Cultivar ou não cultivar?

cultivar

As regiões cársicas, como a região das Serras de Aire e Candeeiros, são, desde há muito, alvo de discussões acerca da sua conservação e valorização. Há quem diga que devem ser conservadas e são rochas importantes, outros dizem que as desvantagens sobrepõem-se às qualidades. Em relação à agricultura, qual será o veredito?

Geologicamente, a zona das Serras de Aire e Candeeiros faz parte da Orla Mesozóica Ocidental, que é constituída principalmente por calcário como o Algarve (orla meridional).
Estas orlas são muito especiais e bastante diferentes do resto de Portugal pois resultam de regressões marinhas, isto é, não têm a mesma origem que a maior parte das rochas do nosso país. Uma boa terra para a agricultura tem de ser rossa (uma acumulação de sedimentos não consolidados) e húmida. Estas morfologias cársicas, ou seja, maciços calcários são dificilmente erodidos porque a calcite, principal constituinte do calcário, é insolúvel na água da chuva normal. Assim, dificilmente se formam sedimentos que potenciem a evolução do solo de modo a criar uma boa terra, rica mineralogicamente para a agricultura. Se a água contiver COdissolvido, torna-se ácida e já dissolve a calcite. No entanto, mesmo que a água consiga erodir a rocha, infiltra-se em profundidade e não provoca alterações a nível superficial, nem sedimentos que originem uma terra rossa não permitindo a evolução do solo. Por isso, é difícil encontrar bons solos para a agricultura na beira litoral ou no Algarve que são orlas muito calcárias.

No entanto,pratica-se a agricultura nas Serras de Aire e Candeeiros mas não é em grande escala, é apenas agricultura de subsistência. Os agricultores desta zona centram os seus cultivos no vale porque é lá que se acumulam os sedimentos e nunca nas vertentes calcárias. Mesmo assim têm de recorrer à despedregação do terreno antes de cultivar. A meteorização física e química e a erosão das regiões cársicas são importantes para a evolução do solo e para a agricultura. Todavia é compreenssível a manutenção destes locais porque, regra geral, formam-se grutas subterrâneas muito ricas e belíssimas para o turismo. A Gruta do Algar da Pena e as de Santo António nas Serras de Aire e Candeeiros são bons exemplos disso.