“Changing together at COP 24”: E se tu pudesses mudar o mundo?

“Changing together” foi o mote escolhido para a COP 24, em Katowice, e foi, decerto, a principal mensagem que os oradores procuraram transmitir tanto nas conferências como nos painéis que decorreram durante a semana na qual estive presente.

“Changing together” foi o mote escolhido para a COP 24, em Katowice, e foi, decerto, a principal mensagem que os oradores procuraram transmitir tanto nas conferências como nos painéis que decorreram durante a semana na qual estive presente (Fig.1).

Figura 1 – Transmissão da primeira conferência da COP 24

Apesar das importantes negociações entre partidos e “policy makers” que marcaram as duas semanas e cujos resultados são ansiosamente esperados pelo mundo inteiro, as ações concretas acarretam necessariamente um impacto mais significante. Da Indonésia a França, a sociedade civil age e cria iniciativas com o objetivo de impactar a sua comunidade, ecoando estes movimentos eficazmente além fronteiras.

Para além dos discursos e formalidades, as COPs constituem uma oportunidade fantástica de contactar com pessoas envolvidas em agir e em contribuir para promover desde a mobilidade sustentável à participação ativa de jovens na crise climática. De facto, a dinâmica constante e, muitas vezes, frenética da COP, tende a desencadear um “efeito cascata” e é impossível não ser contagiado pelo ambiente que se cria quando dois indivíduos, movidos por um interesse em comum, colocam de parte qualquer embaraço e planeiam futuras parcerias. E, assim, pequenos projetos de cariz nacional, local ou mesmo individual, adquirem uma dimensão internacional.

A frutuosa interação que existe entre os participantes na COP24 permitiram-me conhecer jovens ambiciosos, líderes e parte integrante de iniciativas sustentáveis: Cármen de Espanha, Manon de França e o nigeriano John. Estes são apenas três exemplos, um dos quais gostaria de expor em pormenor.

John Baaki é o gestor da Women Environmental Programme – WEP – uma ONG, sediada na Nigéria, criada por mulheres em 1997, com o intuito de empoderar outras mulheres na Nigéria e também na Burkina Faso e Togo. Através de workshops e outros eventos, a WEP procura dotar mulheres, incluindo jovens, frequentemente em situações económica e socialmente desfavorecidas, das ferramentas necessárias para que estes ajam em relação à mitigação das alterações climáticas. Simultaneamente, contribuem para a sua afirmação numa sociedade onde são alvo de discriminação e pobreza.

Além disso, a WEP promove a aplicação de tecnologias na agricultura em meios rurais com o objetivo de modernizar as técnicas utilizadas, de aumentar os rendimentos e de ensinar práticas sustentáveis, bem como de minimizar os efeitos que catástrofes naturais, motivadas pela crise climática, têm nas aldeias e vilas mais pobres. Tomando como exemplo o desenvolvimento de um secador solar para pimentos, tomates e outros alimentos, cujas expectativas apontam para uma redução de 55-75% na desflorestação de árvores para secar frutas ou peixe[1], problema igualmente agravado pelo aumento da temperatura global.

Um dos pilares to trabalho da WEP, que John frisou e que me cativou desde o início, é a clara noção de que diferentes problemas têm soluções distintas: assumir que a mesma solução poderá constituir o antídoto perfeito e universal não é uma solução, porém uma prolongação, por vezes dolorosa, do problema. Pelo menos, quando se trata da crise climática e, implicitamente, milhões de vida estão em causa. De facto, as idiossincrasias e particularidades de cada caso com o qual a WEP se depara são abordados individualmente, recorrendo John à interessante analogia: “(numa situação de fome) Não podemos dar arroz a todas as pessoas, porque os diabéticos não o poderão comer”.

Do mesmo modo, esta analogia pode ser aplicada ao Acordo de Paris e ao “Katowice rulebook”, na medida em que surge como essencial que a implementação prática de todas as medidas discutidas, primeiramente em Paris e recentemente na Polónia, se revelem abrangentes e, de certa forma, sejam posteriormente personalizadas e adaptadas, pelos governos nacionais, à realidade de cada país. Uma vez mais, iniciativas locais e inovadoras como a WEP, organizadas por jovens, apresentam soluções e alternativas eficazes aos desafios que um futuro sustentável, em constante mudança, acarreta.

Em suma, conhecer estes três jovens motivados, destacando o entusiasmado John, mostrou-me que “pessoas comuns” criam e lideram projetos inovadores, com impacto não só nas suas comunidades, que são igualmente envolvidas nestas iniciativas. A COP é, indubitavelmente, uma oportunidade memorável de partilhar experiências, deixando-nos com a certeza de que existem jovens que, cansados de aguardar por medidas governamentais, cuja implementação é, por vezes, demorosa, arriscam e põe à prova a sua criatividade e empreendedorismo, colocando em prática o lema “Changing together”.

 

 

Referências Bibliográficas:

 

[1] Disponível em http://wepnigeria.net/index.php/wep-is-building-an-efficient-technology-for-womens-economic-empowerment/, consultado a 20.12.2018

 

Maria Carreira