A “ondulação” da orla costeira de Gaia

A orla costeira de Vila Nova de Gaia tem sido alvo de sucessivas e onerosas intervenções de requalificação e não menos frequentes destruições provocadas pelo mar, situação que se tem agravado nos últimos anos, fruto de intempéries que se têm abatido sobre a costa portuguesa. Entre estas, merece destaque a tempestade Hércules que, em janeiro de 2014, provocou avultados danos. Neste jogo de forças entre o Homem e o mar, resta saber quem determinará a configuração do litoral nos anos vindouros.

 

O concelho de Vila Nova de Gaia, pertencente ao distrito do Porto, fica situado na margem esquerda do rio Douro, em frente à cidade do Porto. Possui uma extensa marginal fluvial e uma faixa litoral, com cerca de 15 km de comprimento. A história do concelho testemunha uma estreita ligação ao mar, que se tem mantido até aos dias de hoje. No entanto, se outrora dominavam as atividades ligadas à pesca, atualmente são o turismo e o lazer urbano que predominam. Para tal, muito contribuíram os investimentos da Autarquia nas últimas décadas, designadamente a demolição de construções clandestinas, a construções de passadiços elevados de forma a permitir a circulação da areia e o crescimento das plantas, e paliçadas para proteção do cordão dunar, a limpeza e requalificação das ribeiras que desaguam no mar, a criação de extensa ciclovia e passeio marginal, o recuo da estrada face à praia, entre outras. Fruto destas intervenções, na época balnear de 2014, 18 zonas balneares de Vila Nova de Gaia, correspondendo a 28 praias concessionadas, num total de 15 quilómetros, foram distinguidas com o galardão da Bandeira Azul, resultado do cumprimento de todos os requisitos impostos pela Associação Bandeira Azul, que incluem aspetos como a educação ambiental, a qualidade da água balnear, a gestão da zona balnear, serviços e segurança, tornando possível a coexistência do desenvolvimento do turismo a par do respeito pelo ambiente.

 Praias galardoadas com Bandeira Azul, em Vila Nova de Gaia – 2014

Fonte: https://bandeiraazul.abaae.pt/

Fonte: https://bandeiraazul.abaae.pt/

No entanto, paralelamente às inúmeras e onerosas intervenções na orla costeira, o mar continua a exercer a sua ação e a causar danos ciclicamente, sobretudo durante o inverno. Nos primeiros dias de janeiro de 2014, por exemplo, as condições meteorológicas criaram forte agitação marítima em Portugal. Este estado do tempo foi causado pela tempestade Hércules, um forte sistema de baixas pressões que atravessou o Atlântico, provocando ondas de grande dimensão que atingiram Portugal e outros países europeus, que causaram estragos em muros, estradas, restaurantes e passadiços, como aconteceu em Vila Nova de Gaia.

Após pesquisarmos imagens que documentassem alguns dos estragos causados pela tempestade Hércules, dirigimo-nos aos locais, para verificar o estado em que se encontram atualmente.

Fonte: http://goo.gl/b9cCZt

Fonte: http://goo.gl/b9cCZt

Foto tirada por: João Correia em março de 2015

Foto tirada por: João Correia em março de 2015

 

 

 

 

 

 

À esquerda vemos os estragos causados pela tempestade Hércules nos passadiços da Avenida Beira-Mar e à direita observamos o passadiço já reconstruído.

Fonte: http://goo.gl/NiG3iB

Fonte: http://goo.gl/NiG3iB

Foto tirada por: João Correia em março de 2015

Foto tirada por: João Correia em março de 2015

 

 

 

 

 

 

À esquerda observa-se os passadiços na praia da Aguda destruídos depois da tempestade Hércules e à direita o passadiço já reconstruído em março de 2015.

Estes exemplos mostram como a ação do mar é imparável e a principal solução passa pelo recuo das estruturas de apoio. De facto, constatamos que os passadiços de madeira foram repostos e, em alguns casos, redesenhados para que caso estes acontecimentos se repetissem, causassem menos danos. Os passadiços são muito importantes para manter as dunas, que são o refúgio de vegetação peculiar que fixa a areia e impede que a duna se destrua e que o mar avance. As dunas são um ecossistema muito frágil: qualquer agressão pode, com frequência, causar a morte das plantas que nelas habitam e que permitem fixar as areias.

Para sabermos se a requalificação da orla costeira trouxe vantagens aos proprietários de bares de praia, questionamos alguns deles. Relativamente às melhorias que a requalificação de orla costeira de Gaia trouxe às praias e aos bares, a maioria achou que esta requalificação atraiu mais clientela aos bares, gerando maior lucro. No entanto, alguns proprietários pensam que foi dinheiro mal gasto, pois prejudicou a praia e a proteção das dunas.

Todos os proprietários tiveram a mesma opinião em relação ao avanço do mar, achando que este avanço será prejudicial aos seus estabelecimentos. Na opinião dos proprietários, as sugestões para prevenir o avanço do mar foram diversas: alguns defenderam a colocação de barreiras artificiais, embora o elevado custo das mesmas seja um obstáculo, enquanto outros pensam que sensibilizar as pessoas para a conservação das barreiras naturais como as dunas é a melhor solução.

Na verdade, o que se constata é que a Autarquia tem investido avultadas quantias na instalação de estruturas de apoio e requalificação de arruamentos ao longo da faixa litoral e todos os anos tem de despender verbas na sua recuperação. Em declarações à agência Lusa, em finais de fevereiro deste ano, o presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, referiu que “É precisa uma atenção redobrada a esta zona do litoral porque a situação começa a ser insuportável. Nós fazemos obra, vem um temporal e destrói, fazemos outra vez e destrói outra vez”, defendendo a realização de obras mais estruturadas e “pesadas financeiramente” e lembrando que, após as intempéries de 2014, a câmara investiu cerca de 700 mil euros em passadiços já danificados.[1]

Perante esta realidade e as previsões futuras relativas à subida do nível médio das águas do mar, bem como ao aumento da ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos, em consequência das alterações climáticas, impõe-se uma séria reflexão relativamente à ocupação do litoral. Neste permanente “braço de ferro” entre o Homem e o mar, o recuo das edificações e arruamentos, a par da indispensável proteção do sensível cordão dunar, poderão ser as medidas mais eficazes e, porventura, as que representam menores custos económicos e, sobretudo, ambientais.

[1] Fonte: http://goo.gl/6uvMrw (consultado em 2015-03-27)

ESCOLA SECUNDÁRIA ALMEIDA GARRETT – VILA NOVA DE GAIA – PORTUGAL

André Rodrigues Marques – 14 anos – 8ºE

Diogo José Lopes Freitas – 14 anos – 8ºE

João Pedro Macedo Correia – 14 anos – 8ºE

País de residência e naturalidade – Portugal – 8ºE

Divulgação do trabalho – Jornal da Escola; apresentação à Comunidade Educativa em LCD.

[1] Fonte: http://goo.gl/6uvMrw (consultado em 2015-03-27)

André Rodrigues Marques, Diogo José Lopes Freitas, João Pedro Macedo Correia