Celtejo: o futuro como grande motor da empresa albicastrense

Foi manchete de jornais diários. Abriu noticiários em todos os canais da televisão nacional. A Celtejo, empresa que esteve envolta em muita polémica devido às descargas no Tejo e sua consequente contaminação, recebeu a Academia de Energia no seu 2º dia. Vila Velha de Rodão recebeu por algumas horas vários jovens, contrariando o cenário de envelhecimento demográfico que se faz sentir nesta região do interior do País.

Temos 50 anos de história mas é o futuro que nos move”. Foi desta forma que João Martins, engenheiro da Celtejo, recebeu os agora 50 Embaixadores da Energia nas instalações da fábrica, às portas de Vila Velha de Ródão. De facto, em 50 anos muita coisa muda, muitos foram os avanços tecnológicos no processo produtivo da empresa produtora de pasta de papel. Ao longo dos anos, a produção tem vindo a aumentar a um ritmo considerável, sendo que atualmente apenas 5% da produção fica em território nacional. Como tal, não é de estranhar o enorme peso das exportações na dinâmica económica na unidade fabril.

De visita à fábrica da Celtejo, os “Embaixadores da Energia” tiveram a oportunidade de subir ao topo da caldeira da fábrica, com 60 metros de altura, e assim contactar de perto com todo o processo de produção

No concelho de Vila Velha de Ródão, ver madeira a ser transportada nos camiões é já uma constante, ou não fosse esta a principal fonte de matéria prima da Celtejo. Deixemos os números falarem por si: 2500 toneladas são, aproximadamente, utilizadas na fábrica diariamente. São 80 mil os hectares de floresta que fornecem à fábrica a matéria prima necessária para que a produção não pare 24 horas por dia, 365 dias por ano. Mas João Martins destaca um pormenor que importa ressalvar: “A madeira é não só a nossa principal fonte de produção da fábrica, como é também simultaneamente a matéria necessária para produzir a energia que vai servir de base a todo o processo que nos vai levar ao produto final, a pasta de papel”. Olhemos para os números: 85 % da energia que é utilizada na produção da fábrica é de origem natural; por sua vez, os restantes 15% tratam-se de combustíveis fósseis (o fuel óleo e o gás natural), percentagem cuja tendência é para baixar nos próximos anos.

A vertente I&D (Investigação e Desenvolvimento) é também uma das principais imagens de marca da Celtejo. A mesma assume um papel pioneiro a nível mundial, tendo desenvolvido a primeira linha de investigação em todo o mundo neste tipo de indústrias, em parcerias com várias universidades e politécnicos, como é o caso da Universidade de Coimbra, de Aveiro, ou ainda o Politécnico de Castelo Branco. A título de exemplo, no que ao consumo de água diz respeito, os valores tem decrescido na casa dos 40% só nos últimos 4 anos.

Da obra “Celtejo”, destaque ainda para a construção da ETAR, a instalação mais recente da Empresa de Celulose do Tejo. É a primeira vez que uma instalação desta natureza é utilizada neste tipo de indústria. Tendo como base uma tecnologia inovadora, a base de toda a ETAR é um sistema de ultrafiltração por membranas. Esta veio colmatar dois grandes problemas: por um lado permite não só os efluentes da fábrica, como permite ainda o tratamento dos efluentes das queijarias localizadas em Vila Velha de Ródão. E quanto ao Tejo e a sua aparente poluição por parte da Celtejo? “A sustentabilidade do negócio é o que interessa. Como tal, é fulcral fecharmos o ciclo. Sim, utilizamos a água do Tejo na nossa produção, mas grande parte acaba sempre por regressar ao seu local natural, muitas das vezes em melhor estado daquele em que nos chegou aqui à Fábrica. Água gasta, ou seja, que de facto “se perde” no processo, por exemplo através da evaporação, é muito pouca, ainda que essa água acabe sempre por regressar ao Ciclo da Água”, relatou João Martins aos 50 jovens.

O próprio deixou bem claro: uma empresa com estas proporções só consegue sobreviver com um constante sentimento de inquietação, união e trabalho de equipa. Por isso mesmo, não é de estranhar que este mais do que um local de trabalho, se tenha vindo a assumir ao longo dos anos como uma segunda casa para os muitos trabalhadores que asseguram as rédeas da empresa. Quem diria que no meio de tanta maquinaria e engenharia complexa, os Embaixadores da Energia iriam encontrar mesas de ping-pong e de matraquilhos. As palavras de João Martins explicam tudo: “ O que distingue as empresas não é o equipamento, a maquinaria, mas sim o conhecimento, a forma como as pessoas lidam umas com as outras e a forma como este é aplicado”. E os trabalhadores parecem concordar: “ Mais do que uma empresa, esta é já uma segunda família.”.

Rúben de Matos