

A maior parte das toalhitas não são 100% biodegradáveis, o que é já um problema, agravado pelo facto de, após a sua utilização, elas irem impregnadas de químicos (de maquilhagem ou gordura corporal, por exemplo). A isto junta-se o hábito (ao que parece, frequente) de serem deitadas para a sanita, o que tem provocado graves entupimentos nas redes de saneamento em cidades de todo o mundo. Ao contrário do papel higiénico, as toalhitas não se desintegram e são de difícil remoção.
Em Portugal, a situação ainda não é tão dramática, mas as toalhitas provocam cerca de 90% dos entupimentos em prédios urbanos.

A maioria das toalhitas existentes no mercado são feitas de material não degradável, o que causa um efeito negativo na qualidade da água dos esgotos e posteriormente nos rios. Como não são biodegradáveis devido às fibras de plástico que fazem parte da sua composição, o efeito deste comportamento não só tem impacto na contaminação das águas do mar, como prejudica o habitat e a saúde de espécies, podendo voltar para nós na forma de um apetitoso prato de peixe.

Deitá-las em sanitas parece ser uma opção lógica para muita gente, mas este comportamento causa entupimentos nas condutas das cidades, permanece escondido na escuridão das canalizações, reaparecendo nas ETAR ou, em caso de condutas clandestinas, num rio perto de nós. Foi assim que este problema veio parar «às mãos» de um grupo de alunos do eco-escola da EB2,3 André Soares (Braga).

Aglomerado de toalhitas presa na vegetação

Foi numa ação de limpeza deste rio, que se vê com problemas ambientais há imensos anos, que os alunos se depararam com uma massa branca presa na vegetação na berma do rio, escondida dos olhos de quase todas as pessoas. Numa primeira abordagem não foi possível identificar aquelas “coisas” presas a silvas e plantas. A um determinado momento um elemento do eco-escolas desdobrou aquela massa branca e conseguiu refazer vários quadriláteros brancos… soltou-se então um “UI!!! São toalhitas de limpar os rabinhos!”. De onde poderiam vir?… canalizações clandestinas que nos trouxeram à tona um comportamento em que não acreditávamos… havia pessoas que lançavam as toalhitas usadas para as sanitas!

Toalhita recolhida no leito do rio

Após outra ação de limpeza com as mesmas constatações quanto à presença de toalhitas em toda a zona intervencionada, o grupo do eco-escolas decidiu procurar saber qual o destino dado às toalhitas usadas pelos Encarregados de educação do AE André Soares. Foi, então, aplicado à comunidade escolar um inquérito online no sentido de apurar os hábitos da população quanto ao uso e descartamento deste produto.
Pelo estudo, constatou-se que cerca de 68% dos inquiridos usa algum tipo de toalhita no seu quotidiano, sendo que 22,1% confirma que as coloca na sanita.

Dados recolhidos dos inquéritos

Menos de metade dos inquiridos (48,7%) reconhece saber que as toalhitas são prejudiciais ao meio ambiente, o que revela ainda bastante desconhecimento quanto a uma problemática tão importante. Estes dados confirmaram os receios sobre a densidade deste problema, pois mais de um quarto dos inquiridos usam a sanita para eliminar as toalhitas, com todas as consequências para a nossa saúde, ambiente e futuro. Além do esforço financeiro para as nossas ETAR em fazerem frente ao estrangulamento das redes de esgotos, entupimento e resolução de todas as consequências. Embora este estudo tenha sido aplicado a um número reduzido de pessoas, não deixa de ser representativo da realidade das famílias bracarenses e não pode passar despercebida a percentagem referente à utilização diária.

Tendo em conta que, quando as águas residuais são lançadas para os rios, já passaram por um longo processo de depuração, coloca-se a questão: que quantidade de toalhitas chegará às ETAR e quantas ficarão «presas» pelo caminho?

Toalhitas e companhia vindo das descargas ilegais

A vegetação trava o lixo das descargas ilegais

Têm sido publicados vários textos jornalísticos a dar conta desta problemática, nomeadamente em Portugal, tentando alertar a população para o que chamam de “pesadelo”. Além de constituir uma grande ameaça para o meio ambiente, esta adversidade leva os municípios a ter despesas elevadas para a sua resolução, recorrendo a dinheiro dos contribuintes que poderia servir para outros fins.

Escondidas das vistas

De que forma poderá o cidadão contribuir para minimizar este impacto? Começando pela redução do uso diário de toalhitas (em diversas circunstâncias podem ser facilmente substituídas por panos laváveis), pela aquisição apenas de toalhitas biodegradáveis (se um produto não tiver procura, os fabricantes procurarão melhorá-lo) e, é claro, pela colocação das toalhitas utilizadas no caixote do lixo e nunca na sanita.

É evidente que cabe aos responsáveis alertar para a correta utilização deste produto e dos riscos para o ambiente através da rotulagem informativa, mas o consumidor tem aqui (como sempre) o papel mais importante e ativo.
São urgentes campanhas locais sobre esta situação preocupante, que não fique confinada à canalização das cidades… “escondidas dos olhos e do coração”. É urgente alterar atitudes, desenvolvendo espíritos críticos e pró-ativos de consumidores informados e assertivos.

Eco-escola em ação

Verificar a qualidade da água

Medir os parâmetros de qualidade da água do rio Este

Os voluntários desta ação de limpeza e descobertas

Ainda se descobriu um resistente!

 

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Flushing the future The new threat to the environment: the wet wipes

 

Most wet wipes are not 100% biodegradable, which is a problem by itself, made worse by the fact that, after being used, they become soaked with chemicals (from make-up or body fat, for example). Also, the (frequent, as it seems) habit of being flushed down the toilet has caused serious clogging issues in the sanitation network of cities all around the world. Unlike toilet paper, wet wipes don’t disintegrate and are hard to remove.

Cluster of wipes caught in the vegetation

In Portugal, the situation is not so dramatic yet, but wet wipes are the cause of about 90% of clogs in urban buildings.

Most wet wipes in the market are made of non-biodegradable materials. That has a negative effect on sewer water quality, and posteriorly on the rivers. Since they are not biodegradable, due to the plastic fibers that are part of the wipes, this affects not only the contamination of the sea water, but also the habitat and health of animals, that come back to us in the shape of a delicious fish dish.

Flushing them down the toilet seems to be a logical option for a lot of people, but this behavior leads to clogs in pipes of cities, and remains hidden in the darkness of plumbing, reappearing in the water treatment stations or, in case of clandestine piping, in a river close to us. That’s how this problem landed in the “laps” of a group of eco-school students from EB23 André Soares (Braga).

It was while cleaning this river, which had been dealing with environmental problems for many years, that the students stumbled upon a white mass stuck in the vegetation by the river bank, hidden from most people’s eyes. In an initial approach it wasn’t possible to identify those “things” stuck to shrubs and plants. At a certain moment a member of eco-schools unfolded that white mass and was able to put together several white rectangles… they let out a “WOAH!!! These are wipes to clean the butt!”. Where could they have come from?… clandestine piping brought up a behavior we couldn’t believe… there were people who flushed their used wet wipes down the toilet!

Wiopes collected on the riverbed

After another session of cleaning with the same findings regarding the presence of wet wipes in the entire intervention zone, the eco-schools group tried to discover the fate of the wet wipes used by the guardians of AE André Soares’ students. An online survey was then given to the school community, to find out the habits of the population regarding the use and discarding of this product.

The study revealed that about 68% of respondents use some sort of wet wipes in their everyday life, with 22.1% confirming that they flush them down the toilet.

Less than half the respondents (48.7%) seemed to know that wet wipes are bad for the environment, which reveals there’s still much ignorance regarding such an important problem. This data confirms the fears about the scale of this problem, seeing as almost a fourth of respondents use the toilet to get rid of wet wipes, with all the consequences for our health, environment and future, along with the financial struggle for out water treatment stations to fight the strangling of sewers, clogging and dealing with the consequences. Although this study was done on a small group of people, it’s still representative of the reality of the families in Braga, and the percentage related to the daily usage can’t go by unnoticed.

 

Keeping in mind that, when residual waters are released to the rivers, they already went through a long cleansing process, a question arises: how many wet wipes reach the water treatment stations, and how many get “stuck” along the way?

 

Many journalistic articles have been published talking about this problem, namely in Portugal, trying to alert the population to what they call a “nightmare”. In addition to being a big threat for the environment, this adversity leads to municipalities spending a lot to solve it, using taxpayer money that could’ve been used in other ways.

The vegetation locks up the illegal litter.

Wipes and another litter.

In what ways can a citizen contribute to minimize this impact? Starting by reducing the daily usage of wet wipes (in many circumstances they can be easily switched by washable cloths), by buying only biodegradable wipes (if a product has no demand, the suppliers have to improve it) and, of course, by putting used wipes in the trash and never the toilet.

 

It’s clear that it’s up to those who are responsible to make people aware of the correct usage of this product and the risks it has for the environment, through informative labelling, but the consumer has, in this case (as in all others), the most important and active role.

Local campaigns about this situation are urgent, it can’t remain deep in the plumbing of the cities… “out of sight and out of mind”. We need urgently to change attitudes, developing critical and pro-active spirits of informed and assertive consumers.

 

Checking water quality

Eco-school in action

Measuring the water quality parameters of the “East River”

It was still discovered the few resistant

Ana Manuel Santos, Tiago Cunha