Delfinário: individualidade em primeiro lugar

O delfinário do Jardim Zoológico de Lisboa possui 5 golfinhos e 4 leões-marinhos.Os golfinhos adultos medem entre 1.90m e 3.90m de comprimento e pesam entre 150 kg e 650 kg, sendo que a língua de uma cria apresenta vilosidades para captar mais facilmente o leite materno. Até aos 6 meses, estes animais alimentam-se exclusivamente através da amamentação. Na natureza, vivem dependentes da mãe até aos três anos de idade, continuando, no entanto, a viver em bandos com a progenitora, ao longo da sua vida.

Delfinário do Jardim Zoológico de Lisboa

Delfinário do Jardim Zoológico de Lisboa

Apresentam dimorfismo sexual e a distinção entre sexos efetua-se a partir do número de fendas dos indivíduos: os machos possuem uma fenda genital e uma fenda anal de menores dimensões, enquanto que as fêmeas têm uma fenda genital e duas fendas mamárias. É de notar que todos os órgãos dos golfinhos são internos de modo a tornar o seu corpo mais hidrodinâmico.

O conceito de rete mirabile foi, metaforicamente, associado por Arlete Sogorb, médica veterinária do Jardim Zoológico de Lisboa há 27 anos, a uma esponja situada na coluna vertebral de alguns vertebrados, que absorve o sangue para órgãos, como o cérebro e o coração, contribuindo para a sobrevivência dos golfinhos quando entram em anaerobiose a profundidades elevadas.

Os golfinhos alimentam-se de peixes pequenos com coluna vertebral frágil para facilitar a digestão, destacando-se o arenque, a lula, o polvo e o carapau. Estes animais possuem três estômagos com funções distintas: o primeiro encarregue da digestão mecânica e do armazenamento; o segundo possui suco gástrico e enzimas, assegurando a digestão química; o terceiro é um somente um órgão vestigial. É de referir que o segundo estômago contém válvulas para impedir a entrada de corpos estranhos, nomeadamente aquando da ingestão de microplásticos resultantes da poluição marítima.

Curiosamente, os golfinhos não podem sofrer intervenções cirúrgicas, na medida em que nestes seres o controlo respiratório é consciente e a sedação retira-lhes essa capacidade. Além disso, é impossível entubá-los devido à posição do orifício respiratório sobre à cabeça e à consequente disposição da traqueia em “L”.

Assim sendo, no delfinário do Jardim Zoológico de Lisboa é privilegiada a prática da medicina preventiva, através de análises de rotina de sangue, leite, fezes, urina e saliva. A médica veterinária frisou este método, declarando que “os animais raramente têm problemas, porque nós (veterinários e tratadores) nos adiantamos (…) os golfinhos quase nunca têm sintomas”.

Se o animal se mostrar agitado aquando da realização das colheitas fisiológicas, é transferido para a piscina médica. Esta piscina possui um fundo falso que é elevado com uma grua, permitindo, assim, aos veterinários e tratadores assistir os animais. Enquanto um indivíduo recebe determinado tratamento, nomeadamente a inalação, os outros têm de ser controlados pelos tratadores de modo a garantir a eficácia do procedimento médico.

Os golfinhos são conhecidos por serem animais dóceis, contudo, apresentam sinais pré-agressivos que permitem identificar o seu estado de espírito, incluindo morder as mandíbulas e bater a cauda, como sublinhou a tratadora Mafalda Gonçalves. Tanto a mesma entrevistada como os tratadores Diogo Santos e Valter Elias apontam a confiança como um elemento-chave para lidar com os golfinhos, realçando como o processo de treino dos golfinhos e leões marinhos é demorado.

Vários golfinhos são mandados para outro jardim zoológico com o objetivo de impedir a consanguinidade, sendo a inseminação artificial um processo já estudado de forma profunda nos golfinhos. Com o mesmo objetivo, os leões-marinho macho e fêmea são separados no delfinário. Relativamente à reintrodução destes seres no habitat natural, Arlete Sogorb referiu que ”dificilmente golfinhos nascidos em cativeiro sobreviveriam na natureza”. O enriquecimento ocupacional nestes animais é conseguido através de brinquedos seguros sempre sob a supervisão dos treinadores.

O delfinário do Jardim Zoológico de Lisboa, apesar de não ser um centro de investigação, participa em diversos projetos científicos através tanto do estudo de casos clínicos como de parcerias com outras equipas nacionais e internacionais.

A médica veterinária entrevistada declarou ainda que “a sequência na apresentação na Baía dos Golfinhos está adaptada a cada indivíduo”, constituindo os estímulos e os sinais manuais um dos métodos mais eficientes para cativar os animais.

Valter Elias reforçou durante a sua entrevista a necessidade de conservação do ambiente e do combate à poluição marítima, afirmando que “cada animal no delfinário é tratado não enquanto membro de uma espécie, porém enquanto um único indivíduo”.

André Campos, Leonor Mendes , Manuel Farias , Maria Carreira, Marisa Silva, Rita Simões