Alqueva: uma paisagem de contrassensos

A Empresa de Desenvolvimento e Infra estruturas do Alqueva – EDIA foi criada em 1995 para o acompanhamento da construção da barragem que permite regar 120 mil hectares e fornecer água a treze municípios: Aljustrel, Alvito, Beja, Cuba, Évora, Mértola, Moura, Mourão, Portel, Redondo, Serpa, Viana do Alentejo e Vidigueira. A Albufeira do Alqueva constitui o maior lago artificial da europa com 250 quilómetros quadrados e cerca de 1.160 quilómetros de margens.

 

A região do Alentejo representa cerca de um terço do território de Portugal, onde o Sistema Global da Rega de Alqueva é constituído por sessenta e nove barragens, entre as quais se destaca o subsistema do Alqueva, com uma quota de 152 metros. “Temos garantia de água para 4 anos de seca” refere Carlos Silva, responsável pelo departamento de comunicação da EDIA.

Contudo, de acordo com Carlos Cruz, ambientalista, “O Alqueva deveria ter uma menor dimensão e uma quota, se calhar, mesmo inferior a 139 m”, acrescentando que, “O problema do Alqueva é que tem uma dimensão disparatada”. É de frisar que foi apresentada à população da aldeia da Luz, aquando da edificação da barragem, a possibilidade de construção de diques ou em alternativa a reconstrução da aldeia noutro local, para que não ficasse submersa.

 

Barragem do Alqueva_JRA

A Barragem de Alqueva tem capacidade para bombear cerca de 42 m3/s de água.

Quando questionado acerca da construção da barragem, a fonte da EDIA sublinha “…ao optar por uma quota mais baixa, os impactos duplicariam, pois teriam de intervir novamente, o que não compensava gastar tanto dinheiro, para uma altura de água tão pequena”, uma vez que se “perderia a reserva estratégica de água e a produção de energia elétrica”.

Carlos Silva reforça ainda com confiança, “Temos garantia de água para 4 anos de seca”.

Por outro lado, Carlos Cruz mostra indignação e refuta “Era preciso haver 5 ou 6 anos de seca e é óbvio que nem o Alqueva consegue suportar essa situação…”.

Apesar do representante da EDIA afirmar que “nunca nenhum regadio público teve uma adesão tão grande como o Alqueva” e evidenciar todas as vantagens para a população envolvente, destacando o acesso a um sistema de regadio, Carlos Cruz defende que a produção de energia elétrica constitui a única vantagem desta obra.

Além disso, Carlos Silva e Rita Azedo bióloga na mesma entidade, evidenciam os benefícios da construção da barragem do Alqueva e algumas preocupações na conservação da biodiversidade e do ecossistema florestal. Assim, revelam que esta nova obra tornou possível, por exemplo, a produção de pera rocha no Alentejo e a sua colheita duas a três semanas antes da época comum, o que, por sua vez, representa um maior lucro para a região. Deste modo, destacam algumas atividades de minimização de impactos no ecossistema como: a transladação de oliveiras; a monitorização de pássaros e flora; a construção de cercas, passagens e elevadores para peixes para diminuir a taxa de mortalidade dos animais que contactam com a barragem e construção de canais que permitem a conectividade entre ecossistemas; a reintrodução do lince e de outras espécies; a elaboração de projetos de conservação ex-
situ; e a tentativa de fazer com que a águia pesqueira crie ninhos nesta zona.

Face a estas medidas, Carlos Cruz contesta: “a águia pesqueira é cosmopolita, ou seja, existe um pouco em todo o lado e em todo o mundo”.

O ambientalista entrevistado, afirma convictamente “nenhum país pode afirmar que a Albufeira de Alqueva é uma reserva de água, pois o rio Guadiana nasce em Espanha. Por isso, aquilo é uma reserva de água nacional enquanto os espanhóis quiserem.” Paradoxalmente, Carlos Silva refere que dos cerca de 3000 clientes da EDIA, 93 são espanhóis, rematando “Isto desmistifica o que se costuma dizer que é dos espanhóis”.

A construção de Alqueva é uma temática controversa quer a nível nacional quer a nível regional. Por um lado, pessoal diretamente ligado à construção da barragem, como Carlos Silva defende que “Se há situações que não foram compensadas, não foi por má vontade da EDIA, revelando que por cada euro investido pelo Estado, existe um retorno de 4.5 euros”. Por outro lado, moradores da aldeia da Luz e ambientalistas, como Carlos Cruz, descrevem a obra como um “crime ambiental” e reivindicam que “para os alentejanos não houve benefícios nenhuns”. Será possível a existência de um ponto de equilíbrio entre ambas as perspetivas ou será esta uma situação exclusivamente benéfica para os investidores económicos do projeto?

 

Grupo 1- Maria Carreira, Inês Matos, Pedro Charrua e Manuel Farias.

Maria Carreira, Inês Matos, Pedro Charrua, Manuel Farias