Coberturas verdes, uma resposta para cidades cada vez mais quentes

Isabel Aguiar Pinto Mina, investigadora da STOL - Science Through Our Lives e do Departamento de Biologia da Universidade do Minho (DB-ECUM), revela que as coberturas verdes em edifícios são apontados como parte da estratégica ambiental no combate aos efeitos do aquecimento global, proteção de biomas em meios urbanos e forma de mitigar os efeitos das previsíveis ondas de calor, em que as grandes urbes são apontadas como os locais mais fustigados por ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas.

As coberturas verdes em meios urbanos são vistas como uma das soluções que  podem aliviar o efeito das previsíveis ondas de calor. Segundo a investigadora, Isabel Aguiar Pinto Mina,  o aumento da temperatura ambiente, as secas e as condições climáticas extremas levam a um aumento do efeito estufa, com especial impacto em grandes centros urbanos. A investigadora da STOL afirma que “as coberturas verdes são hoje vistas como alternativa inteligente e benéfica para o ambiente, para as alterações climáticas e a forma como se fazem sentir nas grandes cidades, sendo um setor muito importante na estratégia ambiental e urbanística das cidades do século XXI”. 

As coberturas verdes possuem vários benefícios, tanto para os edifícios e habitantes, quanto para o ambiente, destacando-se o facto de se comprovar, segundo a Associação Nacional de Coberturas Verdes (ANCV), que com a utilização de vegetação nas coberturas dos edifícios pode-se reduzir a temperatura nos centros urbanos, atuando na retenção do escoamento das águas das chuvas, na melhoria da qualidade do ar e da paisagem urbana, sendo parte do conjunto de argumentos que tornam inquestionável a necessidade das coberturas verdes nos edifícios das cidades portuguesas.

Todos os anos surgem novas cidades que incluem as coberturas verdes como parte do seu planeamento urbano. Uma cobertura verde bem projetada, instalada e mantida, deve estender a vida da cobertura de um edifício, em pelo menos 2 a 3 vezes do seu tempo de vida normal. Em vários locais do mundo, inclusive em Portugal, país onde há coberturas verdes funcionais com mais de 50 anos e onde foi recentemente (em 2020) lançado pelo Governo Português o fundo ambiental , que financia a instalação de coberturas verdes e jardins verticais.  A  promíscua utilização das Coberturas Verdes em edifícios está relacionada, segundo a ANCV,  com decisão política, sem a qual não há avanços significativos nestas matérias de planeamento urbano, embora seja inegável a sua enorme importância e os inúmeros contributos que podem proporcionar no sentido de criar territórios urbanos saudáveis, sustentáveis, biodiversos e resilientes (na visão da ANCV).

As coberturas verdes estão espalhadas por todo o mundo como exemplos de “boas práticas”, porque, para José Carlos Costa Valente, na sua Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Arquitetura Paisagista, intitulada “Telhados Verdes em Portugal – Perceção, Atitudes e Preferências Estéticas”, as coberturas verdes têm claramente o potencial de desempenhar um papel importante na mitigação do aumento das densidades urbanas, nas reduções das necessidades energéticas, no conforto térmico e acústico, na proteção de ecossistemas, melhoria da qualidade do ar, gestão de água pluviais, proteção dos edifícios e em definitivo na melhoria estética das urbanizações. Sendo, segundo este autor, fundamental no planeamento de um futuro urbano sustentável, promissor e, sobretudo, melhor.

Estudos como o Urban heat islands in relation to green land use in European cities publicado na Science Direct, apontam que os meios urbanos serão os que mais irão sofrer com o aquecimento global, neste sentido é urgente que as cidades tracem novos paradigmas de sustentabilidade ambiental. Segundo a investigadora Isabel Aguiar Pinto Mina , a atual urbanização das cidades pode intensificar as consequências do aquecimento global. Os materiais utilizados na construção dos edifícios, das acessibilidades e vias, a mobilidade urbana aumentam o fenómeno das ilhas de calor, afetando em especial as áreas de construções precários, onde a elevada vulnerabilidade social expõe gigantescos constrangimentos  às pessoas a riscos constantes  de consequências na saúde geradas pelo calor excessivo. A procura de uma solução com foco na sustentabilidade ambiental envolve essa dimensão social, exigindo das ciências e das técnicas um esforço transdisciplinar para ações integradas que possam fazer frente ao desafio ético da desigualdade social entre os afetados pelos efeitos nocivos das mudanças climáticas.

A expansão de zonas naturais ou seminaturais pode atenuar os efeitos climáticos extremos, baseada numa ideia que tem milénios, pois apesar de ser uma tecnologia extremamente atual, o uso de coberturas verdes remonta, há vários séculos, tanto em regiões de temperaturas baixas como temperaturas elevadas. As referências históricas mais antigas e significativas de coberturas verdes são do período de 4000 a 600 a.C. 

Em Braga, foi implementado um projeto integrado na Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas e comparticipação financeira do Programa Operacional de Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR) que abrange uma área de intervenção de cerca de três hectares, onde, segundo os responsáveis da  Câmara Municipal de Braga, se pretende a valorização ecológica com a criação de áreas de arvoredo, funcional e estética de uma área da cidade. Em Braga, as elevadas temperaturas e fraca qualidade estão apontadas como preocupantes face ao contexto nacional, como tal  esta intervenção financiada por fundos comunitários, tem como propósito contrariar o efeito de ilha de calor nos espaços públicos urbanos da cidade.

Cobertura verde no Carandá em Braga // Fotografia Tomás Lourenço