Mais lixo nas praias, mais despesa para os contribuintes

Costuma deixar a garrafa de água no areal? Esquece-se do saco de plástico onde levou o lanche enterrado na areia? É habitual recolher as fezes do seu animal de estimação quando vai passear com ele na praia? Ao ler estas questões é provável que se esteja a lembrar de algum episódio onde estas situações tenham ocorrido. Já parou para pensar no impacto de tudo isto no areal português e de todas as outras praias do mundo? É esse o exercício que lhe propomos.

Costuma deixar a garrafa de água no areal? Esquece-se do saco de plástico onde levou o lanche enterrado na areia? É habitual recolher as fezes do seu animal de estimação quando vai passear com ele na praia?

Ao ler estas questões é provável que se esteja a lembrar de algum episódio onde estas situações tenham ocorrido. Já parou para pensar no impacto de tudo isto no areal português e de todas as outras praias do mundo? É esse o exercício que lhe propomos.

Como vai o lixo para a praia?

Ao passearmos pelas diversas praias que existem no nosso país, verificamos rapidamente que existe uma grande quantidade e variedade de lixo nas praias portuguesas. Este é composto por plásticos, cartão, metal, vidro, excrementos, entre outros. A questão é, como é que esse lixo vai lá parar?

A verdade é que, independentemente do meio, o lixo chega às praias “pela mão do Homem”, através da atividade industrial que muitas vezes implica o envio de lixo para os rios e riachos mais próximos, chegando, consequentemente, às praias através da ondulação marinha. Para além disso, ainda existem falhas na gestão de resíduos durante a recolha, transporte, tratamento e ou eliminação, o que nos leva a pensar na questão dos aterros sanitários.

A incapacidade dos aterros para lidar com o lixo

São muitas as praias que se encontram cheias de embalagens de plástico e produtos dispensáveis que não são valorizados no seu curto ciclo de vida. Segundo a Associação Portuguesa do Lixo Marinho, “os efeitos a curto prazo das nossas ações diárias estão a tornar-se um problema a longo prazo.” Isto acontece porque todo o tipo de material que não é reciclado, acaba num aterro sanitário, correndo-se o risco dos mesmos irem parar ao oceano, através de eventos externos como cheias ou correntes de rios que mais uma vez têm como destino as nossas praias.

Qual a variedade do lixo nas nossas praias?

Segundo o Programa de Monitorização do Lixo Marinho, promovido pela Agência Portuguesa do Ambiente, tem-se verificado um aumento em todas as categorias de lixo.
A partir do início dos anos 2000, os plásticos e polistirenos eram os resíduos mais encontrados no areal, estes seguidos do papel e cartão, em oposição ao barro, à cerâmica e aos excrementos. Ao longo dos anos a quantidade de lixo encontrado nas praias tem vindo a aumentar, reforçando o facto de que a partir do ano de 2013 os valores dispararam de forma assustadora.

O que dizem as entidades competentes?

Ao falarmos com o Comandante da Capitania da Nazaré, Paulo Agostinho, percebemos que a praia nazarena não é um dos casos mais graves ao nível da poluição, no entanto, segundo as palavras do mesmo existem dois fenómenos distintos relativamente à questão do lixo, isto porque, segundo o próprio se “as pessoas aqui são capazes de deitar um plástico e alguém vê e apanha” o mesmo não acontece com a questão das fezes dos animais de estimação, pois tendo em conta as palavras do entrevistado “toda a gente vai com os cães fazer as suas necessidades à praia o que é lamentável”.
Concluímos assim que no caso especifico da praia da Nazaré, as categorias com maior percentagem de lixo, apontam para plásticos, fezes e materiais associados à atividade pesqueira.

E a opinião de quem vive junto das praias

Para além do que nos foi dito pelo Comandante, quisemos também perceber qual era a opinião dos populares sobre as categorias de lixo que mais se avistam no areal nazareno. Num total de cinco inquiridos as opiniões foram divergindo relativamente ao lixo encontrado na praia. Segundo o que nos foi dito pelo jovem João, residente da localidade, os vidros têm um lugar de destaque no lixo que o mesmo encontra. Opiniões mais abrangentes, são as da D. Matilde e do Sr. António Martins, que dizem encontrar toda a variedade de lixo, se bem que o último nomeou as fezes dos animais como algo mais frequente. Não fugindo das opiniões anteriores, o Sr. Fernando, também residente da Nazaré, indicou a presença de beatas não apagadas, de fezes de animais e de vidros.
Para contrastar com a informação anterior e indo ao encontro da opinião do Comandante falámos com o Sr. Luís que disse não encontrar lixo no areal.

Qual a raiz do problema?

Todos sabemos que o lixo nas praias tem o mais variado tipo de impacto, não só para o ambiente, mas também para a população. Tendo em conta o tipo de poluição que estamos a abordar, é normal considerarmos que os valores mais elevados se registem durante a época balnear, partilhando desta opinião o Comandante Paulo Agostinho, que, quando confrontado com a questão, refere que a altura do ano em que este fenómeno é mais acentuado é “na época balnear, quando a praia é frequentada por muitas mais pessoas.”

De uma forma mais concreta, os diferentes impactos causados pelo lixo presente nas praias, abrange as mais diversas áreas, tais como a saúde, o turismo ou os gastos implicados pela manutenção das praias.

Faz a poluição das praias mal à saúde?

O vidro partido ou metal enferrujado no areal, assim como lixo médico (tal como seringas, pensos, entre outros), representa, sem dúvida, um fator de perigo, pelo seu potencial como fonte de transmissão de doenças infecciosas, ou apenas, como um possível perigo associado a pequenas lesões. A mesma opinião é partilhada pelo Comandante Paulo Agostinho, que menciona a questão da saúde como um dos principais problemas gerados pelo lixo, quando o questionado sobre quais seriam os principais problemas provocados pelo mesmo.

Mais turistas é sinal de mais lixo

Relativamente ao turismo, concluímos que as praias com lixo não atraem turistas, mas os turistas atraem lixo. Não é ao acaso que os maiores níveis de poluição se registam na época balnear, devido a uma maior movimentação no areal, o que se traduz automaticamente numa maior quantidade de lixo, provocado por atividades da população que, ao realizar determinadas refeições, como por exemplo, almoço ou lanche, não têm o cuidado de transportar o lixo produzido para o contentor mais próximo. Sem dúvida que a limpeza das praias depende de todos nós e todos têm que perceber que uma ida à praia deve ser feita com responsabilidade, pois se a praia é de todos, deve ser protegida por todos.

Poderá o lixo na praia influenciar a economia?

É quase impossível falarmos na recolha de lixo que é feita nas praias, sem pensarmos em quem a faz, nomeadamente, as autoridades locais, e nos aspetos económicos que englobam.

Segundo o que nos foi dito, pelo Comandante Paulo Agostinho, percebemos que a Polícia Marítima, tem um papel bastante ativo no que diz respeito à vigilância das praias, tendo em conta que os agentes atuam “presencialmente na praia a “passear” junto à água, a falar com as pessoas, numa cultura de proximidade junto das mesmas” o que contribui para uma sensibilização e adoção de “comportamentos menos próprios”.

A mesma opinião não é partilhada pela amostra de população inquirida, tendo em conta que exemplos como o Sr. António Martins referiram não ver nenhum elemento da Polícia Marítima no local.

Neste sentido o Estado acaba por ter encargos económicos não só com o facto de haver a necessidade de possuir um número de agentes suficientes para fazer essa vigilância, como também funcionários da Câmara que vão fazer a recolha do lixo.

Relativamente, ao papel desempenhado pela Câmara Municipal da Nazaré nesta luta contra o lixo, os inquiridos demonstraram opiniões contraditórias, pois enquanto o Sr. Fernando nos dava uma perspetiva mais negativa, mencionando que em tempo existia “uma data de senhoras a limpar”, e que agora não vê isso, vendo sim um trator a virar a areia e a revirar, ficando, no entanto, o lixo no areal. O Sr. António Martins sublinhou, no entanto, “alguma regularidade nos trabalhos efetuados pela Câmara.”

Como diminuir a percentagem de lixo existente nas praias?      

Chegamos assim, à parte mais importante da nossa reportagem, onde colocamos a questão, o que fazer para diminuir a percentagem de lixo que chega às praias?

Como era de esperar, colocámos algumas questões ao Comandante Paulo Agostinho, para tentarmos encontrar uma solução para o problema, onde o mesmo referiu a importância do “Estado da ajuda na sensibilização das pessoas”, considerando isto como “fundamental”. Para chegar às pessoas, por exemplo, deve-se passar nas escolas para sensibilizar as pessoas para as questões e difundir isso junto de outros e muitas vezes dando o exemplo.”. Conseguimos perceber também através da mesma fonte que durante o Verão as praias são “patrulhadas… diariamente.”.

Com o objetivo de combater esta causa encontrámos algumas associações, como a Associação Portuguesa do Lixo Marinho, que é composta por uma equipa de investigadores do IMAR, que se localiza na Universidade Nova de Lisboa, embora esteja mais direcionada para o lixo existente nos oceanos não deixa de ter uma preocupação para com o que chega às nossas praias, até porque o que aparece no areal é um espelho do que acontece no mar.
Acabam então por realizar eventos de sensibilização perante a sociedade, envolvendo a temática da educação ambiental. Para além disso tem também parcerias com diferentes setores da sociedade. Este é apenas um exemplo de que na nossa sociedade existem pessoas preocupadas com o meio ambiente, mas verdade seja dita, este tipo de associações não conseguem fazer tudo sozinhas e é aqui que nós entramos, pois juntos temos de conseguir fazer pelas nossas praias e principalmente pelo nosso mundo, fazendo do mesmo um lugar melhor.