Biocombustíveis: qual o caminho até lá chegar?

É certo que o programa da Academia da Energia é preenchido. E no quinto e penúltimo dia da Academia, os biocombustíveis foram o principal tema de enfoque. A visita à Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Castelo Branco foi o mote para uma manhã no laboratório onde a grande questão foi só uma: como se pode a partir de óleo de soja alimentar produzir Biodiesel?

Por mais que a vontade de saber mais e melhor e a vontade de conhecer melhor os colegas provenientes dos quatro cantos do país seja muita, o tempo não perdoa e ao quinto dia da primeira edição da Academia da Energia o cansaço já começa a fazer-se sentir. Ainda assim, houve tempo para que mais uma vez os Embaixadores da Energia pudessem meter as mãos na massa e aprender mais… desta feita sobre os biocombustíveis. Foi José Monteiro, docente na Escola Superior Agrária, que deu a conhecer a escola e uma temática que, entre outras, é abordada em alguns dos cursos lecionados na Escola do Politécnico de Castelo Branco: os biocombustíveis. Como tal, importa primeiramente clarificar como podem ser definidos os biocombustíveis: de acordo com o docente, estes são “os combustíveis produzidos a partir de biomassa (matéria orgânica), produtos vegetais ou compostos de origem animal”. E quias são as principais fontes que permitem a produção destes combustíveis ecológicos? São alguns os exemplos que podem ser mencionados: o milho e a cana de açúcar que permitem a produção de bioetanol; a beterraba sacarina (que em termos produtivos já começa a ganhar uma carga cada vez mais expressiva na região agrária do Ribatejo e Oeste); a soja ou ainda a colza. Todas estas formas de energia permitem produzir biocombustíveis, como é o caso do álcool etílico, do biediesel ou ainda do biogás. Combustíveis como este são biodegradáveis, na medida em que podem ser decompostos por microrganismos vivos, sem provocar problemas de maior no que ao ambiente diz respeito.

Mas para chegarmos até aqui, é importante perceber como começou todo este processo que através da utilização de combustíveis permitia a produção de movimento? Para tal, há um nome que não nos pode escapar: Rudolf Diesel. Este homem cuja nacionalidade é ainda um quebra-cabeças (ainda hoje não se sabe se este era um alemão a viver em França ou, pelo contrário, um Francês a viver na Alemanha) foi capaz de criar uma máquina que queimando óleos muito refinados, conseguia produzir movimento.

Mas, no fim de contas, qual é a grande diferença entre um biocombustível e a biomassa? A biomassa tem origem nas plantas, ou é resultado de atividades agrícolas e/ou pecuária. Esta pode ser classificada como sendo a matéria orgânica que armazenou energia do sol sob a forma de energia química. De destacar que em muitos países do mundo transforma-se a energia química armazenada na biomassa em combustíveis líquidos e gasosos. A nível mundial, no ano de 2012, os números estavam ainda longe de serem os desejados sustentavelmente falando. Há pouco mais de 6 anos os biocombustíveis representavam apenas 10% do total de energia primária. De acordo com os mesmos dados, a energia proveniente da energia hídrica representava apenas 5%. Territorialmente falando, é na América do Norte que os biocombustíveis têm uma maior expressividade. “Nesse mesmo continente, a produção de etanol sofreu um aumento muito acelerado de 2006 para 2016”, afirmou ainda José Monteiro. Ainda assim, importa destacar que “nos últimos anos a Europa tem vindo a assumir avanços muito consideráveis”. O docente do Politécnico chama ainda a atenção para um dado curioso: “Em países como a Indonésia assistimos a assustadoras extensões de colza, para a produção de biocombustíveis”.

Chegada a vez de se meter as mãos na massa, o grande objetivo era um: a partir de uma garrafa de óleo de soja alimentar como poderiam ser produzidos dois lotes de Biodiesel?  Os reagentes a serem utilizados já estavam definidos: uma embalagem de óleo de soja comercial de uso alimentar; Metanol (CH3OH); e ainda Hidróxido de Sódio (NaOH). De facto, a acidez de um óleo vegetal pode, entre outras técnicas, ser avaliada por meio de titulação com uma solução de hidróxido de sódio a 0,1%. Após algumas etapas, e sabida então qual a massa de NaOH que foi necessária para catalisar o processo, passou-se à preparação da mistura de metanol com catalisador alcalino. De notar que esta foi a etapa mais perigosa do processo de produção de Biodiesel, uma vez que foi precisamente nessa etapa que se manipularam os dois reagentes com riscos assinaláveis.

Durante o período em que se mantiveram pelos laboratórios, o desafio que teria de ser cumprido era um: obter biodiesel através dos óleos alimentares.

Findado todo o processo, obteve-se por fim o Biodiesel. Por isso, a grande mensagem que fica é uma: a reciclagem de óleos alimentares, já realizada por empresas como a Prio, pode reduzir a utilização de combustíveis fósseis, e permitir que os biocombustíveis venham a assumir um papel de cada vez maior destaque no mundo.

 

Rúben de Matos, Jéssica Coutinho