Agricultura Biológica e Convencional: Duas Realidades à nossa Mesa

Numa época em que cada vez mais se fala na construção de um Mundo Sustentável e na diminuição de custos energéticos, tornou-se uma necessidade encontrar alternativas aos meios de produção habituais: meios mais económicos e “amigos do ambiente”.

Neste sentido procedeu-se a um trabalho de investigação, no qual analisámos o que na nossa região teria um impacto ambiental significativo, de forma a procurar soluções para reverter possíveis problemas por nós detetados neste âmbito.

O concelho de Coruche, pertencente ao distrito de Santarém, caracteriza-se pela sua vasta área agrícola, a qual assume um papel de relevo na economia da região, pois constitui uma fonte de subsistência para muitos dos seus habitantes.

As principais culturas praticadas são o milho, tomate e arroz, produzidos em regime intensivo. No entanto, o cultivo em regime intensivo pode traduzir-se num problema não só ambiental, como também de saúde pública (no caso de acumulação de nitratos nas folhas das plantas, prejudiciais ao organismo humano quando ingeridos), uma vez que as espécies cultivadas são submetidas à exposição de diversos fertilizantes.

Assim procurámos formas de cultivo alternativas, que permitissem reduzir a adição de fertilizantes e, portanto, que solucionassem os problemas ambientais/de saúde pública que daí advinham.

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Executámos um procedimento experimental que comparava a agricultura biológica (uma vez que não recorre a fertilizantes químicos, nefastos quer para a saúde, quer para o ambiente) e a agricultura convencional (de regime intensivo), de acordo com as seguintes “questões-problema”: “ Em agricultura convencional é possível reduzir a adição de fertilizantes com recurso a micorrizas e/ou bactérias fixadoras de azoto de vida livre e solubilizadoras de fósforo? Qual dos processos será mais rentável em agricultura biológica: adição de micorrizas e/ou bactérias (fixadoras de azoto de vida livre e solubilizadoras de fósforo)? Em agricultura convencional e biológica é possível reduzir a acumulação de nitratos nas folhas das alfaces?”.

Para tal foram cultivadas alfaces nos dois tipos de agricultura, recorrendo a micorrizas e a bactérias solubilizadoras de fósforo e fixadoras de azoto de vida livre.

Utilizaram-se micorrizas pois estas constituem associações simbióticas entre fungos e raízes, conferindo diversos benefícios à planta, particularmente no que diz respeito à absorção de nutrientes; Utilizou-se também bactérias solubilizadoras de fósforo, uma vez que este é um dos nutrientes essenciais na nutrição das plantas; E por último recorremos também a bactérias fixadoras de azoto de vida livre, pelo facto da fixação de azoto ser um processo biológico natural, comum a animais e plantas, uma vez que se encontra em abundância no solo, resultante da decomposição de plantas e animais.

Avaliou-se o Peso Fresco e Seco da alface, com vista a  determinar a quantidade de água absorvida pela referida planta. Outra das avaliações que realizámos foi a avaliação de nitratos nas folhas das alfaces.

c11-300x225Neste trabalho experimental foi então possível concluir que em relação às colónias de micorrizas, no solo biológico dá-se 0% de colonização em todos os tratamentos. De acordo com Patrícia Correia, POS-DOT do CBA (Centro de Biologia Ambiental) da Faculdade de Ciências de Lisboa, “Tal facto pode dever-se a um solo composto essencialmente por material vegetal em decomposição, sem a presença de micorrizas nativas e que, para além disso, pode apresentar compostos secundários inibitórios da micorrização”. No solo convencional, pelo contrário, verificou-se alojamento micorrizico, alcançando um pico de colonização micorrízica nos tratamentos com Micorriza, com Bactéria,34%, comprovando a eficiência da utilização destas variáveis.

Podemos concluir que quando adicionadas apenas micorrizas Glomus intraradices, no solo convencional, elas entram em competição com as micorrizas nativas e o nível de colonização diminui. Se optarmos por adicionar algum inoculante, terá de ser apenas bactérias, deste modo, as bactérias são favoráveis à instalação das micorrizas nativas nas raízes da planta. Se tivermos de substituir o adubo por algum tipo de inoculante terá de ser composto apenas por bactérias fixadoras de azoto de vida livre e solubilizadoras de fósforo.

Como foi explícito anteriormente na teoria, a presença de bactérias influencia a nutrição da planta, o que se repercutirá na análise de outros resultados, como foi o caso dos nitratos.

Desta forma é possível concluir que o mais vantajoso para uma prática agrícola sustentável consiste na combinação de “micorriza” com “bactéria”, pois além de ser o tratamento no qual se verificou menor número de nitratos, foi também o tratamento no qual se verificou uma maior percentagem de formação de colónias bacterianas. Se atendermos exclusivamente à análise de UFC’s também chegamos à mesma conclusão: regista-se proliferação de bactérias em maior número nos tratamentos “Sem micorriza/Com bactéria” e “Com Micorriza/Com Bactéria”, registando este último valores superiores. Portanto, a solução ideal para o problema de poluição ambiental derivado da prática agrícola, e para o problema dos nitratos na alimentação humana, seria a aplicação de “micorrizas” + “bactérias” na plantação que fosse conveniente. Deste modo as plantas fixariam azoto e solubilizariam o fósforo de forma mais eficiente.

Já quanto à avaliação nítrica, dentro das plantas biológicas, os tratamentos sem micorrizas e sem bactérias são as que apresentam valores mais baixos de nitratos, enquanto que as que apresentam valores mais baixos são os tratamentos com adição simultânea dos inoculantes. No solo convencional, tal como era esperado apriori (antes da experiência), são as plantas com tratamento de adubo as que apresentam valores mais elevados.

Tal discrepância de valores permite chegar a uma conclusão plausível- o adubo pode ser substituído por micorrizas e bactérias, permitindo obter valores mais baixos de nitratos que, quando demasiado altos, se tornam prejudiciais à saúde humana.

Na avaliação da biomassa registaram-se elevados teores de água.

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Retomando as questões-problema iniciais, conclui-se que é possível substituir a utilização dos habituais fertilizantes (adubo), com recurso a bactérias fixadoras de azoto de vida livre e solubilizadoras de fósforo; em agricultura biológica o processo de cultivo mais rentável será a utilização de bactérias conjugadas com micorrizas; para a prática de uma agricultura mais sustentável e de forma a reduzir a acumulação de nitratos nas folhas da planta, o uso de “micorriza+bactéria” será o ideal.

Desta forma, através deste trabalho de investigação procurou-se uma alternativa viável, ecológica e muito mais vantajosa no que diz respeito à prática agrícola. Uma temática que, mais do que ambiental, tem repercussões na saúde Humana e necessita de uma resposta urgente.

 

Ana Godinho, Ana Marques, Daniel Gomes