Alunos desconhecem o fenómeno da poluição luminosa e o direito ao céu estrelado

A auditoria ambiental do Eco-escola, realizada este ano, na Escola EB2/3 André Soares em Braga, aponta para que a grande maioria dos alunos deste estabelecimento de ensino desconhecem o que é a poluição luminosa.

Segundo o professor Vítor Martins, coordenador do Eco-escola EB2/3 André Soares , “a auditoria ambiental do Eco-escola, realizada a um universo de 810 alunos, do 5º ano ao 9º ano, da EB2/3 André Soares, em Braga, revela que mais de 80% revelam falta de conhecimento sobre poluição luminosa”. Esta situação, para o coordenador, “merece uma reflexão séria e uma ação da equipa Eco-escola para o próximo ano letivo”.
O fenómeno da Poluição Luminosa tem, consequências para a vida humana, vida selvagem e para a biodiversidade, no entanto na visão do professor Vítor Martins, é um fenómeno que passa despercebido aos jovens que sempre viveram com o excesso de luz artificial e, nunca observaram a beleza de um céu verdadeiramente estrelado”, o equilíbrio do planeta deve ser estudado e debatido frequentemente, procurando soluções e medidas para combater esta forma de poluição.
Como legado da humanidade, o céu constitui um património comum, que integra o meio ambiente e a história da humanidade, com o objetivo de garantir a identificação, proteção, conservação e valorização do Patrimônio Mundial. A interação entre a humanidade e o meio ambiente deve combater as ameaças da ação humana na observação do céu noturno. A humanidade sempre observou o céu, ou para interpretá-lo ou para entender as leis físicas que regem o universo. Este interesse na astronomia acarretou profundas implicações para a ciência, filosofia, religião, cultura e nossa concepção geral do universo.
A sua observação encontra-se cada vez mais difícil, ameaçando tornar-se desconhecida para as novas gerações. É importante que a comunidade científica e tecnológica encontre soluções e um equilíbrio que viabilize, um futuro com estrelas para iluminar a humanidade, respeitando o meio ambiente com toda a atenção pela vida do nosso planeta.

Luz do LED direcionada mais facilmente do que nas lâmpadas tradicionais

Pedro Jorge, investigador e professor no departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, com Doutoramento em Física pela Universidade do Porto em colaboração com o Department of Physics and Optical Sciences da University of North Carolina at Charlotte EUA, refere “que a Luz artificial é um dos pilares da vida moderna, e já não conseguimos imaginar a vida sem ela”. No entanto, para o investigador, “o aumento da população humana e expansão dos meios urbanos, continuamente iluminados nos períodos noturnos, acarreta vários problemas ambientais. A iluminação global tem também um grande custo energético, contribuindo para a pegada de carbono”.
A iluminação artificial noturna atualmente desempenha um propósito importante, em termos de segurança e viabilização dos espaços urbanos. Segundo Pedro Jorge, “existem as ferramentas certas para atacar parte do problema, mas tem que ser bem utilizadas. O LED (light-emitting diode) veio revolucionar a indústria da iluminação. Apesar de a tecnologia já existir há várias décadas, só no ano 2002 é que foi bem-sucedida a implementação de LEDs azuis (prémio Nobel 2014), essenciais para conseguirmos a luz branca. Num LED, a maior parte da energia elétrica aplicada é transformada em luz visível. Assim, conseguimos reduzir muito o consumo energético”.
O investigador afirma que, além disso, “a luz do LED pode ser direcionada muito mais facilmente do que nas lâmpadas tradicionais. Finalmente, consegue-se com combinação de diferentes LEDS, ajustar com mais precisão a cor da iluminação para termos cores mais frias (azuladas) ou quentes (amarelo e vermelho). Isto permite criar ambientes mais customizados. Sabe-se que a componente azul da iluminação tem um efeito direto no cérebro, despertando-o. Por isso, a iluminação com componentes mais azuis é desaconselhada no período noturno. É também esta a componente com mais impacto na fauna e na flora”.
A tomada de consciência está presente na comunidade científica e tecnológica, para encontrar uma forma de minimizar o impacto da luz artificial, que poderá ser encontrada no conhecimento científico e físico, dessa mesma luz artificial. No entanto, o investigador, salienta que, “infelizmente, por falta de sensibilidade da população e das próprias autoridades temos assistido a uma proliferação da iluminação LED que ignora estes detalhes”. A iluminação artificial noturna atualmente desempenha um propósito importante, mas para este cientista, “os planos de iluminação pública devem ser elaborados com ajuda de especialistas que pensem em todas as dimensões do problema, o impacto ecológico, fisiológico, ambiental e as características da tecnologia necessárias para resolver”, e que os LEDS “são compatíveis com iluminação temporizada, alimentada com energias alternativas (solar, vento), e com capacidade de mudar a sua coloração e intensidade dependendo das condições locais. Salientando que um bom planeamento e alguma sensibilização das populações pode ajudar a reduzir muito este problema”.

Pedro Alberto da Silva Jorge, investigador e professor no departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto

Pedro Jorge, não tem dúvidas de que “a nossa presença e ação no ecossistema terá sempre um impacto, torna-se “poluente” quando excede a capacidade de recuperação do sistema. Cabe-nos a nós encontrar soluções para minimizar esse impacto”. Mas a iluminação artificial bem gerida pode ter um impacto mínimo ou até positivo, tal como em estufas. O comprometimento da qualidade de visibilidade do céu noturno é para o investigador “o passo mais importante, é termos cidadãos e políticos com consciência do problema que estejam motivados. O primeiro passo é a sensibilização e a educação dos mais novos”. Reforçando que temos de uma forma global minimizar o nosso impacto em todo o ecossistema, apostando no não desperdício, na reutilização, reciclagem, uso de novos materiais e novas formas de produzir energia. Apostar no essencial, minimizar o supérfluo. Neste sentido, é para Pedro Jorge, “possível mudar, vimos isso durante a pandemia, onde os cidadãos de muitas cidades hiper poluídas como Nova Deli conseguiram ver o céu da sua cidade. E a tecnologia está cá para nos ajudar”.
A humanidade tem o direito universal às observações astronómicas, tanto científicas nos observatórios espalhados pelo mundo, que necessitam cada vez mais distanciar-se das luzes das cidades, bem como pelo cidadão comum, que não tem mais a oportunidade no seu quotidiano de contemplar um céu estrelado, bem como proteger a biodiversidade dos seus impactos.

Exemplo de poluição luminosa em Braga Fotografia: Tomás Lourenço