Conservação e valorização do património das regiões cársicas

O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) constitui uma área protegida criada em 1979 que envolve 7 municípios: Alcobaça, Porto de Mós, Alcanena, Rio Maior, Santarém, Torres Novas e Ourém.

conservação

Formado a partir da precipitação de substâncias dissolvidas na água, essencialmente carbonato de cálcio (CaCO3), o parque abrange parte significativa do Maciço Calcário Estremenho (MCE), datado do Período Jurássico (há cerca de 160 milhões de anos). O seu património natural é ainda constituído pelo Monumento Natural das Pegadas de Dinossauros da Serra de Aire – importante registo fóssil do período Jurássico –, por uma fauna bastante diversificada – 100 espécies de aves nidificantes, 10 diferentes espécies de morcegos, entre outras – e, fundamentalmente, por diversas formas naturais ligadas à recolha, transporte e armazenamento de água – pias, caleiras, aquedutos, cisternas, poços, lagoas, etc –. Na mesa, merecem destaque os produtos locais como o queijo e os enchidos, o mel e o tempero fornecido pelas plantas aromáticas e condimentares que ali abundam.

O elemento água é responsável pela formação de várias estruturas que enriquecem o património natural do PNSAC. Apesar da escassez de cursos de água de superfície nesta região, estes existem em abundância no subsolo, formando um dos maiores reservatórios de água doce subterrânea do nosso país. Este reservatório, que vai de Rio Maior até Leiria, é alimentado principalmente pela água das chuvas que se infiltra no subsolo formando ribeiras subterrâneas. O único curso de água permanente dentro do parque é a Ribeira dos Amiais. Existem também algumas lagoas permanentes: Lagoa Pequena e Lagoa Grande do Arrimal, Lagoa do Casal de Vale de Ventos, Lagoa de Alvarados e Lagoa dos Candeeiros. A acumulação de água nestes locais é possível devido ao facto de estarem impermeabilizados com argilas. A circulação de água, no interior do Maciço, é ainda responsável pela formação de mais de 1500 grutas, com destaque para as grutas de Mira de Aire (1947), as maiores de Portugal. Existem ainda umas “piscinas”, preenchidas por águas provenientes de furos, pela precipitação e por uma pequena nascente, utilizadas, caso necessário, no combate a incêndios.

A acção das águas, como agente físico-químico modelador dos calcários, originou ainda uma paisagem marcada por formas de relevo características. O calcário, presente no MCE, não é permeável em virtude da sua porosidade, mas em consequência de um sistema de fendas, relacionado com fracturas e diáclases, condicionadas pela tectónica. Estas fendas permitem a passagem e infiltração da água das chuvas, originando a dissolução química do calcário, que lentamente o moldam, originando as mais variadas formas: lapiás, dolinas, uvalas poljes, canhões, grutas, algares, lapas, etc. Da dissolução do calcário, resulta a terra rossa – material de natureza argilosa de cor avermelhada –, presente em toda a área do Parque natural. A água assume assim um papel preponderante, ora como agente erosivo, ora como elemento fundamental à vida. É a ela que se deve a importância do Maciço Calcário Estremenho em termos geomorfológicos, pela multitude de formas cársicas gravadas no calcário existentes em toda a sua extensão – dolinas, uvalas, polje, algares, lapas, grutas, lapiaz, etc –. O Monumento Natural das Pegadas de Dinossauros da Serra de Aire, onde se verificam fósseis de fauna marinha, constitui, ainda, um importante testemunho da presença de mar naquela área, em eras anteriores.