Comer fruta feia torna-nos mais bonitos

A cooperativa Fruta Feia combate o desperdício alimentar, que se estima que em Portugal seja cerca de um milhão de toneladas anuais, de modo a evitar a destruição de alimentos que podem ainda ser consumidos. A cooperativa “salvou” cerca de duas mil toneladas de frutas “feias”, sem calibre ou simplesmente indignas de estar à venda em superfícies comerciais. Esta cooperativa está a colaborar com cerca de 300 produtores nacionais, valorizando as suas produções e produtos, que teriam como fim a destruição e o lixo, desvalorizando e desperdiçando o seu trabalho.

 

Fruta Feia

Fotografia cedida pela cooperativa Fruta Feia

Mais de duas mil toneladas de alimentos, que acabariam por ir para o lixo, sem qualquer tipo de valorização,  por serem classificados como “Frutas Feias”, foram salvos pela cooperativa portuguesa Fruta Feia. Desde 2013, segundo Maria Canelhas, gestora técnica do projeto FLAW4LIFE, e dinamizadora local da Fruta Feia, a cooperativa “ luta contra o desperdício alimentar devido à aparência. O principal objetivo é reduzir as toneladas de desperdício que vão parar ao lixo todos os anos, porque não obedecem aos padrões estéticos que o mercado regular exige, tendo em conta o formato, a cor ou o calibre”. 

Esta iniciativa traz esperança aos produtores, que não conseguem escoar os seus produtos, por estes não se enquadrarem nos padrões pretendidos pelas superfícies de grande distribuição, responsáveis pela maior fatia da revenda de produtos frutícolas. Maria Canelhas revela que “esta fruta é comprada diretamente aos produtores da região, é posta em cabazes e estes cabazes são vendidos diretamente aos consumidores associados à cooperativa”. Para poder beneficiar destas ofertas,  a Maria Canelhas informa que “como somos uma cooperativa de consumo, as pessoas têm de se registar para poder aceder aos nossos cabazes, ou seja, não fazemos uma venda aberta”.

Fruta Feia

Fotografia cedida pela cooperativa Fruta Feia

Esta empresa coopera atualmente com mais de 300 produtores e segundo Maria Canelhas “no início, em 2013, quando arrancamos só com um ponto de entrega, 10 agricultores e 100 consumidores, não imaginávamos que  passado 8 anos existissem 13 pontos de entrega,  mais de 6500 associados e conseguíssemos evitar o desperdício de mais de 2900 toneladas de produtos”, revelando que aos poucos, a iniciativa começa a ser mais aceite em Portugal. Maria indica ainda que “temos vários pontos de entrega na região de Lisboa e no Porto e os nossos agricultores e produtores estão todos à volta destas regiões, ou seja, o  núcleo de Lisboa trabalha com produtores essencialmente da região e o do Porto igualmente, sendo estes produtores de pequena e média escala”. No entanto, este crescimento tem de ter viabilidade económica, tendo de se assegurar um número mínimo de consumidores, de forma a garantir a sustentabilidade financeira do ponto de entrega, que no caso de Braga sofreu um revés e a cooperativa viu-se forçada a fechar a sua delegação nesta cidade.

A pandemia teve impacto em todos os setores da vida dos portugueses e no caso da Fruta Feia não foi exceção, o que para Maria Canelhas “obrigou a mudar o nosso sistema operacional. Tivemos de alargar o horário e organizar os consumidores em turnos, fizemos entrega ao postigo, tivemos de ser nós a montar os cabazes e a entregá-los um a um aos consumidores.” Isto revelou-se  positivo, “porque as pessoas ficam mais comprometidas, mas também precisam de uma alternativa ao supermercado”. Inicialmente, o “número de cabazes diminuiu, mas com o tempo voltou ao número normal” remata Maria Canelhas.

Fruta Feia

Fotografia cedida pela cooperativa Fruta Feia

O desperdício alimentar, para além do impacto ambiental, revela ser economicamente irracional  e socialmente questionável, no que concerne a todos os recursos ambientais disponibilizados para a produção. Os produtos que não são escoados nos canais de distribuição tradicionais, teriam de ser destruídos, caso não fossem apresentadas alternativas aos produtores.  Maria Canelhas confessa que é necessário continuar “a abrir pontos de entrega, pois há muito desperdício alimentar ainda, aquilo que salvamos ainda é muito pouco”, e continuar a “trabalhar com mais agricultores e dar resposta a mais consumidores”. 

A dinamizadora local, informa ainda que a preocupação ambiental que está presente, não se reflete somente  na venda de cabazes e que “disponibilizam um programa de educação ambiental, que é dirigido às escolas básicas e secundárias do país, em que nós damos um workshop de sensibilização em relação a este desperdício.” Através de um conjunto de atividades pedagógicas os alunos são sensibilizados para o problema do desperdício alimentar causado pelas características físicas da fruta e apresentam  soluções para esta problemática.

Desperdício Alimentar

Desperdício Alimentar

 

Luís Martins