Das microalgas ao biodiesel

A procura de recursos limpos que visem um desenvolvimento sustentável em prol de um futuro mais harmonioso para com o ambiente constitui um dos maiores desafios da actualidade.

A produção de biodiesel pode ser uma prática a ter em conta para fins de desenvolvimento sustentável, uma vez que a utilização destes biocombustíveis ajudará a reduzir a dependência de combustíveis fósseis, mais nocivos e em rota de término no nosso planeta (Antunes, et al., 2010).

Um grupo de alunos do Colégio Valsassina desenvolveu um estudo onde se procurou responder à: Como se pode aproveitar os lípidos produzidos pelas microalgas (Scenedesmus e Tetraselmis suecica) para a produção de biodiesel?

Processo de extracção no SOXHLET

Processo de extração no SOXHLET

A produção de petróleo provém da decomposição de algas que existiam há milhões de anos atrás. O processo de produção de biodiesel a partir de microalgas assemelha-se a esse excepto que não será necessário recorrer a algas decompostas e que haverá intervenção de luz solar, água e dióxido de carbono, permitindo a execução de fotossíntese às microalgas.

As microalgas são seres autotróficos e como tal produzem o seu alimento, não tendo de retirar nada da Natureza para alem de matérias-primas, como água. Através de processos fotoquímicos e químicos as microalgas oxidam as moléculas de água, retirando desta os protões de hidrogénio. Através destes completam um ciclo de transferência de electrões, sendo que desta forma acabam por produzir matéria orgânica. Esta é a sua fonte de energia, sendo que quanto melhores forem as condições do ambiente, maior será a sua taxa de desenvolvimento e portanto será de maior interesse para o produtor de biodiesel que tenha as condições o mais próximo do ideal, a fim de produzir a maior quantidade de óleo possível.

O grande desafio de hoje em dia trata-se de como otimizar este processo de obtenção de biodiesel (Antunes,et al., 2010). O que se deve, fundamentalmente, à variedade intra e interespecífica dos organismos da família das microalgas. Estas variações consistem em variações quanto ás quantidades de óleo, viscosidade e qualidades do mesmo. Existem também variações que ocorrem a nível do procedimento experimental propriamente dito, como por exemplo, a variedade de materiais utilizados e as condições de utilização dos mesmos, que poderão influenciar os resultados (Souza Ribeiro Bueno, 2007).

O biodiesel possui inúmeras vantagens em relação aos combustíveis atualmente mais utilizados já conhecidas de antemão. Às suas vantagens é também somado o facto de o nosso território nacional constituir um meio muito viável para a produção de matérias-primas no processo de produção de biodiesel. Isto deve-se à ao nosso solo agrícola favorável (Teixeira, 2012). As microalgas encontram-se entre um vasto leque de matérias-primas que possibilitam a produção de biodiesel como soja, algodão, canola, semente de girassol, baga de mamona, amêndoa de coco, semente de tomate e de nabo forrajeiro e muitas outras. Para que se possa considerar uma certa substância matéria-prima para este efeito, é necessário que esta possua na sua constituição triglicerídeos (biomoléculas da família dos lípidos) e consequentemente, glicerol e ácidos graxos. Por outras palavras, são compostos que possuem óleos sejam eles vegetais, animais, residuais ou até mesmo gordura animal.[1]

Os óleos encontrados nas microalgas são física e quimicamente semelhantes aos óleos vegetais, sendo classificados como potenciais matérias-primas para a produção de biodiesel.

Os primeiros resultados obtidos ao longo do trabalho parecem provar as microalgas são capazes de produzir cerca de 25 mais vezes que uma planta oleaginosa, tornando-se mais rentável no momento da extração lipídica e, consequentemente, mais rentável para a produção do combustível.[2]

No entanto, o rendimento dos processos de extracção revela-se como o principal obstáculo que impede a produção mais regular de biodiesel a partir de microalgas. Para conseguir uma quantidade decente de biodiesel será necessário um tanque de microalgas, independentemente da espécie a que pertencem. Com este trabalho, verificámos que os processos que levam a uma cultura saudável de microalgas são bastante demorosos, sendo que, para atingir uma escala decente e viável para a obtenção de óleo em quantidades que possibilitam a produção de biodiesel, será necessário, no mínimo, 1 mês de cultura, dependendo da estirpe.

Actualmente, várias empresas portuguesas utilizam as microalgas na produção de biocombustíveis, a preços competitivos. Contudo, e apesar das inúmeras vantagens, o processo de obtenção de óleo através de microalgas é ainda ligeiramente mais caro do que a produção com plantas oleaginosas.

Referências bibliográficas:

Antunes, R., Cristóvão Silva, I., Utilização de Algas para a Produção de Biocombustíveis, Dezembro de 2010.

Souza Ribeiro Bueno, L., Estudo da Influência da Composição do Óleo Vegetal sobre algumas Propriedades do Biodiesel, 22 de Agosto de 2007.

Teixeira, C., Microalga como Matéria-prima para a Produção de Biodiesel, http://www.dms.ufsc.br/mip5131/arquivos/Biodiseldealgas.pdf, (consultado em 23/10/12).

 


[1] Disponível online em: http://www.biodieselbr.com/plantas/oleaginosas/index.htm  Consultado em 22/03/2013

[2] Disponível online em: http://www.sbpcnet.org.br/livro/63ra/arquivos/jovem/75prodbiodiesel.pdf Consultado em 23/03/2013

Diogo Silva, Gonçalo Mota Carmo, Tomás Carvalho