Ambiente e diversão podem ser duas faces do mesmo festival

Ambiente e diversão podem ser duas faces do mesmo festival

Entrevista a Dora Palma

 

Quais as principais preocupações do Rock In Rio (RIR) com o ambiente?

Uma delas prende-se com a deslocação do público, por isso nós fazemos acordos com todas as transportadoras públicas, este ano o metro “roeu-nos a corda”, mas arranjámos uma alternativa com a Carris e correu muito bem.

A deslocação do público é uma das preocupações porque a pegada carbónica que nós compensamos, está associada à deslocação do público e por isso fazemos diversos acordos com os transportes públicos, temos por exemplo o Rock Card com a CP.

Mas fazemos parcerias também com empresas privadas, por exemplo, com a Agência Abreu, assim eles vendem bilhetes com o do RIR incluído e isso permite que as pessoas venham de fora de Lisboa.

Outra das nossas preocupações está relacionada com os comportamentos, com a alteração dos nossos fornecedores e também dos nossos. Tentamos ter uma atitude o mais sustentável possível.

No fundo prende-se um bocadinho com tudo isto, demonstrar através da prática, dando o exemplo, que é possível implementar no nosso dia-a-dia pequenas diferenças de comportamento que depois vão ter impacto significativo.

O que levou à escolha deste local para o RIR?

Quando Roberta Medina, Vice-presidente Executiva da Direção do RIR, chegou a Portugal à procura de um sítio para fazer o RIR falou com a Câmara Municipal de Lisboa. O ideal seria que o evento tivesse lugar na capital e este foi um dos sítios sugeridos.

Na altura nada indicava que se iria tornar neste parque maravilhoso, era uma zona de matagal e implicou uma série de trabalhos para ficar apto para as pessoas poderem entrar e desfrutar, não só nos dias de evento.

Mas no fundo, a escolha teve a ver com a localização e a beleza natural do parque. Hoje está naturalmente bonito, e se forem a alguns locais mais altos tem uma vista privilegiada sobre o aeroporto ou sobre o rio.

A escolha do local está diretamente relacionada com as preocupações ambientais assumidas pelo RIR?

Na altura provavelmente não só. Por vezes o primeiro pensamento não está relacionado com o ambiente mas sim com algumas questões de logística que depois acabam por ter impacto na questão ambiental.

Por exemplo, o facto de estar muito perto do aeroporto permite que baste às pessoas que vêm de fora apanhar um autocarro e chegar ao parque, o facto de termos o metro aqui em baixo também facilita.

Portanto, na altura a escolha teve a ver com o facto de ser um local de fácil acesso e bonito, o que depois tem impacto no ambiente.

E essa é a visão importante, as pessoas não precisam de estar muito focadas nas questões ambientais mas sim perceber que as várias opções que tomam vão ter impactos negativos ou positivos. Pretendemos contrariar a ideia que pensar nos impactos ambientais torna as coisas mais complicadas ou mais caras, na nossa visão tentamos perceber quais são as nossas limitações, aquilo a que somos obrigados e perceber o que podemos melhorar em termos ambientai.

Para próximas edições, já existem ideias para parques e diversões com materiais recicláveis?

Isso é sempre muito difícil. Em 2010 fizemos um levantamento das estruturas, aquilo que mais consumimos é relva sintética, alcatifa e estruturas metálicas.

De 2010 para 2012 fizemos um levantamento de materiais mais ecológicos e sustentáveis.

Em relação às estruturas metálicas, concluímos que elas vem todas da siderurgia, onde já mais de 50% das matérias primas são recicladas, por isso não há mais nada que possamos fazer.

No que diz respeito à alcatifa, tínhamos um fornecedor que apresentava uma opção mais sustentável, mas vinha de fora de Portugal. Nestas questões temos de equacionar duas coisas, primeiro a pegada carbónica da deslocação da alcatifa até aqui, segundo temos de nos preocupar em estimular a economia nacional. O mesmo em relação à relva.

Tentamos sempre casar os três pilares da sustentabilidade, social, ambiental e económica.

Em relação às diversões é muito difícil ter opções sustentáveis. Este ano estamos a tentar implementar algumas alterações no mercado, nos fornecedores, na nossa cadeia de valores e é complicado porque se não têm para nos oferecer, nos não conseguimos comprar.

Existem algumas coisas sustentáveis, por exemplo, pessoas que vão pedalar para fazer girar a roda gigante, no entanto não é tao linear assim, as pessoas estão a pedalar, mas não estão a fazer girar a roda gigante, estão a contribuir para a energia necessária para fazer girar a roda gigante, mas não é suficiente.

Em que medida é que se pode considerar sustentável o facto de haver tanta distribuição de brindes?

É uma questão pertinente. Nós temos um plano de sustentabilidade que distribuímos pelos nossos fornecedores, pelos nossos parceiros, que pomos juntamente com os contratos que assinamos com eles. Nos contratos existe uma cláusula onde eles se comprometem a fazer esforços no sentido de implementar um maior numero de medidas daquelas que sugerimos no plano de sustentabilidade, mas nos não conseguimos proibi-los.

Nós tentamos intervir naquilo que eles escolhem, para além da sustentabilidade na construção do próprio brinquedo, dos materiais que implicam, das formas de construção de produção do brinde, tentamos também que seja útil, que não seja uma coisa que vá para o chão ou que não sirva para nada.

Mas temos alguma limitações, nós não podemos obriga-los a escolher aquilo que nós queremos. Inclusivamente fazemos uma lista de brindes que consideramos sustentáveis e enviamos para os parceiros como alternativas, mas a partir dai não temos poder sobre o que vai ser distribuído. A organização não distribui nada e proibimos, por exemplo, a distribuição de folhetos, porque temos a certeza que vão para o chão. Nisso somos intransigentes, mas em relação aos brindes que distribuem perdemos um bocadinho o controlo, mas tentamos sensibilizá-los.