A falta de informação sobre poluição luminosa põe em causa a saúde pública

A descarbonização da economia e a transição energética visando a neutralidade carbónica em 2050, levam os municípios em Portugal a substituir as luminárias tradicionais por iluminação LED, o que pode estar a afetar a saúde pública bem como níveis de poluição luminosa sem precedentes.

Para Ricardo Silva, presidente da Junta de Freguesia de São Vítor em Braga, “a necessidade de melhor eficácia energética implicou a colocação da luminária pública e a substituição de luminárias tradicionais por iluminação LED na cidade de Braga”, e desta forma uma economia nos gastos do erário público, através da diminuição da fatura energética. Esta reorganização da iluminação LED devido à sua maior eficiência energética quando comparadas com outras luzes, está a levar ao aumento do seu consumo e massificação em grandes zonas urbanas e rurais. Esta tecnologia permite uma redução que pode ir dos 60%-70% nos consumos da iluminação pública, mas segundo o estudo The Risk of Light Pollution on Sustainability, provoca um aumento dos níveis de poluição luminosa, assim como poderá estar também a afetar a saúde pública devendo ser equiparado à poluição ar e da água. Contudo Ricardo Silva, presidente da freguesia mais densamente povoada do Minho, admite que, para os seus eleitores, “as ruas iluminadas estejam ligadas a ruas mais seguras” e que “não existe muita sensibilidade para a temática da poluição luminosa” na população que o autarca representa”, embora reconheça que “não existe muita sensibilidade para a temática da poluição luminosa” na população que o autarca representa. 

Segundo Ricardo Silva, não é só a iluminação pública, da responsabilidade das autarquias,a fonte de toda a poluição,advertindo ainda para a existência de “alguns projetos que possam estar mal projetados”, salientando que existe outra fonte de grande poluição luminosa ligada “às publicidades luminosas, outdoors e lojas” que permanecem iluminadas durante toda a noite tornando a noite em dia, tendo em conta que a tecnologia LED a tornou mais comportável em termos financeiros.

A luz artificial, no entanto, tem várias consequências, desde a modificação de paisagens, a degradação significativa da qualidade do céu noturno, e diferentes impactos em todos os seres vivos.

 

Efeitos da poluição luminosa nos Humanos

Vários estudos apontam para que esta poluição tem efeitos importantes e malignos na saúde humana, geralmente pouco conhecidos e pouco percetíveis, logo, mais difíceis de solucionar. Excesso de luz exterior e interior, das nossas casas, perturba o nosso sono (relógio circadiano) e afeta o nosso bem-estar. A produção da melatonina, hormona libertada à noite, quando está escuro, é perturbada pelo excesso de luz artificial. Essa hormona é muito importante para o nosso corpo, regula não só o ciclo do sono e vigília, mas também os ritmos e ciclos biológicos relacionados com a reprodução,  sistema imunológico, a regeneração celular e o crescimento. O relógio circadiano regula as atividades fisiológicas, como os padrões de ondas cerebrais, a produção de hormonas e a regulação celular. A interrupção desses ritmos pode resultar numa variedade de problemas de saúde, como distúrbios do sono, ansiedade, depressão, diabetes, cancro, doenças cardiovasculares, distúrbios imunológicos e obesidade. Atualmente representa um potencial problema, em particular nas grandes cidades.

 

Efeitos da poluição luminosa nos animais

O excesso de luz à noite, tem graves consequências para a biodiversidade, no estudoThe Risk of Light Pollution on Sustainability”, é referido que há pesquisa sobre padrões de sono de aves, que apontam para que o aumento tenha dos dias, através da luz artificial, tenha impacto direto na longevidade da população de pássaros, comprovado pelas  estatísticas populacionais destes vertebrados. Também afeta os ciclos migratórios, reprodutivos e alimentares dos animais, bem como o das plantas. No que concerne a animais noturnos, que usam o luar e a luz das estrelas para caçar e migrar à noite, fontes de luz artificial podem fazer com que os pássaros sejam atraídos ou fixados nas mesmas, desviando-se da sua rota de migração pretendida, voando até à exaustão e colapso. Aves marinhas como os albatrozes são conhecidas por colidir com faróis, turbinas eólicas e plataformas de perfuração no mar devido às suas luzes brilhantes. Para além de que os predadores não conseguem alimentar-se por não estarem “camuflados” pela escuridão.

Os anfíbios, como sapos, rãs e salamandras em zonas húmidas também são afetados pelo excesso de luz que os confunde e os desorienta, causando uma diminuição da alimentação e perturbando o acasalamento

As tartarugas marinhas são outro ser fortemente afetado, pois as fêmeas da espécie procuram locais para fazer ninhos, geralmente em praias remotas e pouco iluminadas. Porém, as luzes costeiras brilhantes impedem-nas de encontrar áreas seguras de nidificação para seus ovos, o que faz com que as tartarugas fêmeas depositem os seus ovos numa zona insegura ou no oceano. As crias após eclodirem, na sua fuga em direção ao mar, também podem confundir a iluminação artificial com as estrelas, fazendo com que se direcionem em sentido contrário ao mar.

Efeitos da poluição luminosa na astronomia

Efeito Skyglow durante um concerto

O Skyglow, termo em língua inglesa, que se refere à luminescência difusa do céu noturno, sem considerar fontes de luz discretas como estrelas visíveis ou a reflexão da luz solar pela Lua, tem um impacto profundo na astronomia. Este fenómeno preocupa os astrólogos, por este perturbar a visibilidade do céu, dos astros e das estrelas. O brilho da luz artificial aumenta também o brilho no céu, o que diminui o contraste que possibilita a visibilidade de objetos celestes. Estudos admitem que a poluição luminosa é uma grande preocupação para os astrónomos, uma vez que interrompe diretamente as observações celestes noturnas, portanto dificultando pesquisas de importância astronómica para cientistas e apaixonados pelas observações do céu estrelado.

 

Para o autarca, a mitigação da consequência deste problema passa por “começar por conscientizar a população para a existência deste problema e respetivos efeitos”. Adverte ainda que “legalmente, são necessárias leis escritas que regulam o uso da iluminação” e desta forma proibir a luz excessiva acima do horizonte. Menciona também que seria “importante que os projetos apresentados para a iluminação pública sejam apropriados, com sensibilidade para este problema”. A utilização de tecnologia LED é importante para o objetivo de alcançar a neutralidade carbónica em 2050 e em linha com as meta da UE são estabelecidas metas e objetivos para Portugal, para o horizonte 2030, em específico, na redução dos gases de efeito estufa e na eficácia energética, mas devendo optar-se pela utilização de sistemas de iluminação inteligente e automáticos, reduzindo assim a quantidade de luz exterior e optar por luminária com cobertura e com luz direta para a via pública.