A alimentação de um Português é o que mais pesa na Pegada Ecológica de Portugal

O consumo alimentar dos cidadãos em Portugal, levou ao aumento da Pegada Ecológica. Poucos ainda se preocupam com o modo como as suas escolhas alimentares contribuem para o aumento da Pegada Ecológica. Se todos os habitantes do mundo tivessem os mesmos hábitos alimentares dos portugueses, seriam necessários cerca de 2,5 planetas para repor os recursos naturais gastos até ao mês de maio.

A alimentação de um Português é o que mais pesa na Pegada Ecológica de Portugal

 

O consumo alimentar dos cidadãos em Portugal, levou ao aumento da Pegada Ecológica. Poucos ainda se preocupam com o modo como as suas escolhas alimentares contribuem para o aumento da Pegada Ecológica. Se todos os habitantes do mundo tivessem os mesmos hábitos alimentares dos portugueses, seriam necessários cerca de 2,5 planetas para repor os recursos naturais gastos até ao mês de maio.

 

O que é a Pegada Ecológica?

 

A pegada ecológica está ligada à crescente procura mundial por bens de consumo, que coloca em risco os principais recursos naturais do planeta. Muitas vezes a indústria e os consumidores não estão conscientes do nível do impacto que essa exigência pode causar no equilíbrio ambiental.

Desde a década de 1970, que a Pegada Ecológica da humanidade ultrapassou a biocapacidade da terra, ou seja, seriam necessários 1,7 planetas Terra para fornecer os recursos renováveis e serviços ecossistemáticos necessários para o consumo humano num ano.

A Pegada Ecológica é quase sempre associada à emissão de dióxido de carbono, mas esta é só o segundo componente mais relevante. A alimentação é a principal causadora da pegada ecológica. Portugal faz parte dos 130 países que consomem mais recursos do que aqueles que estão disponíveis.

Segundo os cálculos da organização “Global Footprint Network” se cada pessoa no planeta vivesse como em Portugal, os recursos teriam acabado no passado dia 25 de maio de 2020. Durante o resto do ano teríamos que utilizar recursos que estariam disponíveis para 2021. Ou seja, provocaríamos um desequilíbrio na balança da pegada ecológica.

 

 

Entrevista à Professora Doutora Sara Pires, professora na Universidade de Aveiro, investigadora e coordenadora científica do projeto “Pegada Ecológica dos Municípios Portugueses” desenvolvido em parceria com Global Footprint Network e a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável.  

 

Nesta entrevista ficámos a saber como podemos contribuir para diminuir a nossa pegada ecológica. O primeiro passo é entender o que é a pegada ecológica e saber que é um problema atual e que nos afeta a todos.

Assim, podemos começar por alterar o modo como nos deslocamos para o trabalho ou para a escola. Se forem poucos quilómetros podemos optar por ir a pé ou de bicicleta. Caso não seja possível, a melhor solução é utilizar os transportes públicos ou deslocarmo-nos em conjunto no mesmo veículo.

 

No que diz respeito à alimentação, ficámos a saber que o bacalhau, o atum, o salmão e a carne de vaca são os alimentos que mais contribuem para a pegada ecológica, dado que estes alimentos exigem muitos recursos naturais. Segundo Sara Pires, “temos que assumir uma mudança no consumo – passar de um quilo de bacalhau para um quilo de cavala, por exemplo”.

Segundo a investigadora, no conjunto dos países mediterrâneos Portugal é o país em que o tipo alimentação mais prejudica o planeta. Os portugueses deveriam alterar a sua alimentação e comprar produtos localmente produzidos.

De acordo com os dados recolhidos na investigação e utilizando as calculadoras da pegada ecológica nos Municípios de Almada, Bragança, Castelo Branco, Guimarães, Lagoa e Vila Nova de Gaia, verifica-se que se cada pessoa do mundo vivesse como um cidadão no concelho de Almada, os recursos esgotar-se-iam no mês de maio; o mesmo acontecia com os cidadãos de Bragança e de Castelo Branco. O concelho estudado com menor pegada é o de Lagoa. Com a ajuda da calculadora podemos perceber os problemas ambientais existentes no território, e com isso alertar os habitantes para cuidados que possam começar a ter. Apesar de ainda só se terem estudado estes concelhos, “Os nossos padrões de consumo são de tal forma similares nas zonas urbanas que o impacto que a interioridade poderia ter é diluído”, diz a investigadora da Universidade de Aveiro.

 

 

Dados recolhidos de um inquérito aos habitantes do concelho de Viseu

 

O concelho de Viseu ainda não tem uma calculadora, por isso decidimos fazer um inquérito aos seus habitantes para termos uma ideia da situação.

O inquérito foi publicado online para que chegasse a toda a área do concelho de Viseu. Ao fim de duas semanas recolhemos os dados e concluímos que o meio de transporte escolhido pelos habitantes do concelho para se deslocarem é o automóvel, pois poucos vivem a menos de 1km do local de trabalho ou da escola.

Em casa o tipo de alimentação é variada e há um maior consumo semanal de carne do que de peixe. Apercebemo-nos que poucas pessoas adotaram uma alimentação vegan ou vegetariana.

Concluímos que, uma parte da população dos habitantes do concelho de Viseu reconhece o peso da carne de vaca para a pegada ecológica, mas a maioria dos inquiridos não demonstra qualquer conhecimento sobre o assunto, o que acaba por ser problemático.

 

 

Influência do Covid-19 no enquadramento atual

 

Acredita-se que a situação atual do COVID-19 possa ter influência nos dados da pegada ecológica do próximo ano. O COVID-19 tem causado um enorme impacto a nível mundial com a suspensão de atividades em diversos setores. O confinamento de milhares de pessoas gerou alterações no meio ambiente, como por exemplo a diminuição das emissões de poluentes como o CO2. A redução do movimento dos transportes terrestres, do tráfego aéreo, a ausência do turismo, entre outras, levou a uma gigantesca redução no consumo de combustíveis fósseis tendo tido um contributo essencial na pegada ecológica mundial. Infelizmente, estes impactos positivos não se manterão a longo prazo. Deveríamos aproveitar esta crise para alterar comportamentos ou, mais tarde, a recuperação económica poderá ser mais prejudicial.

No que diz respeito à alimentação, a meta não é ser autossuficiente, algo que seria impossível para a generalidade dos países. Mas, para a Global Footprint Network, cada nação deveria ter como guia a biocapacidade global para sustentar o consumo dos seus habitantes, que é de 1,8 hectares por pessoa.