Microplástico: O vilão “Invisível”

Sabia que uma percentagem significativa do nosso lixo é impercetível aos nossos olhos? Numa tentativa de chamar a atenção para o crescente problema dos microplásticos, no dia 2 de junho, os Jovens Repórteres para o Ambiente (JRA) realizaram uma mini-Missão de limpeza na praia dos Pescadores, na Ericeira.

A manhã iniciou-se com uma entrevista à Professora Paula Sobral, Presidente da Associação Portuguesa do Lixo Marinho

Entrevista à Presidente da APLM, Paula Sobral

(APLM), que sensibilizou os JRA para a problemática do Lixo Marinho, focando-se na temática dos microplásticos – “fragmentos de plástico e esferas de resina com tamanho inferior a 5 mm.”

Os microplásticos são resultado de um processo prolongado de exposição a radiações ultravioletas, a fatores químicos e ao

contacto com o meio. Esta fragmentação é de tal forma eficiente que produz partículas que chegam a atingir 2 µm de diâmetro. Para além do seu reduzido tamanho, que torna difícil a sua extração da natureza, estes absorvem altas quantidades de poluentes químicos que contaminam o mar, potenciando a sua dispersão na biosfera, “atuando como vetores de introdução de aditivos tóxicos e de poluentes orgânicos persistentes (POP) adsorvidos”. Este fenómeno que embora não o consigamos observar, constitui uma ameaça para as cadeias alimentares e, como consequência, para a saúde humana.

 

Quanto à sua tipologia, “os microplásticos podem ser classificados como primários e secundários.”, explica-nos a Professora Paula Sobral. Os primários são fabricados intencionalmente com dimensões reduzidas, estando presentes numa variedade de produtos como exfoliantes, enquanto que os secundários são assim classificados por resultarem da fragmentação de plásticos de maiores dimensões.

Tipos de microplásticos: a) microplásticos; b) esferovite; c) pastilhas de resina – pellets; d) esferas de exfoliante.

Praia limpa … ?

Após a entrevista, os JRA procederam à limpeza da praia dos Pescadores. Embora se tivessem deparado com uma praia aparentemente limpa, os jovens confirmaram as suspeitas levantadas pela Professora Paula Sobral, de que a praia tinha sido

À primeira vista limpa, a praia revelou múltiplas surpresas…

alvo de uma limpeza mecânica. Esta foi posta em causa após a limpeza manual dos JRA, uma vez que o processo mecânico só consegue limpar o areal até ao máximo de 2,5 cm.

À medida que se procedeu à limpeza somaram-se imensos itens de plástico, dos quais, macroplásticos, como por exemplo cotonetes, palhinhas, confettis, tampas de garrafa; e microplásticos, como fragmentos de esferovite.

A rivalizar com a quantidade de itens plástico recolhidos, encontraram-se uma grande quantidade de beatas, confirmando-se como o item número um da limpeza das praias portuguesas, segundo a APLM. Isto é reflexo, segundo a Professora Paula Sobral, “da autorização social de apagar as beatas na areia.”

Escondidos na areia, encontraram-se uma panóplia de resíduos.

A Professora Paula Sobral referiu ainda como “as principais causas do lixo marinho o consumo irresponsável, o fator social de grupo, a má gestão de resíduos e a falta de educação ambiental das populações”. Quanto ao último ponto, a Professora salientou a necessidade de sensibilizar os mais jovens para estas temáticas, pois verifica-se um desinteresse comum dos jovens quando estes atingem a adolescência. Isto pode ser potencializado por uma pressão de grupo que facilita a cegueira coletiva para ignorar as mais básicas normas ambientais e cívicas. Um último aspeto da falta de sensibilização para a temática dos resíduos é o crescente desinteresse da população. “O problema não é a falta de informação, mas sim de educação!”, reforça a Professora, explicando que a sociedade já tem bastante acesso à informação, mas não está suficientemente sensibilizada.

Confirmam-se as beatas como o número um do lixo marinho das praias portuguesas.

Carolina Mira, Joana Nunes, Vítor Silva